Pinheiros, Eucaliptos e Cinzas

Quando falamos nos incêndios que todos os anos devastam o nosso país e que já se tornam rotina de Verão, todos os dedos apontam para a má comunicação dos bombeiros e Proteção Civil, para a falta de limpeza do território florestal e para a negligência da população geral. No entanto, não é correto assumir que a história acaba aqui.

Pinheiro-bravo

De acordo com o Diário de Notícias, 90% da área ardida em Portugal em 2017 era ocupada por Eucaliptos e Pinheiros Bravos. Na verdade estas são espécies que cada vez mais cobrem a paisagem do país devido ao seu valor económico, visto haver um grande lugar no mercado para a madeira e resina originadas por estas árvores. Mas é também verdade que são árvores que ardem com uma facilidade maior que outras espécies características de Portugal, como castanheiros, isto porque possuem uma estrutura onde os pequenos ramos e folhas crescem de forma vertical facilitando a propagação do fogo e porque (no caso dos pinheiros) contém resina, que é altamente inflamável.
Além disso, os Eucaliptos precisam de muita água para sobreviver pelo que absorvem muita desta dos solos, tornando-os mais áridos e os pinheiros, por sua vez, desenvolvem-se melhor em locais onde os solos sejam mais arenosos. Assim, os dois conseguem coabitar e formam o ambiente perfeito para a deflagração de incêndios em massa, devido à sua morfologia e à dos solos onde estes se encontram.
No entanto, a paisagem não seria tão monotonamente cinzenta se as áreas plantadas com estas árvores não fossem excessivamente grandes. Se entre pequenas áreas de pinheiros e eucaliptos fossem plantados mais sobreiros (que por serem revestidos de cortiça, um isolador térmico natural, não ardem com facilidade e têm um grande valor comercial), castanheiros, carvalhos ou outras espécies, que além de pertencerem à fauna característica de Portugal, ao contrário dos Eucaliptos, contribuem para haver mais humidade tanto no ar como nos solos, que acabará por influenciar o ciclo da água e consequentemente a pluviosidade, diminuindo os fatores de risco de incêndios massivos.
Assim, é possível admitir que o efeito destruidor destes incêndios se deve muito aos fins comerciais da silvicultura e à má ordenação do território português e que este poderia ser moderado pela oferta de benefícios a quem procurasse repovoar as florestas tipicamente portuguesas.

Helena Ferreira Barbosa