As viagens de autocarro que asseguram a ligação entre os vários locais do mapa que estão a ser visitados por estes 5 dias são uma constante. E há algo que salta à vista de todos: o cinzento nos vales. Tal facto não é de estranhar, até porque a região Centro do país foi uma das mais afetadas pelos grandes incêndios que marcam o Verão de 2017. Nos entretantos, é por lá que se veem algumas das barragens que garantem o abastecimento a nível energético das povoações em redor. Destaquemos uma: a Barragem da Bouça, que durante a parte da manhã desta quarta-feira quente de um Setembro ainda de Verão contou com a visita dos 50 jovens, estes que são afinal os grandes protagonistas da cidade de Castelo Branco por estes dias.
É bem no topo da Serra da Estrela que o Rio Zêzere vê a luz do dia. Por sua vez, a sua bacia hidrográfica conta com mais de 240 km de extensão. E é precisamente nesta bacia, que contabiliza uma área de 4996km2, que se encontra a barragem da Bouçã. São 63 metros de altura, 2525 km2 de área de bacia hidrográfica, e um total de 175m de altura quando a barragem atinge o nível de pleno armazenamento. Atualmente, nenhum dos primeiros equipamentos hidromecânicos e elétricos da central está ainda em funcionamento, pelo que nos anos de 2008/2009 foi levado a cabo um processo exaustivo de renovação destes mesmos equipamentos, colocando esta fonte de energia renovável ao nível dos requisitos necessários tanto de eficiência como de segurança.
Em termos de capacidade produtiva, importa afirmar que o descarregador central de cheias pelo facto de estar localizado ao centro, permite que o caudal máximo descarregado ande na casa dos mais de 2000 m3/s. Ainda que quando comparada com Barragens como a de Castelo de Bode, que tem uma potência instalada de 159 MW e uma energia produzida média anual de 396,5 Gwh, a Barragem da Bouça tem valores razoáveis de produção: uma potência instalada de 50 MW e uma produção média anual de quase 160 GWh.
É certo que a construção de barragens como a de Bouçã não deixa de ter impactos ambientais negativos, nomeadamente no que à destruição do habitat de várias espécies autóctones diz respeito, contudo na opinião do guia os prós acabam por pesar mais do que os contras: “Sim, de facto é inevitável que a destruição de parte desses habitats não exista, mas aquilo que se ganha é muito mais significativo. Não nos podemos esquecer que estamos a reduzir substancialmente a utilização de combustíveis fósseis extremamente poluentes como o petróleo, o carvão ou o gás”, concluiu o guia que deu a conhecer a estes 50 jovens os cantos, pormenores inusitados e várias salas de controlo desta barragem.
Mas neste “cantinho à beira mar plantado”, há outra fonte de energia renovável que dada a localização do território nacional desempenha também um papel de relevo importante na produção de energia elétrica: a energia solar. Num país que tem uma média de mais de 300 dias de sol por ano, não é de estranhar que nos últimos anos a tendência tenha vindo a ser de crescimento da compra e instalação dos painéis fotovoltaicos nas habitações dos portugueses. Mesmo por Castelo Branco, inclusive no Recinto das Piscinas Municipais, tal facto foi visível.
É isto mesmo e muito mais que se aprende na licenciatura em Engenharia das Energias Renováveis, lecionada no Politécnico de Castelo Branco, parceiro desta academia. Paula Pereira, uma das professoras responsáveis por essa licenciatura destaca as saídas profissionais do curso e a recetividade do mercado internacional: “Quem acaba a licenciatura em Engenharia das Energias Renováveis tem um leque de saídas profissionais muito diversificado: pode trabalhar numa central de biomassa ou até mesmo numa empresa como a Celtejo. Quem tira este curso e não tem receio de sair do país em busca de uma oportunidade consegue arranjar perfeitamente um bom emprego na área. Já para aqueles que tentam ficar por esta zona, para eles o mercado não é nada fácil”. Paula Pereira alertou-nos ainda para o facto de estar ser uma realidade já muito presente por Castelo Branco e um pouco por todo o país, inclusive na casa da própria. Quem tem uma instalação de painéis fotovoltaicos em casa consegue consumir a própria energia que produz, sendo que a energia excedentária é vendida à rede, a um valor de cerca de 6 cêntimos/ Gwh. De acordo com a docente do Instituto Politécnico de Castelo Branco, o truque passa pela otimização de todo o processo: “Se uma pessoa consome a maior parte da energia nas primeiras horas de exposição solar, o mais inteligente é ter os painéis fotovoltaicos orientados para este. Já naqueles casos em que o consumo é mais linear ao longo do dia, basta colocar os painéis a um ângulo do correspondente à latitude do local menos 5º”. Esta é uma das áreas que tem vindo a crescer no seio da comunidade académica, e atualmente são já algumas as iniciativas levadas a cabo pelos alunos desta licenciatura em parcerias com indústrias da região. Se requer um grande investimento inicial? Claro que sim. É o que Paula diz: “É certo que todo este processo requer um investimento avultado. Mas a longo prazo vale a pena. Estou convicta de que o retorno chega num período de tempo de quase 8 anos”.
Dúvidas houvessem, mais uma prova de que Castelo Branco é um concelho que está a iniciar a sua caminhada de modo a promover boas práticas de sustentabilidade. Moveleteur, um nome estranho para grande parte dos leitores. É certo que falamos de um projeto ainda muito recente, mas com cartas já mais do que dadas. O projeto, numa parceria entre Portugal e Espanha, pretende promover um modelo de turismo sustentável e limpo para todos os visitantes das áreas naturais. A base está na utilização de bicicletas elétricas. Ainda em fase embrionária, também os alunos do Politécnico estão envolvidos no desenvolvimento da App que mais tarda vai estar ligada ao projeto.
Para já, a curto prazo, os fundos que apoiam o projeto garantem que por pelo menos 3 anos o projeto esteja em vigor em zonas como Bragança ou o Gerês, para além de algumas montanhas em terras de nuestros hermanos. As próprias bicicletas elétricas são portuguesas, produzidas em Águeda. Em termos de autonomia, são quase 40 km para disfrutar das paisagens, e de toda a beleza natural que marca as zonas mais montanhosas da Península Ibérica. Um dia, acima de tudo, verde. E os testemunhos recolhidos provam isso mesmo: esta já não é uma realidade de futuro mas já é parte de um presente bem atual.
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