Alimentação no Jardim Zoológico de Lisboa: não só pela nutrição, mas por uma experiência de enriquecimento

“Como é que funciona a confecção e distribuição de alimentos pelos animais no Jardim Zoológico de Lisboa? De que forma se consegue atender às necessidades nutricionais dos animais selvagens em cativeiro? Como funciona o enriquecimento ambiental no quesito da alimentação?”

A alimentação é um dos aspetos mais importantes no que toca à saúde e bem-estar dos animais, quer no seu habitat natural como no Jardim Zoológico. O serviço de nutrição do Jardim Zoológico de Lisboa é constituído por cinco funcionários, responsáveis pela confeção e distribuição das refeições para cerca de 2000 animais de 300 espécies diferentes. Na cozinha, três funcionários preparam cuidadosamente as refeições, seguindo os planos alimentares que veterinários e engenheiros zootécnicos pré-determinam, tendo em conta as necessidades nutricionais de cada grupo animal, espécie ou até indivíduo. É importante respeitar o tipo de alimentação e até as quantidades indicadas. Outros dois funcionários distribuem as refeições pelas instalações.

Exemplo de enriquecimento ambiental com Ursos-pardos

Enquanto animais selvagens, é natural que estes necessitem de alimentos específicos fora do tradicional, muitas vezes em grandes quantidades, o que pode ser difícil de atender. Cerca de uma tonelada de alimentos é consumida por dia. O consumo do feno, maioritariamente para alimentação dos herbívoros, chega a 300 quilogramas por semana, e, no verão, a instituição recebe entre 30 a 40 toneladas. A cada duas semanas, o stock é reabastecido com uma tonelada de cenouras e duas toneladas de maçãs. Alguns supermercados fazem doações de alimentos que já não podem ser vendidos nos estabelecimentos, mas estas ofertas não são o suficiente para suprir todas as necessidades alimentares. Com isto, o Jardim Zoológico tem a necessidade de adquirir frutas, verduras, ovos, carnes de coelho ou frango, por exemplo, e até rações, produzidas para atender às necessidades nutricionais de cada espécie. Estas rações, podem funcionar apenas como suplemento, mas muitas vezes fazem parte da rotina alimentar dos animais.

Depois de chegadas as refeições às instalações, os tratadores definem estratégias para estimular os animais na procura do alimento, à semelhança do que aconteceria no habitat natural, o que pode exigir alguma criatividade. Exemplo disso é o caso dos Ursos-pardos, que recebem habitualmente frutas e verduras congeladas, ou dos Suricatas, quando são colocados rolos de papel higiénicos recheados de tenébrios (larvas de escaravelhos). Nem todos os animais recebem alimento diário, como é o caso dos felinos ou répteis, que têm dias de jejum. Desta forma, pretende-se simular situações como caçadas mal sucedidas ou ausência de alimento, que os animais enfrentam diariamente no habitat natural.

Esta preocupação evidente pela correta alimentação dos animais, adequada às necessidades individuais, é crucial para garantir a nutrição e a saúde animal trazendo benefícios a diversos níveis, tal como para a reprodução das espécies.

No Jardim Zoológico de Lisboa, a alimentação dos animais é uma verdadeira ciência. A equipa de nutrição planeia e prepara cuidadosamente cada refeição, garantindo que cada espécie – e até cada indivíduo – receba os nutrientes essenciais para a sua saúde e bem-estar. Mas não se trata apenas de nutrição: os tratadores também estimulam o instinto de caça e procura de alimento, tornando cada refeição uma experiência enriquecedora.

Eduarda Alves, Ema Martins, Lara Carvalho, Leonor Miroto, Rodrigo Lázaro