“Não podemos estar sempre a mudar” diz o governante, quando há associações ambientalistas e especialistas de ciência ambiental a reconhecer que a infraestrutura tem problemas graves no projeto de construção. Dizem ainda que as medidas de compensação ambiental não vão impedir os impactes na fauna e na flora. Jonathan Franzen, escritor e birdwatcher, que recentemente esteve no estuário, em declarações ao Jornal Expresso, caracteriza a construção prevista como: “um crime contra a Natureza”. Ao visitar esta área protegida durante sete horas, considera o espaço como um local “notável e incrível”.
A preocupação que acompanha Jonathan Frozen, é idêntica à de várias organizações ambientalistas que já protestaram e recorreram para os tribunais portugueses e para a Comissão Europeia. Almargem, WWF, A Rocha, GEOTA, LPN, FAPAS, SPEA e ZERO defendem, à agência Lusa, que o processo referente a este novo aeroporto, “tem forçosamente que ser apreciado no contexto de uma avaliação ambiental estratégica”. Em comunicado, os ambientalistas salientam que “a construção deste aeroporto (…), tem de ter como base o conhecimento mais completo e atual de todas as componentes ambientais (climática, ecológica, social, económica, etc.)”.
300 mil aves em risco?
Sobre o estudo de impacte ambiental da Agência Portuguesa do Ambiente, as entidades acusam o documento de não considerar os impactos sobre os valores naturais, nem os impactos na saúde pública das populações. Assim, mete em causa a proteção das rotas das aves e os seus habitats “dado o risco posto pelas espécies que não foram devidamente estudadas”. É o caso, com base em dados do comunicado, dos “60 mil milherangos ou das 50 mil íbis-pretas que invernam (…) e que são ignorados no estudo”.
Neste grande mosaico de paisagens naturais, a variedade enorme de espécies poderá ser afetada pelos previstos “24 voos civis por hora com uma aterragem ou descolagem a cada três minutos”, alerta José Alves. O investigador da Universidade de Aveiro considera que as medidas de compensação propostas pelo Instituto de Conservação da Natureza de Portugal “não são funcionais” e colocam em causa a zona protegida.
Todos pensam no impacto ambiental?
Segundo a ANA Aeroportos, esta é uma infraestrutura para custar 1,3 mil milhões de euros com uma compensação ambiental projetada de 43 milhões de euros. O transporte de mais 50 milhões de passageiros para o país vai ser garantido com os cerca de 3000 voos extra que Lisboa poderá receber. Estes são os dados, quando nem todos pensam no impacto ambiental.
“O aeroporto do Montijo vai ter muito interesse, uma vez que vai desenvolver um setor em que somos carentes que é o da hotelaria e turismo”, defende Francisco Carriço, presidente da Associação do Comércio, Indústria, Serviços e Turismo do Distrito de Setúbal (ACISTDS). Em entrevista à Agência Lusa, em 2018, lembra também que vai ser preciso aumentar o número de hotéis na Península de Setúbal, para suportar a procura turística. Neste âmbito, a agência Lusa andou a recolher a opinião de comerciantes sobre um possível novo aeroporto. Sandra Camilo, funcionária de uma peixaria em Alcochete defendeu que a infraestrutura vai desenvolver a cidade, o país, criando “mais trabalho”. “Vou vender mais peixe, vai haver desenvolvimento, mais pessoas a ir e vir”, referiu.
Se por um lado é consensual que o Montijo pode trazer crescimento económico para os vários concelhos da zona de Lisboa, porém, também há quem defenda que os impactos ambientais, como o aumento de ruído, serão prejudiciais para a população. O aeroporto já é assumido como nosso, mas está longe de estar à vista.
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