Pode um stand de restauração do Rock in Rio ser sustentável?

A décima edição do Rock In Rio mudou de lugar e conta com um espaço de restauração redesenhado e com uma oferta diversa. Mas será que a sustentabilidade está incorporada nestes stands? O stand Hoy! serviu de exemplo na análise das preocupações das empresas de restauração.

Nos dias 15, 16, 22 e 23 de junho, realiza-se a 10ª edição do Rock in Rio Lisboa. Este ano, o evento será num espaço diferente, o Parque Tejo.

No entanto, a identidade do evento e o seu compromisso público pela sustentabilidade continuam os mesmos. E, num evento deste género, algo essencial são os espaços de restauração, que têm um impacto considerável na pegada ambiental do festival. Uma das empresas de restauração que estará presente nesta edição é a Hoy!, uma cadeia de comida natural mexicana. Em entrevista, Nuno Lages, assessor desta cadeia, partilhou as medidas que implementaram de forma a garantir que os consumidores da Hoy! possam fazer escolhas assentes na sustentabilidade.

Ingredientes e embalagens: são mesmo sustentáveis?

Começando pelo menu, a atenção à componente nutricional e a incorporação de legumes é uma preocupação evidente da Hoy! e um elemento diferenciador dentro do ramo de street food. Neste stand, o público pode contar com opções vegan e low carb. 

Além disso, uma das características mais distintivas deste restaurante é o seu lema “As receitas vêm do México, os ingredientes vêm da Natureza”. Assim,  os ingredientes utilizados provêm maioritariamente de culturas da zona do Oeste, numa lógica de agricultura de proximidade.

Apesar disso,  abacate, estrela do menu, esconde uma pegada ambiental considerável. Apesar do seu consumo ser maior na Europa, América do Norte e Ásia, é do México, em particular do estado de Michoacán, que provém a maior produção de abacate do mundo. Este ingrediente implica uma monocultura intensiva que apresenta problemáticas sociais e ambientais, destacando-se a desflorestação e a utilização excessiva de água, um recurso essencial para produzir o fruto. Em ambientes áridos, podem exceder-se os 300 litros de consumo por fruto.

Já no que se refere à embalagem de apresentação dos produtos, o material escolhido foi o papel reciclado. Coloca-se no entanto a questão da sua nova reciclagem, que por vezes é impossibilitada pela contaminação com resíduos alimentares, em particular gordura.

Desperdício e reutilização

No contexto de produção alimentar, uma grande preocupação é relativa ao desperdício. Uma prática exemplar é dada pelos serviços de catering do Rock In Rio, que enviam as suas sobras para a Refood. No seu caso, apesar de grande parte dos alimentos serem confecionados no momento, consoante os pedidos, Nuno admite que, por exemplo, o arroz e os feijões previamente confecionados e que não são consumidos no dia são desperdiçados.

Ao contrário de outros stands de alimentação, que optam por utilizar contentores de aluguer, este estabelecimento investiu num contentor próprio. A estrutura escolhida é um contentor modular holandês, feito de materiais reciclados com certificação ambiental, passível de ser facilmente montado e desmontado. Desta forma, ao invés de alugar um contentor em cada evento, a empresa consegue marcar presença nos vários eventos nacionais com o mesmo contentor, reduzindo os resíduos associados à mudança do mesmo.

Este  stand de restauração apresenta-se como um exemplo de como pequenas escolhas acumuladas podem ter um impacto considerável na sustentabilidade global do projeto, o que é incentivado pela organização do Festival que pretende que os seus parceiros estejam alinhados nos mesmos valores e compromissos, contribuindo para a sustentabilidade global do evento.

Edição após edição são mais amplas as medidas adotadas pelos parceiros. No entanto, ainda existe  um caminho a percorrer por estes negócios , que assentam no fast food, de modo a tornarem as suas práticas ainda mais sustentáveis e responsáveis.

Inês Nunes, Filipe Correia, Vasco Isidoro