Em entrevista Thomas Bourgenot, membro do Résistance à l’Agression Publicitaire – Resistência à Agressão Publicitária (R.A.P.), afirma que a publicidade luminosa é “um desperdício de energia, que aumenta o consumo de eletricidade, lixo nuclear e emissões de CO2”, para além disto perturbar a fauna e a flora. “Essa produção de luz muda a trajetória das aves migratórias e mata insetos, atrasa a queda das folhas e interrompe a polinização pelas mariposas (borboletas noturnas) e é um impacto na saúde humana”, remata o membro do RAP. O excesso de luz causa distúrbios do sono, incluindo uma queda na produção de melatonina, que é vital para o bom funcionamento do nosso corpo. No que concerne ao céu estrelado, um estudo intitulado Novo Atlas Mundial do Brilho Artificial do Céu (The New World Atlas Of Artificial Night sky brightness) que investigou o nível de fotopoluição, chegou à conclusão que 99% da população europeia e norte-americana vive sob céus contaminados por poluição luminosa, e que no caso dos europeus, 60% deixaram de ver a Via Láctea, a galáxia onde vivemos. O direito à observação de corpos celestes está impossibilitado pelo excesso de luz artificial, e o ativista refere ainda que há estudos que apontam que “mesmo baixando em 80% a intensidade da luminária nos centros urbanos de grandes cidades, a poluição luminosa permanece quase a mesma”, apontando a causa às “montras e publicidade luminosas do setor privado”presente em abrigos de autocarros, montras e painéis publicitários iluminados.
Thomas Bourgenot avisa também que cada vez mais há mais painéis publicitários luminosos, que utilizam a tecnologia LED, que causam grandes perturbações quanto à fotopoluição, e que também requerem grandes quantidades de energia, “cada painel numérico, tem um consumo de 6800 kw/h anual, equivalente ao consumo energético de duas famílias e, no caso de um painel de dupla face os gastos sobem para os 12600 kw/h anual, segundo os contratos disponibilizados”, alertando ainda para o “aumento deste tipo de estruturas publicitárias modernas, que estão a substituir os de mobiliário urbano tradicional que têm consumos entre 600 – 1000 kw/h por ano”.
Países e cidades da Europa, tal como em França, usam deliberadamente menos luz do que Portugal, e em muitos locais desligam até as luzes nos períodos de menor fluxo. Esta ideia é simples: “Porque não desligar as luzes entre as 01:00 e as 06:00, altura em que não há movimento nas ruas da maior parte das cidades?” Esta é uma ideia apresentada por Thomas Bourgenot.
No caso francês, várias federações empresariais não vêem o artigo 5 do Projeto de Lei do Clima e Resiliência, com bons olhos. Criaram assim a iniciativa “Não toque na minha montra!” (Touche pas à ma vitrine!), onde protestam contra este artigo que dá aos presidentes de câmaras a oportunidade de regulamentar o uso de outdoors e placas iluminadas nas suas vitrines, que por sua vez se defendem dizendo que é prejudicial para os negócios. Thomas confessa que “não sou contra a publicidade, mas quero que seja menos agressiva”. O aumento da criminalidade contra os negócios é invocada, mas o entrevistado contrapõe que “desde que há obrigação de desligar as luzes nas lojas, não se ouviu falar de um aumento dos casos de vandalismo de montras, ao longo destes dois anos de implementação”, diz ainda que não tem conhecimento de estudos científicos que corroboram esta tese defendida por comerciantes.
O ativista refere a dificuldade em controlar quem cumpre esta disposição legal, mas há muitos comerciantes que “veem a fatura da eletricidade baixar”, e como tal aceitam esta situação, mas que há outros que alegam que “os 750 euros de multa compensam o acréscimo de vendas que, supostamente, advém da publicidade luminosa em funcionamento”. Este argumento é aceite pelo ativista, mas acha estranho “que se possam gerar vendas em horas em que os consumidores não podem comprar os produtos”, por este motivo, acha que “a lei poderia ter ido mais longe e que logo que um estabelecimento encerre deveria desligar as luzes, por não ter possibilidade de realizar mais vendas”.
Esta ideia também está a dar passos em muitos países desenvolvidos, como a Alemanha, Reino Unido e Espanha, países que têm legislado ou estão a introduzir medidas de regulamentação da luz à noite.
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