Nos últimos anos, o número de animais transportados vivos a partir de Portugal, por via marítima, tem tido um crescimento inédito. A primeira viagem documentada pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), que levou animais vivos de Portugal para Israel teve início a 10 de setembro de 2015 quando 3.500 bovinos embarcaram no navio Holstein Express no porto de Sines, sendo transportados em 70 camiões até ao porto. Só em 2016, foram exportados, por via marítima de Portugal para o Médio Oriente e Norte de África, 83 000 ovinos e bovinos que se destinam à engorda e ao abate e estes números crescem de ano para ano.
A Plataforma Anti-Transporte de Animais vivos (PATAV) é um Movimento Apartidário e Voluntário que, desde 2017, luta pelo fim ao transporte de animais vivos por via marítima, denunciando o sofrimento a que os animais estão sujeitos durante os vários dias ou até semanas que separam os cinco continentes. Choques elétricos, pontapés, cornos partidos, esta é a cruel realidade vivida no emergente mercado do transporte de animais vivos a partir de Portugal. O transporte de animais vivos é uma realidade horrenda, visto que causa sofrimento e ansiedade nos animais. Estes chegam aos destinos feridos cegos, fracos, desidratados e sujos. Sem higiene, sem espaço, por vezes sem acesso a alimentação suficiente, sem dignidade, todas estas horas são passadas com a única finalidade de rentabilizar ao máximo cada um dos animais, sejam eles gado bovino e ovino.
E porquê? A razão é bastante simples: transportar milhares de animais em espaços extremamente confinados no porão de grandes navios, sem as condições mínimas de bem-estar torna-se um negócio muito lucrativo. Mas não é só durante o seu transporte que os animais são torturados. Um dos países recetores de animais vivos a partir de Portugal é Israel. De acordo com os rituais judeus e muçulmanos “Kosher e halal”, os animais devem ser sacrificados com um corte na garganta e deixados dessangrando por horas até morrer.
Apesar da Regulamentação Europeia[1], referir que as viagens de longo curso devem ser evitadas sempre que possível, estas são cada vez mais frequentes e há suspeitas de alegados incumprimentos ao longo do processo. Em Portugal, o Decreto-Lei n.º 265/2 007[2] que regulamenta o transporte de animais vivos é claramente insuficiente para assegurar o bem-estar animal e a fiscalização é quase inexistente.
É importante salientar que estamos a falar de seres sencientes, ou seja, seres que sentem, tal como nós, a dor física e o sofrimento que lhes é infligido.
A pensar nesta realidade horrenda, os alunos da turma 1004 do Agrupamento de Escolas D. Sancho I de Vila Nova de Famalicão desenvolveram, no âmbito da componente de Cidadania e Desenvolvimento, um projeto que procura sensibilizar a comunidade escolar e a sociedade em geral para as diversas questões éticas e ambientais levantadas pelo transporte de animais vivos. Com o apoio da PATAV, os alunos refletiram e debateram a situação do transporte de animais vivos, auscultaram a comunidade escolar, produziram vídeos, folhetos e cartazes de sensibilização e escreveram cartas aos Partidos Políticos. No dia 14 de junho, o Agrupamento irá assinalar o Dia Internacional da Consciencialização contra o Transporte de Animais Vivos com uma exposição temática, palestras e ações diversas que visam despertar consciências e sensibilizar a comunidade escolar para o sofrimento dos animais durante o seu transporte em viagens de longo curso.
Os animais não podem falar, vamos dar-lhes a sua voz, para um futuro mais digno e sem dor para os animais de produção!
[1] Regulamento (CE) N.o 1/2005 do Conselho da União Europeia sobre a proteção dos animais durante o transporte e operações afins.
[2] Decreto-Lei n.º 265/2007 (Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas).
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