Acacia dealbata… sim ou não, eis a questão?

A intervenção do ser humano no ambiente tem vindo a alterar a distribuição natural de diversos seres vivos nos ecossistemas. Com esta ação, numerosas espécies são atualmente encontradas mais ou menos afastadas do seu local de origem, considerando-se por isso espécies exóticas. Frequentemente, as espécies exóticas nas regiões recentemente por si ocupadas, apresentam vantagem competitiva face às nativas, até pelo facto de aí não encontrarem predadores. Desse modo, estas espécies proliferam rapidamente, impedem o normal desenvolvimento das espécies autóctones, tornam-se invasoras, prejudicando o equilíbrio dos ecossistemas. A Acacia dealbata, vulgarmente conhecida por mimosa, é considerada uma planta invasora e fomos encontrá-la na zona ajardinada da Escola Básica e Secundária Carolina Michaëlis. Durante este ano letivo acompanhámos o seu desenvolvimento e, o final foi inusitado... terá sido a melhor forma de atuação?

A evolução do ser humano, e a sua distribuição pelo planeta, levou-o ao contacto com animais e plantas, que por motivos tais como alimentação, companhia ou proteção o foram acompanhando e, desse forma, chegaram a regiões que, não sendo o seu habitat natural passaram a ocupar.

Certas espécies conseguiram sobreviver com grande sucesso nos novos habitats, tornando‑se aí seres vivos comuns e, de algum modo, vantajosas para a alimentação humana, para as mais variadas atividades industriais bem, como do ponto de vista paisagístico e cultura.

As espécies introduzidas pelo ser humano em habitats diferentes dos da sua origem designam‑se por espécies exóticas. No entanto, nem todas as espécies, direta ou até indiretamente introduzidas pelo ser humano, estabeleceram uma relação equilibrada com o meio ambiente em que foram integradas, sendo não só exóticas como invasoras.

O termo “invasora” é atribuído a um ser não-nativa que:

  • inibe o crescimento de outros nativos no local onde se encontra;
  • é persistente, espalhando-se facilmente e afetando a área onde se encontra, nomeadamente, pode alterar o solo ou a quantidade de água disponível, não fornecer comida ou abrigo a animais, etc.;
  • apresenta métodos de reprodução capazes de rapidamente aumentar o seu número de indivíduos.

Neste vídeo, o tema “invasoras” vai ser explorado no âmbito das plantas, sendo, portanto, estas serão referidas como plantas invasoras.

A possibilidade de uma planta não-nativa ser categorizada como invasora, é algo que tem vindo a ser na atualidade amplamente discutido, tal como o modo como estas espécies devem ser tratadas. Por um lado, as plantas invasoras têm um grande impacte negativo nos ecossistemas. Por outro, podem ser plantas extremamente belas e com propriedades interessantes que, quando reguladas e controladas, podem contribuir para o desenvolvimento de uma área e prestar algum tipo de serviço do ecossistema onde se encontram.

Com o objetivo de melhor conhecer plantas invasoras, selecionamos a Acacia dealbata, planta conhecida por mimosa, que se encontra na zona ajardinada da Escola Básica e Secundária Carolina Michaelis e procurámos acompanhar a sua evolução ao longo do ano escolar (a nível taxonómico a planta é caracterizada novídeo que acompanha este trabalho).

A mimosa é reconhecível pelo seu pequeno porte, grande número de flores glomerulares amarelas e o seu fruto em forma de vagem. A sua floração inicia-se em janeiro e termina em abril, encontrando-se o período de frutificação da árvore em setembro e mantendo a sua folha durante todo o ano.

Oriunda da Tasmânia e da Austrália, a planta distribui-se um pouco por todo Portugal Continental e pelo arquipélago da Madeira, sendo principalmente utilizada para fins ornamentais e para a fixação dos solos.

No início do registo efetuado, fevereiro, foi detetado um subdesenvolvimento da planta para o que seria de esperar na época referida, nomeadamente, na quantidade e tamanho das flores.

