Em Lisboa, em pleno bairro de Benfica, há uma escola que cresceu no meio da cidade, mas guarda em si memórias do campo. A Escola Básica 2/3 Quinta de Marrocos (sede de Agrupamento) deve o seu nome ao proprietário de uma das várias quintinhas existentes no bairro, conhecido por “O Marrocos”, o qual ofereceu o terreno para a sua construção. Herança do século XIX, estas quintas e palacetes de Benfica atraíam, então, as famílias mais ricas, que vinham passar as suas férias aos “arredores de Lisboa”.
Em funcionamento desde 1978, a escola tem também a particularidade de ter sido frequentada por alunos surdos desde o início da sua fundação, sendo, desde o ano letivo 2008/2009, designada como Escola de Referência para o Ensino Bilingue de Alunos Surdos. Foi no seio da turma 5.º A, constituída por alunos surdos, que a professora Jacinta Oliveira, de Ciências Naturais e Matemática, promoveu no ano letivo transato, no âmbito do Programa Eco-Escolas, o início de um projeto que tem dado frutos. E não só… alfaces, couves, tomates, cana-de-açúcar, chá de erva príncipe, boldo, manjericão e até árvores de fruto como uma macieira e uma pereira.
Desta horta tratam os alunos, agora no 6.º ano, sempre que podem, com a ajuda da professora e da intérprete de Língua Gestual Portuguesa que também os acompanha: “regar, tirar os lixos e cortar as ervas daninhas”, dizem, fazendo o balanço das tarefas que têm proporcionado o crescimento dos seus produtos hortícolas. É com orgulho que continuam: “são entregues na cozinha da escola”. Na verdade, alguns dos legumes cultivados na horta escolar, foram fazendo parte da ementa do refeitório, frequentado diariamente pela comunidade escolar.
Questionada sobre a importância deste projeto, a professora não tem dúvidas: “É importante porque para além da obtenção de produtos cultivados na escola, sendo depois colhidos e consumidos na mesma, permite um ambiente de interajuda e de convívio e, além disso, ensina os alunos a plantar e a conhecer alimentos saudáveis”. E os pequenos hortelãos estão de acordo: “Se no futuro tivermos uma horta, saberemos como tratar dela…”.
Agora que o ano letivo está no fim, os protagonistas deste projeto mantêm a vontade de continuar a cuidar deste espaço que sentem como seu, mas que gostam de partilhar com todos. A criação e a manutenção de uma horta comunitária, em contexto escolar, permite, conclui a docente envolvida: “incentivar o desenvolvimento da consciência ambiental dos seus membros, com destaque para os alunos que, de forma ativa e num contexto de camaradagem, aprendem a proteger o ambiente e a explorá-lo de uma forma sustentável”. Em suma: uma eco-ideia a cultivar por mais anos.