A caminho da nova Cidade do Rock

A alteração do local do Rock in Rio Lisboa para o Parque Tejo obrigou a organização a repensar o seu plano de mobilidade. Os incentivos para utilizar os transportes públicos são muitos, mas têm-se verificado alguns problemas.

Num festival que acolheu cerca de 80 000 visitantes por dia e que contou com vários dias de lotação esgotada, a mobilidade tornou-se um grande desafio a ultrapassar. O uso de transportes individuais, como o carro, TVDE ou Táxi foi fortemente desaconselhado pela organização, que mais uma vez promoveu diversas campanhas de promoção da utilização dos transportes públicos. Este ano estabeleceu parcerias e acordos com empresas como a Comboios de Portugal, o Metro de Lisboa, a Rede Expressos, a FlixBus, a Gipsyy e a rede de parques de estacionamento TelPark.

A estação de comboios mais próxima do Parque Tejo fica em Sacavém e está a 7 minutos a pé do recinto. Nesta estação, a CP reforça, nos dias de festival, os serviços noturnos habituais das 0h00m à 1h30m, exceto no dia 23 de junho, em que este serviço termina às 2h30m. Contudo, a ida para o festival, durante a tarde, pode revelar-se um desafio para os festivaleiros que optarem por este meio de transporte. Durante a tarde do primeiro dia de evento, na estação Lisboa-Oriente, eram muitos os que esperavam na plataforma, pelo comboio com destino à Azambuja. A CP não reforçou a oferta nestes horários, pelo que a frequência é de um comboio por hora, devido ao horário reduzido de fim de semana. Para além disso, os comboios circulavam apenas com 4 carruagens, em vez das habituais 8 (que circulam durante a semana), nos dias em que a procura é mais elevada, o que levou a sucessivos atrasos nas deslocações. Nas entradas e saídas do recinto e nos pontos de maior movimentação de pessoas, estavam disponíveis voluntários a dar indicações sobre horários e plataformas. Os serviços de médio e longo curso da CP também foram reforçados, com um comboio Regional para o Entroncamento e com um comboio Intercidades para o Porto, que não efetua paragem em Sacavém.

As parcerias com transportadoras de longo curso em autocarro ofereceram descontos e os horários nos serviços para Lisboa foram reforçados. Clientes da Rede Expressos e da Flixbus beneficiaram de um desconto de 25% sobre o preço normal, enquanto que a Gipsyy ofereceu um desconto de 20%. Após o horário dos concertos, estavam disponíveis várias partidas.

Outra das opções para chegar ao recinto é o Shuttle, que liga a estação do Oriente ao recinto do festival por 1€ ida e volta, se for feita compra antecipada ou 2€ ida e volta se a compra for feita no momento. Apesar das partidas se efetuarem com regularidade, há muitos visitantes que relatam uma espera de cerca de uma hora para entrar num autocarro e uma viagem de cerca de 20 minutos para chegar ao recinto, devido ao trânsito que se fez sentir. Acresce ainda a dificuldade de circulação, devido à existência de carros mal estacionados ao longo do percurso. Em condições normais, a viagem seria feita em cerca de 8 minutos, o que permitiria aos Shuttles circular com a frequência desejada e dentro dos horários previstos.

O Metro de Lisboa também reforçou a oferta habitual. Nas madrugadas que sucedem o evento, todas as estações da linha vermelha circulavam até às 2h30m, exceto as estações da Bela Vista, Olaias e Encarnação. É esta linha que passa na Gare do Oriente, o local onde chega o Shuttle e o comboio que estabelece ligação a Sacavém.

Com todas as opções disponíveis, foram ainda muitos os visitantes que utilizaram transportes individuais em alguma parte do percurso. Em vários casos, os visitantes deslocaram-se para Lisboa de carro, tendo estacionado num dos parques disponíveis e, posteriormente, embarcaram no Shuttle até ao recinto. Outros visitantes escolheram estacionar o carro nas ruas adjacentes e andar a pé durante cerca de 15 minutos. Há ainda pessoas que fazem o percurso completo a pé desde a Gare do Oriente, que chega a demorar 45 minutos. Os visitantes que optaram por chegar ou sair através dos TVDE tiveram dificuldades nas suas deslocações, devido ao corte e condicionamentos das estradas de acesso ao recinto, ausência de checkpoints para recolha de passageiros e inexistência de indicações úteis no website e aplicação móvel do festival. A falta de informação disponível sobre os percursos e acessos, conduziu a que esta opção de transporte se tenha revelado pouco cómoda e eficiente.

As opções de mobilidade no RiR Lisboa são variadas e um convite a todos para adotarem uma mobilidade sustentável, assente na utilização do transporte público. Estas opções permitem reduzir congestionamentos e dificuldades de estacionamento, assim como de trânsito. Contudo, são visíveis dificuldades na operacionalização de serviços como o Shuttle e a TVDE, que obrigam a repensar procedimentos e estratégias de comunicação em edições futuras.

João Pedro Costa, Francisco Nascimento, Gustavo Santos