Das várias bactérias multirresistentes presentes num dos relatórios da OMS (1, 2) sobre as resistências aos antimicrobianos (incluindo resistência a antibióticos), destaca-se a Staphylococcus aureus devido à sua elevada presença e disseminação na sociedade e em espaços públicos. Esta espécie de bactérias que se encontra frequentemente na pele e na mucosa nasal dos seres humanos, como de outros animais de estimação, é habitualmente associada ao contexto hospitalar. É uma bactéria de fácil transmissão através de contacto direto, o que aumenta substancialmente a sua presença e atividade na sociedade.
Estes microrganismos resistentes a antibióticos têm, essencialmente, origem hospitalar, devido ao frequente uso destes medicamentos em estabelecimentos de saúde.
O uso impróprio dos antibióticos contribui para o crescimento das populações de bactérias não sensíveis à atuação destes fármacos, sendo esta uma consequência do pobre conhecimento acerca da utilização de antibióticos que a nossa população tem. Segundo dados da Direção Geral de Saúde (DGS), apenas um em cada três portugueses sabe para que servem e como devem ser usados devidamente os antibióticos. Estes números demonstram que Portugal é dos países europeus onde há um reduzido conhecimento relativamente a este tipo de medicamentos.
Existem populações de Staphylococcus aureus que desenvolveram resistência a antibióticos eficazes como a meticilina, denominando-se methicillin-resistant Staphylococcus aureus (MRSA). Estas bactérias, ao serem resistentes a este derivado da penicilina, e ao se encontrarem em meios propícios para a sua reprodução, como as águas residuais, que contêm uma elevada taxa de nutrientes, vão sobreviver aos tratamentos a que são sujeitos nas ETAR. Estes tratamentos, segundo Alexandra Moura, investigadora do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro, são muito dispendiosos e pouco eficazes na eliminação desses microrganismos multirresistentes.
“O que influencia mais é o tipo de efluente que a ETAR recebe. Nos domésticos e de origem animal há maior prevalência”, diz a investigadora em declarações ao jornal Diário de Notícias, salientando que é urgente haver monitorização e controlo das águas residuais pós-tratamento em ETAR (5). |
A persistência destas bactérias nas águas residuais, sem que sejam eliminados pelos tratamentos das ETAR, vai provocar uma disseminação nos animais em meio aquático e terrestre. Estes animais, ao entrarem em contacto com o ser humano, como, por exemplo, através dos alimentos, vão levar a que a bactéria se aloje no organismo. A subsistência da MRSA no ser humano pode conduzir a intoxicações alimentares e, quando em meio hospitalar, causar infeções graves, podendo originar uma septicemia (infeção generalizada) e, consequentemente, a morte do indivíduo.
O relatório da Organização Mundial de Saúde já referido indica que os indivíduos infetados pela MRSA estão 64% mais propensos a morrer do que outros indivíduos com a forma não resistente da bactéria.
Especialistas estimam que até 2050 a resistência microbiana será responsável pela morte de 10 milhões de pessoas em todo o mundo. Portugal terá uma média anual superior a 1100 mortos por esta causa até 2050, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) (3,4). |
No entanto, para que este cenário não se venha a concretizar, é necessário tomar medidas que contribuam para a diminuição do desenvolvimento de multirresistência bacteriana. Destas medidas salienta-se a toma de antibióticos somente quando estritamente necessário e quando prescritos por um médico, completando todas as dosagens recomendadas. Quando terminado o tratamento, as embalagens devem ser levadas a um ponto de recolha, presente numa farmácia, para serem devidamente eliminadas sem prejudicar o meio ambiente. Aos profissionais de saúde e farmacêuticos é recomendada a prevenção de infeções para que não seja necessário o uso desmedido de antibióticos.
Por outro lado, deve-se também encorajar a cooperação e circulação de informação entre todos os profissionais e o público em geral, para que os antibióticos não sejam encarados como um fármaco de toma regular, mas sim como um medicamento de toma esporádica e que tem várias consequências negativas para o ambiente.
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