Paulo Barracosa trabalha, como professor da ESAV, na questão do património arbóreo da cidade de Viseu, no qual intervém para torná-lo o “mais saudável possível”. A instituição está a elaborar um manual de boas práticas em relação aos jardins no qual explicita a forma como os jardins devem ser “tratados e cuidados”. Neste manual, são também enunciadas as melhores apostas na área dos jardins, de maneira a que sejam adaptados, sustentáveis e rentáveis.
Assume que a cidade de Viseu pode ser um jardim e que se “houver menos veículos de combustão no meio da cidade”, o papel das árvores na fruição do ar será mais relevante a nível climático. O professor afirma que se assiste atualmente a uma diferente interpretação sobre as estratégias de futuro para a sustentabilidade do planeta e que “nem todos afinam pelo mesmo diapasão”, ao reforçar a ideia de as grandes potências como os Estados Unidos da América, a China e o Brasil não se mostrarem preocupadas com estas alterações no clima. Paulo Barracosa argumenta que os países pequenos, como Portugal, não podem ficar inibidos de fazer alguma coisa e que a CM Viseu e a ESAV, têm que continuar a trabalhar para dar uma resposta às problemática das alterações climáticas.
Quanto à manutenção dos espaços verdes, realizada pelo Município, é de notar “uma melhoria significativa no modo de atuação”, ainda que “haja muito a fazer”, aponta Paulo Barracosa. Em entrevista aos Jovens Repórteres para o Ambiente (JRA), destaca a necessidade de políticas proativas que procurem enquadrar as exigências hídricas dos jardins com as questões estéticas e culturais, como, por exemplo, apostar na diversificação das espécies plantadas. A Câmara Municipal de Viseu (CM Viseu) terá, ao seu dispor, um suporte técnico-científico para saber agir corretamente no património viseense, com a publicação do manual referido anteriormente. De notar que este documento vai fornecer informações úteis sobre as características das espécies: as necessidades hídricas, necessidades de manutenção, como conseguir apostar na resistência a alterações climáticas, a fim de se conseguir minimizar os custos de manutenção nos recursos hídricos.
O professor da ESAV refere que a cidade-jardim tem ido ao encontro de políticas ambientais, com o objetivo de poupar água e combater as alterações climáticas. Para isso “já procedeu à alteração de espaços relvados da cidade, ao plantar arbustos e plantas autóctones”. Paulo Barracosa declara que, para medir a poupança de água nestes espaços, seria necessário fazer a monitorização para se conseguir saber “quanto é que o município poupou em termos de água, ao fim de um ciclo, e se é possível poupar mais”. Além disso, sugere que os espaços verdes da cidade deviam ser plantados com “espécies mais autóctones e que estejam melhor adaptadas” às alterações climáticas. Em Viseu, uma prova desta medida é a plantação de cardos na rotunda da ESAV. O professor menciona “ser importante passarmos por uma planta e saber reconhecer qual o seu potencial e as suas aplicações na prática”, e argumenta que esta planta (Cynara cardunculus) é “extremamente resistente ao clima e às alterações climáticas” aguentando, por exemplo, a falta de água, sendo ao mesmo tempo um ex-libris da região por causa do Queijo Serra da Estrela DOP, cujas flores são usadas na preparação de extratos para a coagulação.
O professor aborda projetos de poupança de água em curso na cidade e a colocação de “árvores a proteger edifícios da radiação solar no verão”, como a chave para o combate do aumento da temperatura. Segundo Paulo Barracosa, as árvores devem ser valorizadas nas cidades porque “nascem e morrem no mesmo lugar, gravando minuto a minuto, nos seus anéis de crescimento, a memória de uma cidade”. Por isso, devem ser valorizadas não só em vida, mas também depois de abatidas, ao servirem para a produção industrial de “um livro, de mobiliário ou até peças de artesanato”. Analisa o tema dos resíduos, ao referir que, do mesmo modo que se valorizam as árvores, também se deve ter em atenção a gestão do lixo, promovendo o hábito da reciclagem. Para incentivar a população a reciclar, sugere a “atribuição de um ecoponto a cada família”.
O biólogo considera que os projetos ambientais são relevantes para incentivar a poupança de água e o cuidado com o ambiente. Paulo Barracosa considera que esta é uma “área que necessita inevitavelmente de um grande envolvimento dos jovens de Viseu”. “Estes projetos são sem dúvida importantes, mas sem alunos nada valem”, apelou, desta maneira, ao desenvolvimento de mais ações relacionadas com a preservação da cidade-jardim. No entanto, para isto ser alcançado, o biólogo acrescenta ser necessária uma adaptação, por parte das escolas e da CM Viseu, para “modernizar a mensagem e ser transmitida o melhor possível”. Segundo o professor, Viseu destaca-se por possuir um excelente sistema viário, passeios limpos e estar muito bem servida de espaços verdes, cuja manutenção é fundamental para a cidade continuar a cativar novos cidadãos e visitantes, assumindo que “os jardins são um postal” de visita. “A cidade, não são só os jardins, são também as pessoas”, assume o investigador nesta entrevista aos JRA, invocando que os cidadãos nunca esquecem que “se soubermos receber bem as pessoas, Viseu é efetivamente uma cidade real”. Eleita com o título de “Melhor Cidade Para Viver” pela DECO e pela Escolha do Consumidor, “esta é, seriamente, uma cidade em que dá gosto viver”.
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