Figueiras contra a Erva-das-Pampas, é eficaz?

Em várias regiões de Portugal e do mundo, um inimigo silencioso tem vindo a espalhar-se pelos campos, encostas e até zonas urbanas: a Erva-das-pampas. A sua aparência elegante e plumas prateadas escondem a verdadeira ameaça que representa para os ecossistemas nativos. Mas, no combate contra esta espécie invasora, uma aliada improvável pode estar a ganhar valor — a figueira.

 

Originária da América do Sul, a Erva-das-pampas (Cortaderia selloana) foi introduzida na Europa como planta ornamental. No entanto, depressa mostrou a sua parte destrutiva. Esta gramínea pode atingir até 4 metros de altura, reproduz-se rapidamente e forma densas touceiras que matam a vegetação nativa, estragando o equilíbrio do ecossistema local.

Produzindo milhares de sementes por planta, que são espalhadas facilmente pelo vento, esta espécie está a propagar-se a uma velocidade descontrolada, a quilómetros e quilómetros distantes da planta. Resiliente e de crescimento rápido, a Erva-das-pampas ocupa terrenos baldios, margens de estradas e cursos de água, dificultando a regeneração natural de ecossistemas inteiros. Mas o seu impacto particularmente grave é a sua influência em áreas de conservação, onde elimina espécies autóctones, empobrece os solos e reduz a biodiversidade.

Por outro lado, temos a figueira comum (Ficus carica), uma árvore mediterrânica conhecida pelos seus frutos doces e pelas suas folhas largas. Ao longo dos séculos, a figueira tem sido cultivada em quintais, pomares e zonas áridas, graças à sua resistência e baixa exigência hídrica.

Além dos seus usos alimentares, a figueira é uma excelente criadora de sombra — algo que se revela como uma poderosa ferramenta no controlo ecológico de espécies invasoras.

Mas como pode uma árvore controlar uma erva invasora? A resposta está no funcionamento dos ecossistemas. A figueira desenvolve uma copa larga, que reduz drasticamente a quantidade de luz solar que chega ao solo. Como a Erva-das-pampas depende do sol pleno para germinar e crescer com vigor, o sombreamento contínuo enfraquece e impede o desenvolvimento desta planta invasora.

Além disso, as folhas caídas da figueira formam uma cobertura natural, o que dificulta ainda mais a germinação de novas sementes invasoras. As suas raízes profundas e resistentes também desempenham uma função muito importante, pois estas competem com a Erva-das-pampas em luta de água e nutrientes, tornando o solo menos favorável à sobrevivência da gramínea.

Embora a plantação de figueiras não elimine imediatamente as populações existentes de Erva-das-pampas, pode desempenhar um papel fundamental num plano de controlo a médio e longo prazo, especialmente em zonas onde o uso de químicos é desaconselhado (em maior parte do país).

Técnicos ambientais e comunidades locais estão a explorar soluções baseadas na natureza para restaurar a vegetação nativa e desacelerar o avanço das espécies invasoras. Inserir árvores como a figueira em zonas afetadas como os baldios é uma dessas soluções, pois promove a regeneração ecológica de forma natural, económica e duradoura.

Em muitos quintais, conseguimos observar esta planta constituindo assim um dos focos da sua propagação. Para estas situações, em caso de os proprietários decidirem eliminar esta planta, a solução poderá ser a seguinte:

– Retirar a parte interior da planta, com cerca de 50 cm de diâmetro, de preferência fora do período de floração. Se coincidir com o período de floração, devem ser colocados sacos à volta das plumas, evitando desta forma a propagação de sementes;

– No local onde foi retirada uma parte da Erva-das-pampas, deve-se plantar uma figueira jovem, que ao crescer irá gradualmente destruir tanto raízes como as partes aéreas da planta invasora;

– Esta pode ser uma forma fácil e eficaz de cada um poder contribuir para a erradicação desta praga.

Esta abordagem faz parte de uma visão mais ampla: usar espécies autóctones e árvores de sombra para restaurar paisagens degradadas, contrariando a proliferação de plantas invasoras através do restabelecimento de equilíbrios naturais.

Em suma, a batalha contra a Erva-das-pampas não será fácil com um único método. É necessário um esforço da parte da comunidade entre remoção ativa, vigilância, educação ambiental e soluções ecológicas como a plantação de figueiras.

Às vezes, a melhor arma contra uma espécie invasora pode ser uma simples árvore…