No sopé das serras transmontanas, entre vales recortados e lameiros, o Parque Natural do Alvão acolheu mais uma edição do Concurso Nacional do Maronês. Organizado pela Associação de Criadores do Maronês, este encontro anual é um momento de celebração, mas também de reflexão sobre a importância desta raça autóctone na vida e no futuro de Vila Real e do Alto Douro.
A raça bovina autóctone maronesa, descendente mais próximo dos antigos auroques, o ancestral bovino selvagem, é um símbolo de resistência e adaptação. Cresceu moldada pelo clima rigoroso das montanhas, tornando-se um animal robusto, capaz de sobreviver onde outros não resistem. Durante séculos, foi essencial para o trabalho agrícola e, atualmente, destaca-se pela carne de qualidade reconhecida, que começa a conquistar mercados além-fronteiras, tendo já sido premiada internacionalmente.
Mas este concurso vai além da exibição de animais. É um espelho das preocupações e das oportunidades que se colocam à região Transmontana. A criação extensiva desta espécie autóctone é vista por muitos como um exemplo de equilíbrio entre produção, respeito pelo ambiente e coesão social. Iniciativas como o projeto LIFE Maronesa apostam em práticas que melhoram a fertilidade dos solos, ajudam a fixar carbono e reduzem o risco de incêndio, mostrando que é possível produzir estes animais com sustentabilidade. Duarte Marques, membro da Aguiarfloresta, afirmou à agência Lusa que “A conservação do território, dos valores naturais e ambientais só é possível graças aos resistentes que gerem este território. O garante deste património são as pessoas e a campanha visa, especialmente, destacar os que aqui habitam e todos os dias trabalham”.
A presença destes animais tem ainda um impacto positivo na paisagem e na biodiversidade. Os pastores, ao manterem os campos limpos e os lameiros cuidados, contribuem para a renovação dos solos e para a sobrevivência de espécies como o lobo ibérico. “É notório o renascer dos lameiros e o aumento da diversidade de plantas e animais”, comenta um técnico envolvido num dos projetos LIFE Maronesa.
Apesar dos avanços, persistem desafios. O preço pago aos produtores continua a ser uma preocupação, sobretudo quando comparado com sistemas de produção mais intensivos. Muitos animais são vendidos para Espanha, onde a carne atinge valores mais elevados, levantando questões sobre a justa valorização do produto local. Além disso, o envelhecimento da população rural e o abandono de terras ameaçam a continuidade desta tradição.
Para contrariar estas tendências, surgem projetos que apostam na educação, na promoção do turismo e na valorização dos saberes locais. O envolvimento das comunidades, aliado à inovação, é apontado como caminho para manter viva a ligação entre a maronesa, o território e as novas gerações.
O Parque Natural do Alvão, com a sua natureza imponente, é o cenário perfeito para este equilíbrio entre tradição e futuro. O Concurso do Maronês, mais do que uma competição, é um apelo à preservação de uma raça e de um modo de vida que são património de todos.
No final, entre o burburinho dos visitantes e o orgulho dos criadores, percebe-se que a maronesa é muito mais do que um animal: é a expressão de uma terra que resiste, se reinventa e acredita no valor das suas raízes.

Raça bovina autóctone maronesa, representante preparada para o concurso. Foto// Luís Martins
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