Inaugurou-se, no passado dia 30 de novembro, na freguesia de Fradelos (concelho de Vila Nova de Famalicão), a Estação de Esforço Constante de Anilhagem Científica das Pateiras do Ave.
O dia começou bem cedo para o anilhador Thjis Valkenburg que, durante a madrugada, enquanto as aves repousavam nas árvores, já instalava as redes que as iriam reter quando iniciassem o seu voo. Utilizou redes verticais, também designadas de redes de nevoeiro, destinadas a aves de pequeno porte, pois “diferentes espécies requerem diferentes maneiras de as capturar conforme o seu tamanho…”, explicou Thjis.
Preparou-se, então, a mesa de anilhagem, laboratório ao ar livre, onde se organizaram todos os equipamentos indispensáveis à identificação das aves, como alicates, anilhas, guias de identificação de aves, réguas, balança e os sacos para as recolher, tudo em conformidade com os protocolos e regulamentos rígidos impostos pelas identidades reguladoras desta atividade, como a Central Nacional de Anilhagem e a EURING – União Europeia, para a Anilhagem de Aves.
Quando surgiram as primeiras aves capturadas nas redes, foram retiradas com todos os cuidados. Thijs refere que “… há uma certa maneira de manusear as aves”, exemplificando-a e acrescentou que “… este processo desenvolve stress nos animais e que por isso, deve ser feito o mais rápido possível…”. Posteriormente, colocou as aves num saco próprio para salvaguardar a sua integridade física e levou-as para a mesa de anilhagem.
Após a rápida identificação da espécie pelo anilhador (é de realçar que a sua vasta experiência permitiu que não precisasse de recorrer aos guias), os animais foram sujeitos a uma série de medições, como peso, massa muscular, massa gorda e comprimento da asa. Para avaliar o sexo e a idade foi necessário observar o padrão das penas, a sua forma, ou então a forma do bico, conforme a espécie em estudo. Numa das patas, Thjis colocou uma anilha metálica que não compromete o seu voo. O anilhador explica que “… a anilhagem permite marcar cada ave individualmente, pois cada anilha possui um código, distinguindo-a de todas as outras.”
Como exemplifica Valkenburg, “…se anilharmos aqui uma Felosa e, se daqui uns meses for recapturada no norte da Europa, temos a informação dessa viagem, o que permite ter uma noção das rotas de migração e da idade dos indivíduos.” Esta anilha permitirá saber por onde a ave passou, sendo assim possível delinear o seu trajeto.” Finalmente, devolveu-se a ave à natureza. A primeira ave anilhada na Estação de Esforço Constante de Anilhagem Científica das Pateiras do Ave foi um Pisco-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula) que, de forma simbólica, foi libertada pelo Dr. Pedro Sena, vereador do pelouro do Ambiente e Saúde Pública do município de Vila Nova de Famalicão, que assistiu de perto aos trabalhos.
Todos estes procedimentos devem ser efetuados por um anilhador profissional, credenciado pelo CEMPA – Centro de Estudos de Migrações e Proteção de Aves, instituição que acumula as funções de “promover, apoiar e desenvolver estudos técnico-científicos e programas de monitorização da avifauna nacional e dos seus habitats e fornecer suporte técnico para a tomada de decisão no âmbito da política de Conservação da Natureza”, como se pode ler na sua página da internet.
Durante a primeira sessão de anilhagem, mesmo sendo uma sessão experimental para o estudo de metodologias a implementar futuramente, foi possível anilhar 32 aves de 11 espécies diferentes. Anilharam-se, ainda, mais quatro Piscos-de-peito-ruivo (Erithacus rubecula); um Gaio (Garrulus glandarius); três Chapins-carvoeiros (Periparus ater); um Chapim-real (Parus major); sete Felosinhas-comuns (Phylloscopus collybita); três Toutinegras-de-barrete (Sylvia atricapilla); três Toutinegras-de-cabeça-preta (Sylvia melanocephala); duas Carriças (Troglodytes troglodytes); três Melros (Turdus merula); três Ferreirinhas (Prunella modularis) e dois Tentilhões (Fringilla coelebs).
Todos os dados recolhidos serão, posteriormente, enviados para a Central Nacional de Anilhagem e inseridos na plataforma e-Bird, a maior comunidade de observação de aves do mundo, que contribui para a ciência e conservação de espécies.
As sessões de anilhagem repetem-se mensalmente e permitirão também recapturar aves já anilhadas e comparar dados. Por outro lado, na Estação de Anilhagem também se formam novos anilhadores. Thjis, o anilhador/formador de serviço explica que “… para alguém se tornar anilhador precisa aprender com um anilhador certificado até ter uma credencial de aprendiz…” e ”… para obter essa credencial, é necessário anilhar pelo menos 2000 aves de 50 espécies diferentes!”.
Em busca de alimento e abrigo, muitas espécies de aves migram da Europa do Norte, quando o inverno chega, para lugares mais quentes no Norte de África. A intensa alteração das paisagens, provocada pela atividade antrópica, exige a identificação e preservação de condições propícias aos fluxos migratórios, em locais por onde os animais se possam movimentar de forma segura. Estes podem ser rios, linhas de costa, cadeias montanhosas, etc., e recebem o nome de “corredores ecológicos”. Como explica o ecólogo Vasco Flores Cruz, responsável pela Estação de Anilhagem,”… em Fradelos (no concelho de Vila Nova de Famalicão), cruzam-se dois corredores ecológicos: uma linha de montanhas com orientação norte-sul, paralela à costa, e o rio Ave com orientação este-oeste”, justificando-se assim a grande diversidade de aves e a instalação da Estação de Esforço Constante de Anilhagem Científica nesta localidade.
Webgrafia:
- https://ebird.org/portugal/home
- http://www2.icnf.pt/portal/pn/biodiversidade/ei/cempa/cempa-inicio
- https://www.facebook.com/Pateiras-do-Ave-Paisagem-Protegida-Local-100166754778047/?epa=SEARCH_BOX
- http://www2.icnf.pt/portal/pn/biodiversidade/ei/resource/doc/cempa/manual-anilh/man-anilh-anilhagem-cientifica
You must be logged in to post a comment.