Quinta da Regaleira, um baú de Biodiversidade

  A Quinta da Regaleira é um tesouro escondido no coração de Sintra que abriga paisagens autóctones e naturais com uma forte simbologia ao período do romantismo Português. Constituída por diversas espécies arbóreas, umas dispostas ao redor do Palácio e outras a formar a Mata. Este lugar é rico em várias espécies, sendo as principais as palmeiras, as camélias, os castanheiros, os carvalhos, os sobreiros e os azevinhos. Contudo, ele serve igualmente de abrigo às espécies invasoras, que acabam por tomar lugar às espécies nativas, provocando assim a sua destruição e, consequentemente, a sua inevitável extinção.

  Ao adentrar na Quinta testemunha-se uma enorme variedade de Pteridium aquilinum, mais conhecidos como fetos, uma das primeiras plantas a existir no mundo. Neste local, são predominantes os Fetos-dos-carvalhos (Davalia canariensis), uma espécie que cresce em fendas de rocha ou nas copas de árvores folhosas, em sítios frescos e húmidos, e o Feto-folha-de-Hera (Asplenium hemionitis) onde apenas pode ser encontrado na Serra de Sintra e Azóia. Ambos trazem algo positivo para a biodiversidade: mantêm o equilíbrio ecológico, isto porque adaptam-se às condições naturais e interagem com outras espécies nativas, e oferecem alimento para herbívoros e fungos decompositores que sustentam outros níveis tróficos. São visíveis vários tipos de carvalhos, como o Carvalho-negral (Quercus pyrenaica), o Carvalho-cerquinho (Quercus faginea) e o Carvalho-alvarinho (Quercus róbur). Raquel Neves, Bióloga da Camara Municipal de Sintra, dá enfâse à espécie alvarinho uma vez que esta é importante para a existência dos escaravelhos, mais precisamente a Vaca-Loura (Lucanus cervus), já que esta ajuda na decomposição da madeira morta.

Para além de toda a diversidade de espécies de plantas existentes na Quinta da Regaleira, é de grande ressalte a presença de azevinho, principalmente no inverno. Este para além de valor ecológico, sendo a alimentação para vários pássaros e pequenos animais, tem um grande simbolismo cultural. A palavra azevinho é associada á época natalícia, porém é importante saber que o corte total ou parcial é uma ameaça á espécie, sendo proibido em todo o território continental. Acontece que os azevinhos são espécies dioicas, ou seja, tem indivíduos femininos e masculinos, sendo os femininos os que possuem as bagas vermelhas, consequentemente os mais procurados e assim, impossibilitando a reprodução da mesma.

Escaravelhos, da espécie Vaca-Loura (Lucanus cervus), preservados

A presença destas espécies peculiares dão-se pelo ótimo clima a que estão dispostas, contendo os níveis adequados de oxigénio, água, humidade, luz e sombra. Nessa medida, as espécies invasoras só têm a beneficiar com a utilização deste espaço. A bióloga Raquel Neves refere que as espécies invasoras ocupam bastante espaço das outras espécies. Estas proliferam-se em demasia provocando uma competição com as espécies nativas, que têm a tendência a perder a luta. Como exemplo de espécies invasoras temos a Erigeron karvinskianus, mais conhecida por vitadínia-das-floristas. Ao competir por espaço, água e nutrientes, elas crescem muito rapidamente, formando um vasto tapete de flores, que implica o crescimento de outras espécies. Existe também a acácia. Esta árvore tem sementes dormentes, ou seja, elas têm bloqueios no seu método de propagação. Porém, apesar deste método, as acácias ainda prejudicam, assim como a vitadínia-das-floristas, o crescimento de outras espécies na região. Por fim, a árvore-do-incenso, Pittosporum undulatum, originária da Austrália, é conhecida pelo fruto característico que possui uma cápsula ovoide com duas válvulas que se tornam alaranjadas quando amadurecem. Ela é considerada uma espécie invasora pela sua alta tolerância climática, a sua grandeza que implica sombra noutros seres fotossintéticos, e assim como todas as outras espécies, a sua alta taxa de proliferação.

Apesar disso, algumas destas espécies não suscitam qualquer problema para as espécies nativas, como é o caso da Palmeira, Arecaceae, já que as suas sementes não se propagam no meio.

Ainda mais, comparando o meio exterior à Quinta com o seu interior, é possível reparar que, nas zonas onde não há grande intervenção do Homem, a Quinta da Regaleira beira sobre uma paisagem florestal e selvagem, parecendo quase como um conjunto de ruínas abandonadas recheadas das espécies nativas anteriormente ditas. Em contraste, ao observar a região onde houve maior intervenção do Homem e, igualmente, onde atualmente incide uma maior concentração tanto de turistas como de automóveis que emitem gases poluentes, é notável uma pior qualidade no ar e uma maior concentração de espécies invasoras do ambiente.

Este paraíso natural pode começar a ser ameaçado com esta proliferação de espécies invasoras. Por isso, é necessário começar a tomar todo o tipo de cuidado e controlo com as espécies.

Beatriz Barata, Duarte Melo, Elisabete Silvério, Maria Moreira, Matilde Taneco, Miguel Martins