Para Silke Karcher, responsável do Departamento de Ação Climática e Políticas de Energia do Ministério do Ambiente Alemão, uma das vantagens do confinamento, está relacionada com a diminuição das viagens de avião: “Antes da pandemia, os representantes dos vários países viajavam para Bruxelas para reuniões de 1 hora ou 2 horas, e, na verdade, agora estamos a perceber que era algo que facilmente se fazia por videochamada”. A pandemia de Covid-19, além de obrigar a população mundial a alterar os estilos de vida e o seu dia a dia, obrigou também a uma mudança na circulação e na mobilidade.
Com o aparecimento do novo vírus, mudaram-se as formas de deslocação e divertimento, tal como o modo como se compra e se trabalha. Todas estas mudanças acarretaram enormes benefícios para o ambiente, porque houve uma diminuição da circulação dos diversos meios de transporte, o que levou a uma redução de 7% das emissões de carbono para atmosfera, segundo informação publicada pela University of East Anglia (UEA) sobre o Global Carbon Budget 2020. As videoconferências, o teletrabalho, os passeios ao ar livre, as compras online, os programas de streaming e as redes sociais estão cada vez mais presentes no dia a dia de todos. Assim, as pessoas têm menos necessidade de sair de casa a todo o momento, utilizando o automóvel.
“Não podemos fazer o mesmo com o clima que estamos a fazer com a Covid-19.”, alerta Silke Karcher, numa conferência com alunos integrantes do projeto europeu Three4Climate, a 19 de novembro de 2020. “A verdade é que a maioria das pessoas aceitam as regras e as leis relativas à pandemia porque estão conscientes que elas são vigentes por um determinado período de tempo, mas o mesmo não aconteceria se disséssemos aos cidadãos «agora nunca mais ninguém vai poder conduzir um automóvel a combustível por causa do clima»”, refere.
A este respeito, Svenja Schulze, Ministra Alemã do Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear, também presente na conferência, refere o exemplo da indústria automóvel no seu país: “O que nós tentamos fazer é trazê-las [as empresas] para o futuro (…) e ajudá-las nessa mudança de alterar a indústria automóvel para carros elétricos para não haver perda dos empregos, alterando assim o foco da produção”. A Ministra declara ainda que esta mudança não diz respeito apenas aos veículos ligeiros, mas também aos pesados, que, fruto do aumento das compras online, têm circulado com mais intensidade.
Em resposta à pergunta “O que podemos fazer para compensar os danos que as baterias de lítio [usadas no fabrico dos carros elétricos] estão a fazer ao ambiente?”, Svenja Schulze respondeu que a melhor opção seria dar várias vidas à mesma bateria, introduzindo o conceito de economia circular.
Foram realizadas várias sugestões, tendo em vista a diminuição do impacto ambiental decorrente dos transportes, para que Svenja pudesse levar para discussão. Alguns exemplos são: que os rótulos contivessem a pegada carbónica, para que o consumidor pudesse ser mais consciente nas suas escolhas; a implementação de um sistema de boleias nas escolas e a construção de uma ciclovia que desse a volta à Europa.
O trio de presidência do Conselho Europeu – Alemanha , Portugal e Eslovénia – está representado nos países que dinamizam este projeto internacional (Three4Climate) – Alemanha (Bielefeld), Portugal (Loulé e Braga) e Eslovénia (Maribor e Kranj). Este tem como objetivo partilhar boas práticas e colocar a Europa firmemente num caminho de neutralidade de carbono até 2050 e fortalecer a liderança global em tecnologia digital e verde. No âmbito deste projeto, durante o encontro por videoconferência, estiveram presentes alunos das escolas dos três países, a responsável do Departamento de Ação Climática e Políticas de Energia do Ministério do Ambiente Alemão e a Ministra do ambiente da Alemanha. No que diz respeito a estas decisões estratégicas, Silke Karcher reforça que “independentemente a que nível forem tomadas – local ou internacional – não se deve, em nenhum momento, descurar os impactos que essas têm a nível ambiental.”