Atualmente, há cada vez mais destinos mundiais a registar recordes de visitas e hóspedes, no entanto, é inegável que nunca se ouviu falar tanto em conceitos como overtourism, saturação turística, ou mesmo turismofobia, com registos de vários protestos de residentes e medidas tomadas pelas autoridades em alguns destinos. A cidade do Porto não é exceção, havendo já registos de manifestações, como “O Porto não se vende”, contra a pressão que o turismo está a exercer na cidade.
Overtourism refere-se aos lugares onde os residentes ou visitantes pensam que há uma concentração excessiva de pessoas e que a qualidade de vida do destino ou da experiência se deteriorou de forma inaceitável.
O facto de hoje em dia ser mais barato viajar, em função do crescimento de empresas low-cost tanto na aviação como nos alojamentos, bem como os novos hábitos de consumo que valorizam as viagens e as experiências (em detrimento da compra de bens), têm sido alguns fatores que têm contribuído para a saturação turística visível em alguns destinos.
A valorização dos turistas pelo nosso clima, gastronomia, desporto, autenticidade e hospitalidade de Portugal leva a que haja um grande fluxo de turistas no nosso país e, em especial, na cidade invicta, principalmente nas épocas altas.
A turistificação traz inúmeros desafios aos destinos em causa como a privatização e o congestionamento do espaço público, a perda do poder de compra por parte dos residentes, a perda da autenticidade dos destinos, ou mesmo os protestos de residentes dos destinos em causa, que se queixam da diminuição de qualidade de vida, resultante de ambientes industrializados, inflacionados e orientados para o consumo turístico. Não apenas ao nível do custo do quotidiano, com o aumento dos preços dos produtos essenciais e restaurantes, os espaços públicos sobrelotados, mas também os comportamentos dos turistas não condizentes com as normas culturais e sociais, são elementos destacados pelos locais, alegando à deterioração dos destinos e à perda de autenticidade.
O grande desafio da região Norte de Portugal tem sido e continua a ser a capacidade de fazer algo face à sazonalidade verificada em toda a região. Reformulando, os desafios não são a preocupação, o que realmente inquieta é a falta de estratégia a nível estrutural para pôr os planos em prática.
Nesta perspetiva, importa perceber como aproveitar o crescimento do setor, sem cair na massificação dos destinos quando o número de visitantes dos grandes centros, já ultrapassa largamente o de residentes. Deste modo, é necessário repensar as estratégias dos destinos e, mais do que impedir que os turistas cheguem, é preciso incentivá-los a diversificar as suas atividades e atender às necessidades das comunidades locais.
Assim são apresentadas algumas soluções como estratégias de preço (variar o valor das taxas turísticas e preços das atrações na época alta), direcionar as campanhas de marketing (investir mais no planeamento e menos na promoção, atraindo mercados que realmente têm interesse para o destino), controlar acessos (impor limite de pessoas que podem entrar nos centros históricos) e descentralizar a procura no destino (promover atividades turísticas noutras zonas do destino).
As medidas implementadas para despromover a desconcentração da procura pelos grandes centros e propagar a periferia, encaminhando os turistas para destinos nacionais menos procurados e conhecidos, têm resultado num crescimento de hóspedes em todas as regiões, sendo esta uma medida que o Porto tem vindo a aplicar.
Lousada, um dos concelhos do distrito do Porto, tem vindo a atrair cada vez mais turistas e visitantes, fruto do seu património edificado, dos seus equipamentos culturais e desportivos, da sua riqueza no artesanato, da sua gastronomia variada e de inúmeros eventos para todas as idades.
A Rota do Românico, sediada em Lousada, contribui para um aumento do número de turistas que visitam Lousada, quebrando fronteiras e partindo na aventura de descobrir aquilo que há para além dos grandes centros.
As medidas começam aos poucos a surtir os primeiros efeitos, porém os dados disponíveis são bastante elucidativos do clima de saturação dos destinos turísticos que, antes de o serem, são espaços onde as pessoas nascem, crescem, trabalham, casam, têm filhos, envelhecem e morrem, como em qualquer outro sítio do mundo. É esta a autenticidade que atrai os turistas em primeiro lugar. Ao perdê-la todos perdemos.
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