Numa segunda fase, março, verificou-se uma evolução no desenvolvimento da planta registado até então, tendo aumentado largamente o número de flores e as folhas estavam mais verdes que nunca.

Em abril, foi registada a maior mudança na planta até então vista… o caule da planta tinha sido completamente cortado sendo apenas deixadas para trás as suas raízes que, pelo tamanho do espécime que vínhamos a estudar até então, seriam de grandes dimensões.

No mês de maio começou a ser registado o crescimento de um novo caule o qual manteve um ritmo constante ao longo de todo o mês.

Apesar das aplicações que esta planta possui, a sua densidade populacional promovem a alteração dos solos, impedindo o desenvolvimento e sobrevivência de outras plantas, o que favorece o seu crescimento.

As suas características de planta invasora, tornam-na, quando não controlada, indesejada por impedir o desenvolvimento de outras plantas nativas dos ecossistemas nos quais se instalaram, mas as atividades humanas acabam por promover o seu aparecimento.

A mimosa tem várias características que a tornam extremamente invasora, por exemplo, a capacidade de multiplicação vegetativa. Esta característica evidencia-se no caso previamente referido pelo novo caule. Outra particularidade desta planta é a resistência das suas sementes ao fogo, o que lhes permite sobreviver a devastadores incêndios e rapidamente repopularem a área, impedindo o desenvolvimento de outras espécies.

No entanto, vários botânicos e arquitetos paisagistas consideram que a decisão de abater ou não incorporar estes espécimes nas paisagens portuguesas é, de certo modo, excessivamente radical. Estes, afirmam que talvez as mimosas não sejam tão perigosas… e que a atitude que se tem perante este problema é “xenófoba”, tal como Sidónio Pardal, arquiteto paisagista do Parque da Cidade do Porto. Estes defensores realçam que, em situações nas quais a planta é controlada, esta pode trazer benefícios para a comunidade em que se encontra inserida, não só a nível paisagístico, mas também a nível cultural… como é o caso deste trabalho e da mimosa que foi nele estudada.

Alguns métodos de controlo utilizados para plantas deste género são:

  • arrancar as raízes das plantas jovens em épocas de elevada precipitação;
  • pulverizar um herbicida diretamente em plantas jovens. Nas plantas adultas, pode-se injetar o herbicida diretamente e imediatamente após cortes ou furos;
  • colocar outros seres vivos (por exemplo, Melanterius maculatusLea, um inseto que põe os ovos dentro das sementes da Acaciadeixando-as menos viáveis. Ainda não se tem resultados dos testes para verificar se este ser vivo é seguro para as plantas nativas por isso ainda não foi utilizado em Portugal e não é visto como um método de controlo da Acacia).

Estes métodos não são frequentemente aplicados porque, além de implicarem custos adicionais, os herbicidas usados no controlo da mimosa, podem afetar outras plantas.  Por outro lado, as espécies introduzidas para controlar as invasoras podem ser, elas mesmas, invasoras.

Concluindo, existem diversas vantagens e desvantagens na manutenção de espécies invasoras nos ecossistemas, e que foram exploradas ao longo deste vídeo, cabe-nos refletir sobre cada caso particular, e tomar decisões fundamentadas e consensuais.

Na nossa escola, situada no centro da cidade do Porto, a planta está confinada a uma zona ajardinada, tratada por jardineiros e perfeitamente isolada entre um muro e o campo de jogos de piso cimentado, talvez não ofereça grande perigo de desequilibrar o ecossistema onde se encontra. Para além do mais, parece-nos ter interesse do ponto de vista pedagógico dado que a população estudantil é, maioritariamente, urbana.

 

Bibliografia:

Sidónio, P. (S/D). Parque da Cidade do Porto: Ideia e Paisagem. Câmara Municipal do Porto. Porto

António Santos, Duarte Lopes, Filipa Amorim