Apesar de não serem tão populares como as florestas tropicais ou como alguns ambientes aquáticos, os pântanos refletem, enquanto ecossistemas, igual importância a estes últimos. São ecossistemas húmidos, apresentando-se, assim, na fronteira entre ecossistemas terrestres e ecossistemas aquáticos, e caracterizam-se como planícies parcial ou totalmente inundadas com águas paradas e pouco profundas, cuja superfície é coberta por uma vegetação bastante densa e cujo solo possui grande quantidade de vegetação em decomposição. As várias potencialidades dos pântanos conferem-lhes grande valor. Desde a capacidade de purificação de águas, através da absorção de resíduos nelas presentes; a retenção de águas da chuva, controlando cheias; até à proporção de condições ideais para a formação de turfas e eventual carvão, os pântanos possuem inúmeras funções significativas. Abarcam uma vasta biodiversidade e apesar de corresponderem a apenas 3% da superfície da Terra, conseguem capturar mais dióxido de carbono que grande parte das florestas do mundo, por meio da incarbonização que a matéria orgânica em decomposição realiza. Por serem reservatórios de água, atenuam secas e o aumento das temperaturas. Estes ecossistemas afiguram-se, portanto, como um excelente aliado contra o aquecimento global.
O Aquecimento Global é caracterizado por cientistas como o aumento da temperatura global do planeta em virtude do aumento do efeito de estufa criado pela atmosfera terrestre. Este efeito de estufa é, por sua vez, potenciado por gases com efeito de estufa, essencialmente o dióxido de carbono e o metano. Não obstante, a concentração destes últimos na atmosfera aumentou exponencialmente nos últimos dois séculos. A concentração de C02 na atmosfera, nos dias que correm, superam as registadas nos últimos 20 milhões de anos, segundo a World Wide Fund For Nature (WWF). Neste âmbito, os pântanos e outros ambientes húmidos, dada a sua alta capacidade de retenção de dióxido de carbono, surgem como uma potencial arma para combater as alterações climáticas despoletadas pela excessiva acumulação deste gás.
A Lagoa da Ervedeira, localizada numa área denominada como Mata do Urso, no concelho de Leiria, na freguesia do Coimbrão, não é um pântano, mas é dotada de virtudes igualmente benéficas para o meio ambiente, enquanto meio húmido.
Esta lagoa, juntamente com a Mata do Urso, foi considerada um sítio de interesse para a Conservação da Natureza (SIC), encontrando-se classificada como Biótipo CORINE – Programa da Comunidade Europeia para sítios de interesse científico e conservação da natureza. De acordo com o “Programa CORINE Biótipos”, encontram-se nesta área espécies com o estatuto de conservação, de ameaças de extinção e importantes aves migratórias. A Lagoa é um habitat favorável a inúmeras espécies dado que favorece a reprodução de anfíbios como a rã-verde (Rana perezi) e o sapo-comum (Bufo bufo); permite o abrigo de inúmeras aves que se sustentam na vegetação aquática, como o caniço (Phagonites australis), bastante presente, para nidificarem; a quietude e a abundância de alimento cativam inúmeras aves que migram para a lagoa, pelo que no Inverno é possível encontrar 19 espécies de aves no local e é rodeada por um território florestal no qual são presentes várias espécies autóctones.
Tal como os pântanos, também esta lagoa tem o poder regulador do clima e pode mitigar eventuais fenómenos de desertificação na zona. A par disso, defende ainda os territórios interiores da agressão da salinidade, preservando o litoral da erosão marinha. Por estas e por muitas outras nobres razões, a Lagoa da Ervedeira retrata a relevância que este tipo de ecossistema porta e, à luz dessa importância, tanto esta lagoa como muitos outros ambientes semelhantes devem ser preservados, facto ao qual não devemos ficar indiferentes, uma vez que conservar estes ecossistemas é conservar um ecossistema maior: o nosso planeta. No entanto, a Lagoa tem vindo a demonstrar indícios de degradação como a crescente poluição, a eutrofização e ainda uma redução no nível da água. A par destes problemas, também parte da mata que rodeava a Lagoa foi atingida pelos incêndios florestais que ocorreram no passado 15 de outubro de 2017, na região Centro do país, pelo que a sua conservação se tornou ainda mais urgente.
Com vista a alcançar este último ponto, um grupo denominado Grupo de Amigos da Lagoa da Ervedeira (GALE), reuniu-se na tentativa de “preservar a Lagoa”, no sentido de encorajar o uso sustentável da Lagoa, valorizar o património natural que nos presenteou com tal legado, preservando “as características e recursos” da mesma e de toda a área protegida. Desta forma, este núcleo assume um papel distinto e iniciativas como a limpeza da Lagoa e a reflorestação da mesma, são exemplos de ações que estes guardiões da Lagoa já levaram a cabo a fim de, não só defender este ecossistema, como simultaneamente consciencializar as comunidades locais da sua elevada importância.
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