O festival Rock in Rio surgiu no Brasil, em 1985, realizando-se alguns anos depois, em 2004, em Portugal. Uma das grandes preocupações, desde a primeira edição, foi a sustentabilidade, que envolve as vertentes social, económica e ambiental e que se enquadra no projeto: “Por um Mundo Melhor”.
Em Lisboa, a organização do festival aposta, desde o primeiro momento, na vertente social, apoiando projetos que privilegiam a cooperação, desenvolvimento e inclusão. Em 2004, foram angariados mais de 600 000€ para a “Plan International-Childreach”, uma organização internacional que se foca na promoção da igualdade de género. Desde aí, todas as edições contaram com diversos parceiros sociais, em projetos que ajudam estratos sociais mais carenciados a alcançar sucesso em determinadas áreas, através da angariação de fundos e posterior distribuição.
Segundo Roberta Medina, só em 2006 é que a organização do festival apostou em medidas de caráter ambiental. A partir deste ano e em todas as edições, o festival passou a ser neutro em emissões de carbono, implementadas medidas dirigidas tanto aos visitantes, como a parceiros e patrocinadores.
Mudança de localização e novas soluções de mobilidade
Nesta 10.ª edição, a maior mudança é a alteração do local de realização do festival. Pela primeira vez, o Rock in Rio Lisboa não decorre no Parque da Bela Vista, em Chelas, mas sim no Parque Tejo, entre o Parque das Nações e a Foz do Trancão. Esta alteração deveu-se, segundo Roberta Medina, a um convite da Câmara Municipal de Lisboa para a ocupação do espaço depois da Jornada Mundial da Juventude. Uma mudança que traz novos desafios, nomeadamente ao nível da mobilidade.
Este ano, foram criados shuttles de ligação entre a Gare do Oriente e a entrada do festival, com um custo associado. Quem utilizar este modo de transporte, pode receber uma senha para levantamento gratuito de copo reutilizável a ser usado em todos os espaços e stands do Rock in Rio Lisboa.
No Parque Tejo, são esperadas cerca de 200 pessoas com mobilidade reduzida por dia. A acessibilidade para todos é por isso uma preocupação constante e crescente. Este ano, para além do acesso ao Palco Mundo, as pessoas com mobilidade condicionada e acompanhantes têm plataformas próprias para assistir aos concertos e acesso dedicado a todos palcos. Contudo, o acesso aos stands é ainda uma dificuldade, cabendo ao parceiro/patrocinador criar condições para que estas pessoas consigam aceder e circular no seu interior. Poucos são os parceiros que possuem rampas
Novos projetos sociais
Uma das novidades desta 10ª Edição é o reaproveitamento da cobertura do altar-palco da Jornada Mundial da Juventude 2023, que motivou a criação do espaço All in Rio, um local dedicado à união das comunidades, das pessoas e das religiões. Este local procura passar a mensagem da diversidade, inclusividade e esperança num futuro melhor, fortalecendo a ligação entre a música, as emoções e a religião. Decorado com ilustrações de diversos artistas, neste espaço é possível viver uma experiência imersiva e sensorial e ainda receber pulseiras colecionáveis sob o mote “All for”, com frases inspiradoras associadas aos oito pilares deste movimento: “All for Planet” (clima); “All for Peace” (paz); “All for Respect” (respeito/migração); “All for Love” (pobreza/dignidade); “All for Rights”; “All for Education”; “All for Dreams” (empreendedorismo/prosperidade) e “All for the Future” (consumo e produção sustentável). Cada um destes pilares está associado a uma Organização Não Governamental que trabalha o respetivo tema no seu dia a dia.
A sustentabilidade no festival
O uso de confettis feitos de papel de arroz nos espetáculos musicais é outra novidade da 10.ª edição do festival. As especificidades do local onde se encontra o recinto, em particular a proximidade ao rio Tejo, obrigam a medidas adicionais que evitem a poluição do rio e da sua biodiversidade marinha. Neste sentido, a opção pela utilização de confettis biodegradáveis, feitos de arroz e solúveis em água não só não polui o ambiente, como pode ainda servir de alimento para as espécies marinhas do Estuário do Tejo.
Num festival em que se pretende menos desperdício e mais reutilização, o incentivo à utilização de copos reutilizáveis é uma medida que se tem demonstrado eficaz nas edições anteriores e que será para continuar. Já a reutilização das caixas de pizza, mesmo com gordura na caixa e no papel, são uma inovação desta edição. A gordura da embalagem não inviabiliza a sua reciclagem, pelo que já é possível separar e encaminhar este tipo de resíduo, colocando-o no ecoponto azul.
Todas as medidas sustentáveis adotadas, a nível ambiental, económico e social, fizeram com que o Rock in Rio Lisboa recebesse, desde 2013, a certificação ISO 20121 atribuída pela APCER – Associação Portuguesa de Certificação. Segundo Roberta Medina, esta certificação traz impactos muito positivos, pois “obriga a evoluir” e a procurar sempre novas medidas sustentáveis. Ainda que sejam muitas as medidas já implementadas, há um longo caminho a percorrer no sentido de tornar este evento ainda mais sustentável. O investimento em capacitação e formação de todos os envolvidos na preparação, organização e apoio ao festival – staff, entidades parceiras, patrocinadores, voluntários, técnicos e operacionais – e a criação de incentivos para as empresas mais sustentáveis, é fundamental para que o festival seja ”um laboratório social” amigo do ambiente.
Após 20 anos da chegada do Rock in Rio a Lisboa, ainda há vários parceiros a utilizar purpurinas e outros produtos que utilizam microplásticos nas suas atividades com o público. Cabe à organização selecionar os parceiros que estão em linha com a sua política de sustentabilidade e aprovar todos os materiais utilizados. Será que isso está a acontecer?
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