Açores: O Encontro de Placas Tectónicas e a Doçura do Ananás

Um Puzzle Geológico no Meio do Atlântico Imagine um lugar onde três placas tectónicas se encontram como peças de um puzzle gigante: a Euroasiática, a Norte-Americana e a Microplaca dos Açores. Os Açores não são apenas um paraíso de paisagens verdejantes e mar azul — são também um dos locais onde a Terra revela a sua força primordial.

O fundo do oceano está em constante movimento devido ao rifte da Crista Médio-Atlântica, que atravessa as ilhas. Este rifte é um limite divergente, e Corvo e Flores, por exemplo, estão a afastar-se lentamente das restantes ilhas do arquipélago.

Ao todo, existem 26 sistemas vulcânicos ativos nos Açores, e desde o ano 1500 já se registaram 28 erupções. Os vulcões das Sete Cidades e do Fogo são conhecidos pelas suas erupções explosivas, que marcaram a paisagem e a história da região.

É aqui que entra o CIVISA, o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores. A sua missão é monitorizar a atividade sísmica e vulcânica, bem como a emissão de CO₂ do solo. Para isso, utiliza sismómetros estrategicamente posicionados e sensores de CO₂.

Surpreendentemente, com apenas três estações é possível calcular o epicentro de um sismo! A tecnologia permite recolher, converter e digitalizar dados para que os cientistas possam interpretar as ondas P e S e determinar a magnitude de cada evento sísmico.

E se pensas que este fenómeno é apenas teórico, lembra-te do sismo de 1998 no Faial. Com uma magnitude de 5.8 na escala de Richter, causou cinco vítimas mortais e deixou um rasto de destruição, sendo o segundo mais destrutivo da história recente dos Açores.

A Produção de Ananás: A Doçura da Ilha de São Miguel
Mas nem só de lava e sismos se faz a vida nos Açores. Na ilha de São Miguel, outra força da natureza brilha dentro das estufas: o ananás. Esta fruta tropical tem origem na América do Sul, mas encontrou casa na ilha após a crise da produção de laranjas provocada pela doença Gomose, no século XIX.

O cultivo do ananás nos Açores é realizado em estufas, utilizando apenas fertilizantes orgânicos. O processo começa com a plantação da toca-mãe e, após cerca de seis meses, os abrolhos (rebentos) são retirados, cortam-se as raízes e faz-se a desfolha da base do caule para favorecer o enraizamento. De cada três a quatro abrolhos, apenas dois são selecionados para continuar o ciclo.

Ao fim de oito meses, as plantas são transferidas para estufas definitivas. Passados mais seis meses, aplica-se o fumo, produzido pela queima de folhas de bananeira e palha, libertando etileno — um gás que induz a floração e permite uma colheita uniforme.

Quando a coroa atinge o tamanho ideal, é cortada para que a planta concentre a sua energia no fruto, tornando-o mais doce. Os melhores exemplares são geralmente mais pequenos, mais aromáticos e colhidos durante o verão.

Cada planta origina uma nova raiz que pode ser reutilizada como clone, mantendo o ciclo de produção. No entanto, o cultivo exige cuidados especiais, pois o ananás é sensível a mudanças ambientais.

Os Açores são, assim, um território onde a natureza revela toda a sua força e diversidade, desde a atividade sísmica e vulcânica até à produção cuidada de uma das frutas mais emblemáticas da região.

Tomás Carvalho, Tomás Ferreira