A população do concelho de Montalegre encontra-se apreensiva, senão mesmo revoltada, com os possíveis impactes resultantes da exploração mineira. Segundo Vitor Afonso, um dos principais impulsionadores do Movimento Não às Minas – Montalegre, “As consequências, independentemente do minério a explorar, são sempre devastadoras” as minas irão afetar o ambiente do concelho, contaminando o ar, a água e os solos, “com várias consequências na biodiversidade local, nomeadamente, em espécies em perigo de extinção”, como é o caso do mexilhão do rio e do lobo ibérico. Acrescenta ainda que “além destes contratos de exploração já assinados, existem vários pedidos de prospeção e pesquisa para outras zonas do concelho”.
A contaminação do ar ocorre sobretudo pela “libertação de poeiras nocivas resultantes dos trabalhos e das escombreiras, as quais poderão ser transportadas pelo vento até várias dezenas de quilómetros de distância”, afirma Vitor Afonso. Também “a laboração das máquinas movidas a combustíveis fósseis e as chaminés da eventual refinaria contaminam o ar com gases altamente tóxicos”, acrescenta.
Quanto à contaminação das águas esta pode ocorrer nas águas superficiais (ribeiros, rios, barragens), mas Vitor Afonso alerta que também os lençóis freáticos subterrâneos serão contaminados devido “às perfurações e às crateras das explorações que atingem profundidades de centenas de metros”. Já a contaminação dos solos ocorre sobretudo pelas “escorrências das escombreiras e das zonas de trabalhos, assim como pelas poeiras contaminadas que se depositam à superfície”.
A população do concelho também será diretamente afetada pelas minas, devido à proximidade das crateras às aldeias, à contaminação da água, do ar e do solo com produtos químicos altamente tóxicos, à poluição sonora proveniente de máquinas em funcionamento e explosivos, à produção de poeiras prejudiciais à saúde e que podem provocar cancro, à expropriação forçada de terras e casas, com baixas compensações, e consequente perda de subsídios agrícolas e à desvalorização dos imóveis situados junto das áreas mineiras.
A população de Montalegre está também alerta para a possibilidade de desclassificação da região como Património Agrícola Mundial, atribuído pela FAO e Reserva da Biosfera atribuído pela Unesco.
Mesmo em relação à criação de empregos, um dos pontos que empresas concessionárias e políticos usam como positivo para o concelho, Vitor defende que “os empregos criados não são para a população local e são temporários” e que terá o efeito contrário pois a abertura das minas eliminará muitos dos empregos ligados à agricultura, turismo, apicultura e “interferirá na qualidade e venda de produtos locais altamente valorizados”, tais como o fumeiro, o cabrito e o cordeiro do barroso, a vitela barrosã, o mel e a batata de Montalegre. Vitor pergunta se “os consumidores continuariam a comprar e a consumir produtos originários de uma região mineira, existindo a forte possibilidade de estarem, de algum modo, contaminados?”
A maioria da população de Montalegre rejeita completamente a abertura das minas no concelho. O sentimento é mesmo de “alguma revolta, por perceberem que lhe estão a impor uma indústria das mais contaminantes do mundo”.
Será que Montalegre continuará assim após a exploração mineira prevista no concelho?