Barragens: Múltiplas funções e Múltiplos problemas?

As barragens são empreendimentos que exigem avultados investimentos e que trazem inegáveis benefícios para as populações mas são também muitas as suas desvantagens.

Uma barragem, açude ou represa é uma barreira artificial, feita em cursos de água, para a retenção de grandes quantidades de água.

As barragens apresentam múltiplas funções. Elas permitem a manutenção de um abastecimento regular de água às populações e atividades económicas, ao longo de todo o ano. Possibilitam o armazenamento deste precioso recurso nas alturas em que este é mais abundante, para ser utilizado nos períodos de maior escassez. No caso de Portugal, estes períodos de carência normalmente correspondem à época estival.

Estes empreendimentos permitem uma regularização dos caudais, diminuindo a frequência de cheias e inundações a jusante da construção, com benefícios para as populações pois este tipo de risco climático extremo pode provocar avultados prejuízos materiais e humanos.

Estas obras podem servir para outras finalidades, nomeadamente a produção de energia hidroelétrica. Esta situação reveste-se de especial importância no nosso país pois o aumento da produção deste tipo de energia terá como consequência a diminuição da necessidade de importação de combustíveis fósseis, com impactes positivos na balança comercial – diferença entre o valor das exportações e das importações de um país, ao longo de um ano. Simultaneamente, contribuirá para alcançar os objetivos de descarbonização e de garantir a autonomia energética do país.

A concretização destas obras, cria empregos, fixa as populações, poderá também permitir uma alteração do uso dos solos e desenvolver a agricultura.

Por exemplo, a barragem do Alqueva, situada no rio Guadiana, na região do Alentejo, é uma albufeira com 250 km² e mais de 1100 km de margens que abrange cinco concelhos do Alentejo: Portel, Moura, Reguengos de Monsaraz, Mourão e Alandroal, permitiu a reconversão de terras agrícolas com a criação de milhares de hectares de culturas de regadio e o desenvolvimento turístico da região.

Apesar de todas as vantagens atrás enunciadas, as barragens não estão isentas de problemas, nomeadamente ao nível ambiental. Por este motivo, a decisão de construção de uma barragem deve ser antecedida de um minucioso estudo de impacte ambiental para minimizar os impactes negativos. Estes são a alteração das paisagens naturais devido à formando grandes lagos artificiais. Estes submergem áreas consideráveis provocando alterações significativas nos ecossistemas com a consequente destruição da Fauna e da Flora pois por vezes as áreas de desova dos peixes são inundadas e as suas migrações sazonais impedidas.

Por vezes, a criação da albufeira submerge áreas com potencial agrícola e obriga à deslocação de populações, com consequências gravosas a nível económico e social. Por vezes, há o perigo de perda de património histórico de elevado valor, como esteve em risco de acontecer em 1995 em Foz Côa, onde a construção da barragem projetada para o local teria submergido as gravuras rupestres entretanto descobertas.

A dinâmica fluvial também é afetada, uma vez que há um seccionamento dos rios, verificando-se uma diminuição considerável da quantidade de sedimentos que chegam até ao litoral e uma redução significativa do tamanho das praias pois a diminuição do fluxo fluvial origina uma diminuição da capacidade de transporte de sedimentos. Esta situação tem como consequências o aumento da erosão costeira e o recuo da linha de costa. Após a construção de uma barragem o leito do rio sofre um processo de erosão acentuado, diminuindo a cota média do leito o que pode se pode refletir na segurança das infraestruturas aí instaladas, como por exemplo as pontes.

As barragens intervêm no ciclo hidrológico uma vez que o percurso do escoamento superficial é alterado. O elevado custo de construção é também outro fator que não pode ser desconsiderado.

Pelo atrás exposto, a decisão de construção destes empreendimentos deve ser muito ponderada e analisados os custos e os benefícios. Quando os benefícios superam os aspetos negativos e é tomada a decisão de construção, estes devem ser minimizados, nomeadamente preservando a biodiversidade através da criação de berçários (sistemas de nidificação) para a nidificação de peixes, como foi realizado no rio Sabor. Uma forma de minimizar o efeito-barreira das barragens junto dos peixes, são as chamadas “escadas de peixes”, que permitem a circulação dos peixes entre montante e jusante destas infraestruturas. As eclusas de Borland e os elevadores cumprem os mesmos objetivos.

Para compensar o balanço sedimentar negativo nas praias resultado do menor afluxo de sedimentos, têm sido adotadas algumas medidas como a construção de esporões e a realimentação artificial das praias.

https://www.edp.com/pt-pt/mil-e-uma-funcoes-de-uma-barragem

https://www.uc.pt/fluc/depgeotur/publicacoes/Livros/livro_homenagem_FRebelo/441_461

http://www.gecorpa.pt/Upload/Revistas/Rev56_Artigo%2003.

http://www.gecorpa.pt/Upload/Revistas/Rev56_Artigo%2008.pdf

https://greensavers.sapo.pt/quais-sao-as-consequencias-das-barragens-na-regiao-do-douro/