O impacte das minas no concelho de Montalegre

Montalegre é uma vila raiana, sede do concelho com o mesmo nome, localizada no distrito de Vila Real, em Trás-Os-Montes, composto por aldeias tranquilas, parte delas pertencentes ao Parque Nacional da Peneda-Gerês, onde a agricultura, a pecuária e o turismo são a principal fonte de rendimento. Na freguesia de Morgade, está prevista a exploração de uma mina a céu aberto, para extração de lítio, com uma extensão de 30 hectares - a Mina do Romano, também existindo perspectivas de reactivação da mina da Borralha, para exploração de volfrâmio, estanho, molibdénio e outros minerais associados e a mina do Alto das Forcada, com exploração do quartzo e feldspato. Para perceber melhor qual o impacte da exploração mineira, no ambiente e na população do concelho, foi entrevistado Vítor Afonso, morador neste concelho e um dos principais impulsionadores do “Movimento Não às Minas- Montalegre”.

A população do concelho de Montalegre encontra-se apreensiva, senão mesmo revoltada, com os possíveis impactes resultantes da exploração mineira. Segundo Vitor Afonso, um dos principais impulsionadores do Movimento Não às Minas – Montalegre, “As consequências, independentemente do minério a explorar, são sempre devastadoras” as minas irão afetar o ambiente do concelho, contaminando o ar, a água e os solos, “com várias consequências na biodiversidade local, nomeadamente, em espécies em perigo de extinção”, como é o caso do mexilhão do rio e do lobo ibérico. Acrescenta ainda que “além destes contratos de exploração já assinados, existem vários pedidos de prospeção e pesquisa para outras zonas do concelho”.

A contaminação do ar ocorre sobretudo pela “libertação de poeiras nocivas resultantes dos trabalhos e das escombreiras, as quais poderão ser transportadas pelo vento até várias dezenas de quilómetros de distância”, afirma Vitor Afonso. Também “a laboração das máquinas movidas a combustíveis fósseis e as chaminés da eventual refinaria contaminam o ar com gases altamente tóxicos”, acrescenta.

Quanto à contaminação das águas esta pode ocorrer nas águas superficiais (ribeiros, rios, barragens), mas Vitor Afonso alerta que também os lençóis freáticos subterrâneos serão contaminados devido “às perfurações e às crateras das explorações que atingem profundidades de centenas de metros”. Já a contaminação dos solos ocorre sobretudo pelas “escorrências das escombreiras e das zonas de trabalhos, assim como pelas poeiras contaminadas que se depositam à superfície”.

A população do concelho também será diretamente afetada pelas minas, devido à proximidade das crateras às aldeias, à contaminação da água, do ar e do solo com produtos químicos altamente tóxicos, à poluição sonora proveniente de máquinas em funcionamento e explosivos, à produção de poeiras prejudiciais à saúde e que podem provocar cancro, à expropriação forçada de terras e casas, com baixas compensações, e consequente perda de subsídios agrícolas e à desvalorização dos imóveis situados junto das áreas mineiras.

A população de Montalegre está também alerta para a possibilidade de desclassificação da região como Património Agrícola Mundial, atribuído pela FAO e Reserva da Biosfera atribuído pela Unesco.

Mesmo em relação à criação de empregos, um dos pontos que empresas concessionárias e políticos usam como positivo para o concelho, Vitor defende que “os empregos criados não são para a população local e são temporários” e que terá o efeito contrário pois a abertura das minas eliminará muitos dos empregos ligados à agricultura, turismo, apicultura e “interferirá na qualidade e venda de produtos locais altamente valorizados”, tais como o fumeiro, o cabrito e o cordeiro do barroso, a vitela barrosã, o mel e a batata de Montalegre. Vitor pergunta se “os consumidores continuariam a comprar e a consumir produtos originários de uma região mineira, existindo a forte possibilidade de estarem, de algum modo, contaminados?”

A maioria da população de Montalegre rejeita completamente a abertura das minas no concelho. O sentimento é mesmo de “alguma revolta, por perceberem que lhe estão a impor uma indústria das mais contaminantes do mundo”.

 

Será que Montalegre continuará assim após a exploração mineira prevista no concelho?