«Não existe planeta B»

Este trabalho jornalístico visa manifestar as preocupações de alguém que frequentemente encara a vida com equilíbrio, até em cima de duas rodas, revelando respeito pelos ODS, enfim, pelas questões ecológicas. Na realidade, com pequenos gestos rotineiros, podemos fazer a diferença para melhor, em nome da sustentabilidade do planeta.

Professor Luís, quando surgiu o seu interesse pelo tema que estamos a abordar?
Bom, desde que me conheço. Antes demais, para mim um prazer, estar aqui a responder a um tema que me diz muito. Eu acho que nós que vivemos num planeta que é único, não há planeta b, só temos este para viver. Desde que me conheço, sempre me interessei pelas questões de ecologia, pela manutenção com qualidade dos ecossistemas, porque a preservação da vida na terra, com qualidade, depende da forma como tratamos o planeta.

Para si, o que é ecologia ou ser ecológico?
Ecologia trata-se de um campo científico, que naturalmente se debruça sobre tudo o que tem a ver com o ambiente e que contribui para a sua preservação Tudo isso deve ser naturalmente preocupação da ecologia.
Ser ecológico tem a ver com ter uma atitude responsável, de comunhão com a natureza, começando por pequenos gestos no dia a dia, como a separação dos lixos na nossa casa e colocação nos sítios certos; também, tem que ver com a formo como nós consumimos água, como fazemos a gestão das compras e somos consumidores, como gastamos a energia elétrica, uma pessoa que tenha esta preocupações, tem uma consciência ecológica.

Atendendo ao facto de que é professor de história, consegue indicar-nos a partir de que ponto este tema ganhou destaque para a sociedade?
Historicamente falando, desde a revolução industrial nunca mais foi o que era antes, as chaminés fumegantes, que eram alimentados a carvão e a lenha, tornaram as paisagens mais negras, poluindo o ambiente e a qualidade do ar que respiramos. Simultaneamente as águas dos rios deixaram de ser tão cristalinas, porque as cinzas da combustão foram parar aos rios, portanto isso vai prejudicar a qualidade da água consumida.

Desde esse momento acha que o rumo que estamos a seguir é o mais correto?
Muito longe disso, porque, desde a revolução industrial que o ser humano foi sempre pensando na satisfação das necessidades imediatas, nem que para isso, custasse recursos ao ambiente. António Guterres foi feliz numa frase que proferiu há uns tempos “A humanidade abriu as portas do inferno com esta questão das alterações climáticas, porque o ser humano contribuiu para isso” e a prova de que é verdade é que o planeta neste momento já gastou o dobro dos recursos disponíveis para a população que existe no planeta. Portanto já estamos num consumo descontrolado de recursos, corremos o risco, de na tua geração de haver já falta de muitas matérias-primas e de recursos considerados essenciais à vida hoje.

Consegue indicar-nos algumas ideias para modificar isso?
Por exemplo, o facto das pessoas aderirem mais às ciclovias, aderindo mais à mobilidade elétrica, para não irem tantas vezes às estações de combustíveis fósseis para não deixarmos uma pegada carbónica. O efeito de estufa, a temperatura do planeta está a subir, e não é só a nível da atmosfera, mas também a própria temperatura da água dos oceanos e depois traz consequências como a rarefação do oxigênio na água, acabando por matar muitas espécies piscícolas.

Todos sabemos que mesmo pequenos gestos fazem a diferença, na comunidade escolar o que podemos fazer?
Campanhas de educação ambiental, que pode passar pela observação de vídeos extraídos do Youtube, exposições, debates em torno dos objetivos do desenvolvimento sustentável, trazer à escola jornalistas ou pessoas especializadas nessas matérias, para justamente passar a mensagem e fazer-se uma reflexão em torno desses assuntos; além do mais, fazer programas de rádio, publicar notícias nos jornais locais, nas redes sociais, até na página virtual dos agrupamentos apelar à reflexão das pessoas, que depois pode ser partilhada, através dos media.
O que provoca, no seu entender, a grande dependência das pessoas face ao automóvel?
Temos alguns hábitos que são aos olhos de toda a gente condenáveis, porque não são propriamente corretos, como por exemplo o comodismo de cada pessoa, a indiferença individual face a este assunto, desconhecimento dos benefícios que a prática da mobilidade tem na qualidade de vida das pessoas e o egoísmo; algum egocentrismo, as pessoas só pensam nos seus interesses pessoais, não pensam no geral, no coletivo, na comunidade.

O que se pode então fazer para mudar as mentalidades em relação à mobilidade?
Algumas coisas já se vão fazendo mas são muito escassas, porque a mentalidade, meu caro amigo Dinis, é das coisas mais difíceis de mudar numa geração, ela atravessa décadas muitas vezes, a pensar-se da mesma maneira e sem mudar hábitos de pensar, mas por exemplo, estou lembrar-me, partilhar boleias, já vai sendo, de certa forma uma prática, mas ainda não é muito recorrente; o andar a pé, utilizarmos aplicações que permitem contar os passos que damos quando damos uma simples caminhada, seja com o cão ou com a família, seja fazer um peddy paper, com amigos ; utilizar mais frequentemente a rede de transportes públicos que passa no nosso bairro, na nossa comunidade; divulgar mensagens alusivas através das redes sociais, através do boletim social que chega às nossas casas por correio, na rádio e jornal local, de Vendas Novas, porque isso é uma forma de chegar mais perto das pessoas, passar melhor a mensagem. Finalmente, usar as tecnologias em nome dessa qualidade ambiental, porque há muitas aplicações que são propiciadoras disso mesmo, dessa mudança de hábitos em prol da tal mobilidade que se deseja.

Obrigada a todos pela vossa atenção e sejam ecológicos! Juntos vamos conseguir mudar o rumo do nosso planeta, pois não existe um planeta B!