O concelho de Sever do Vouga é um exemplo muito antigo de produção de energia sustentável desde a construção da barragem do Rio Vouga, propriedade da então empresa de massas alimentícias “Massas Vouga” que, para se autossustentar, construiu a referida barragem entre as freguesias de Paradela e Pessegueiro do Vouga.
Por definição, a energia sustentável é aquela que não põe em causa a capacidade das futuras gerações satisfazerem as suas necessidades energéticas, são, por assim dizer, renováveis e limpas, podendo, no entanto, causar algum impacto ambiental.
Se esta pequena barragem permitiu que uma empresa funcionasse e desse emprego a centenas de pessoas durante largos anos, teremos de admitir que os benefícios que trouxe foram evidentes, apesar da paisagem do rio se ter modificado com a sua construção e se ter criado uma barreira artificial entre a nascente e a foz. Esta barragem ainda hoje funciona trazendo riqueza a quem a explora.
Passado cerca de quatro décadas desde o fecho desta empresa, a montante da antiga barragem são agora construídas duas modernas barragens, de Ribeiradio e Ermida, que permitirão a produção de energia limpa e que enquanto durar a sua construção dão emprego a centenas de pessoas. É igualmente evidente que o investimento na construção destas barragens gera riqueza, mas o benefício trazido ao concelho de Sever do Vouga não é tão claro como o foi o benefício trazido às gentes de Sever com a barragem das “Massas Vouga”. Os tempos mudaram e o simples facto destas barragens estarem em Sever do Vouga não traz para os severenses os benefícios de outrora. Hoje poderia, por exemplo, trazer alguma redução no custo da energia elétrica ou uma percentagem dos seus lucros para o(s) município(s), mas não é o caso.
Há, de facto, uma percentagem atribuída a um município, mas não é nem ao de Sever do Vouga, nem ao de Oliveira de Frades, mas sim ao município de Lisboa, que é onde está sedeada a empresa que explora estas barragens, ou seja, a EDP. Esta situação parece estar prevista na lei. Significa, assim, que todas as barragens construídas e exploradas pela EDP em Portugal trazem uma receita muito desejada ao município de Lisboa. Claro está, que isto nunca mudará, pois todos os políticos estão em Lisboa. Não é a EDP que, pelo que nos é dado saber reconhece a injustiça de tudo isto, pode mudar a lei. Esta receita seria a melhor contrapartida que estes empreendimentos poderiam trazer aos municípios onde se encontram.
Em conclusão, refiramos a sustentabilidade insustentável, isto é, poderemos chamar a estas barragens fontes de energia sustentável porque não põem em causa a sustentabilidade energética das futuras gerações, mas não é tão certo que não ponham em causa a sustentabilidade económica das atuais, por sobre estas imporem grandes custos da energia, não inevitáveis mas devidos ao lucro e monopólio de uma grande empresa que, como outras, não sofre os efeitos da crise.
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