Góis, vida para além do Homem

Na aldeia de Aigra Nova, observa-se um ecossistema muito rico, com uma grande diversidade de espécies autóctones, mas por ação antrópica, a paisagem presente sofreu uma alteração visível.

Ecossistema da Serra da Lousã, junto ao Rio Ceira

O Núcleo de Interpretação Ambiental da Serra da Lousã, está localizado numa casa rural de família, completamente intacta, onde ainda existem ninhos de pássaros. Segundo Joana Cancela, da Lusitânea, “se os passarinhos fizeram aqui o ninho, nós não vamos removê-los”. 

O Ecossistema da Serra da Lousã tem sofrido com o passar do tempo, diversas alterações. No passado, a principal atividade socioeconómica, a criação de gado, uma atividade bastante praticada, fonte de rendimento e subsistência, onde se vendiam produtos de origem animal, como queijo, leite, carne e peles de animais, assim como o próprio gado. Contudo, algumas políticas do Estado Novo, como a plantação, inicialmente de pinhal, e posteriormente de eucaliptal, condicionaram a criação de gado, diminuindo a quantidade de terreno disponível para pastagem de animais, obrigando assim à redução de cabeças de gado por parte dos habitantes. 

Com a queda do regime político do Estado Novo, foram levadas a cabo ações, que a longo prazo, recuperaram alguma parte daquilo que o Ecossistema da Serra da Lousã dispunha anteriormente. Algumas espécies, que atualmente habitam a Serra, em redor da aldeia, como o caso do Veado-vermelho (Cervus elaphus), exemplo de reintrodução da biodiversidade nativa, através de uma iniciativa promovida pela Universidade de Aveiro, na década de 80, anteriormente contava apenas com 60 e 70 exemplares, contando agora com cerca de 3000. 

Outras espécies encontradas em redor da aldeia de Aigra Nova, são divididas pelos vários ecossistemas encontrados na Serra da Lousã. Junto ao Rio Ceira, existe a possibilidade de se encontrarem aves como Garças e Cegonhas-Pretas (Ciconia nigra), e algumas aves de rapina como o Falcão-peregrino (Falco peregrinus), embora mais afastado do rio. Ao penetrarmos pela vasta floresta da Serra, poderemos encontrar algumas espécies de répteis como a Víbora-cornuda, o Tritão-marmoreada (Triturus marmoratus) e a Salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica) muitas vezes comparados com estas espécies, os anfíbios podem também ser encontrados, como o caso da Rã-ibérica (Rana iberica). Mais facilmente ainda, segundo Joana Cancela, são encontrados Mamíferos como o Javali (Sus scrofa), Lontra (Lutra lutra), Morcego-de-Ferradura-Grande (Rhinolophus ferrumequinum), e o já citado, Veado-Vermelho (Cervus elaphus), assim como alguns insetos, como a Borboleta-pavão (Inachis io).

O esforço por parte da Lousitânea para trazer de volta a paisagem que antes pertencia a Aigra Nova tem sido considerável, indo desde o combate a espécies invasoras até à conservação de espécies animais e vegetais já presentes na aldeia e arredores. Mas mesmo com todas estas medidas tomadas a pergunta que fica é a seguinte: Serão suficientes os esforços e ações da Lousitânea que visam o controlo de invasoras e o restauro dos ecossistemas?

Francisco Nascimento, Gonçalo Marques, Rafael Furtado, Rodrigo Teixeira, Filipa Tavares