A seca é um período em que as condições climáticas de um lugar se alteram devido à ausência ou escassez de precipitação. Podemos considerar a existência de dois tipos de seca. A seca meteorológica é um período anormal de tempo seco, suficientemente longo, devido à ausência ou escassez de precipitação. A seca hidrológica corresponde à diminuição das reservas hídricas, como por exemplo a redução significativa do caudal dos rios, do nível das albufeiras e lagos e da drástica diminuição da quantidade de água no solo e nos aquíferos.
Em Portugal, o IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera) é a entidade responsável pela monitorização deste fenómeno.
Atualmente, 38,6% do território nacional está em seca extrema, 52,2% em seca severa e 9,2% em seca moderada. O mês de janeiro de 2022 foi o segundo mais seco desde o ano 2000 e o sexto desde 1931. Segundo a entidade acima referida, nas duas primeiras semanas de fevereiro ocorreu apenas 7% da precipitação normal para a época. Nos distritos de Castelo Branco, Évora e Setúbal foi apenas de 2%.
Desde 2005 que Portugal não tinha tantas regiões em seca severa e extrema, durante o Inverno. As regiões que estão a ser mais afetadas por este fenómeno são o Alentejo e Algarve. No entanto, foram registados episódios de seca nos anos de 2012 e 2017.
Nos últimos vinte anos, Portugal perdeu cerca de vinte por cento dos recursos hídricos, sendo o índice de escassez maior nas regiões do Sado, Mira e Algarve. Prevê-se uma redução da precipitação, no nosso país, entre dez e vinte e cinco por cento até ao ano de 2100. Para além da redução da precipitação média anual, também é previsível que esta seja mais concentrada no tempo.
Anualmente, são captados 6 mil hm3 de água em Portugal. A maior parte, mais de setenta por cento, são destinados à agricultura. Esta é uma das atividades que mais está a sofrer com a atual seca. A percentagem de água existente no solo está inferior ao normal para esta época do ano. Regista-se uma diminuição da produção de cereais, estando os seus preços a aumentar nos mercados. Segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística), verifica-se uma diminuição de 5% da área de cultivo de cereais de Inverno. No que concerne à aveia, constata-se uma redução de 40% da produtividade. No Algarve, a produção de amêndoa e alfarroba já está a ser afetada. Segundo um estudo publicado na revista “Nature Climate Change” a chegada da primavera está a avançar 1,2 a 2,2 dias por década, o que leva a florescimento precoce das plantas com consequências ao nível do ciclo do carbono. As repercussões também se fazem sentir relativamente ao preço da carne, que tem vindo a aumentar dado que a redução dos pastos obriga os produtores a uma suplementação extraordinária recorrendo a rações e forragens, o que se traduz num acréscimo de custos. O agravamento desta situação poder-se-á traduzir em ruturas no fornecimento de águas às populações, numa diminuição da produção de energia hidroelétrica e numa diminuição da qualidade da água dos rios. As secas favorecem a criação de condições para a ocorrência de incêndios e para aumentar erosão do solo.
Urge adotar medidas para prevenir e atenuar as consequências das secas. Ao nível da agricultura, dever-se-á apostar no cultivo de plantas menos consumidoras de água e optar por alimentos sazonais e de produção local. É necessário a adoção de métodos de produção mais sustentáveis e no âmbito da PAC (Política Agrícola Comum) é necessário reforçar o auxílio aos agricultores para que possam enfrentar estas situações que são cada vez mais recorrentes.
Cada cidadão deve adotar um conjunto de atitudes que contribuam para a minimização do problema, através de uma gestão racional dos consumos, nomeadamente condicionar a rega de espaços verdes e a lavagem das ruas, colocar redutores de caudal nas torneiras e reduzir o consumo de carne. É fundamental reduzir o desperdício no abastecimento público, que a nível nacional é cerca de 30%. Outras alternativas poderão ser a realização de transvases, apostar na dessalinização (prevê-se que a primeira central entrará em funcionamento em 2025, no Algarve) e no tratamento de águas residuais. As águas das ETAR’s podem ser utilizadas para fins não potáveis.
Este problema não pode ser encarado como uma situação de emergência, a estratégia para o enfrentar deve ser orientada para o combate às alterações climáticas pois prevê-se que este risco climático irá ocorrer com cada vez mais frequência.
https://rea.apambiente.pt/content/seca
https://apambiente.pt/prevencao-e-gestao-de-riscos/secas
https://www.ipma.pt/pt/educativa/tempo.clima/index.jsp?page=seca.causas.xml
https://eco.sapo.pt/2022/02/17/seca-castiga-producao-de-cereais-e-pecuaria-aumentando-precos/