Invasores verdes destroem biodiversidade em Sintra. E já chegaram à nossa escola!

baçao12Foi com esta afirmação enigmática que começou uma aula extra e diferente. Quando chegámos à sala, estavam, em cima de uma mesa, alguns fragmentos do exército invasor e os invasores, esses terríveis inimigos, tinham ramos, folhas, flores e frutos – eram plantas.

As plantas invasoras são espécies de plantas exóticas (de outra região do mundo) que, depois de introduzidas, pelo homem, se naturalizaram, isto é, se “escaparam” para o ambiente natural e se desenvolveram e reproduziram de modo autónomo. Chamam-se invasoras porque competem com espécies da flora autóctone (local) e invadem o seu território.

Como não são da região, não têm inimigos naturais, o que favorece mais o seu desenvolvimento. Assim formam-se manchas compactas de uma só espécie. É o que alguém chamou – “deserto verde”.

Na nossa escola também existem plantas invasoras, uma delas é a árvore-do-incenso (Pittosporum undulatum). Depois de observarmos ramos com frutos em formação e vermos fotografias fomos para o recinto escolar procurar exemplares, recolher dados, descobrir mais sobre esta espécie e sobre a forma correta de atuar.

 

bacao2Originária da zona oriental da Austrália, a árvore-do-incenso foi introduzida na escola como espécie de jardim pela sua capacidade de resistência, velocidade de crescimento, por propiciar uma ótima sombra e ter flores aromáticas. A maior árvore terá cerca de 10 metros, produz muitas sementes que não têm qualquer dificuldade em germinar entre pedras, junto aos passeios ou mesmo nas cicatrizes das folhas das palmeiras. Aqui está o segredo do seu sucesso, produz muitas sementes, germina facilmente (sobretudo em zonas com alguma sombra e humidade), não é exigente em termos de solo. As árvores desenvolvidas não têm outras espécies na sua proximidade porque a sombra fechada e as toxinas das suas folhas eliminam a “concorrência”.

Na nossa escola está por todo lado, menos nos canteiros e relvados por ser retirada pelo nosso jardineiro, o senhor António. A sua presença em alinhamentos, formando uma sebe, também se deve ao senhor António, que aí as deixa crescer para depois as podar. É fácil e rápido fazer uma sebe com esta espécie. Não se espalhou para fora da escola. Mas, nos Açores a construção de sebes com esta espécie foi o começo de uma “invasão” que põe em risco de extinção uma espécie, o priolo (Pyrrhula murina) – a espécie de passeriformes (pássaros) mais ameaçada da Europa e um endemismo açoriano. Está presente em Sintra e pode ser mais uma ameaça à floresta autóctone.

A eliminação das duas árvores maiores parece cruel e talvez desnecessária, mas deve-se monitorizar a zona pois pode eventualmente desenvolver-se ao longo da linha férrea que passa junto à escola. As outras plantas devem ser eliminadas porque não é correto a escola estar a favorecer a proliferação de uma espécie invasora. Os rebentos jovens podem ser arrancados, à mão no inverno, para se garantir que as raízes saem da terra, caso contrário voltam a rebentar.

Nós não tínhamos noção desta situação, nem o senhor António, o jardineiro, que como outros, serve de cúmplice a uma proliferação do “deserto verde”. Fica-nos a lição que a falta de informação pode ser um sério inimigo da biodiversidade.

 

Trabalho de um grupo de alunos das turmas 11ºC4 e 11ºC6. Professor coordenador – Fernando Bação