A avaliação da qualidade do ar é determinante para uma avaliação dos riscos ambientais e fornece dados relevantes para desenvolvimento de medidas para a proteção da saúde das populações. Um método de estimativa de contaminantes é a denominada biomonitorização. Utilizando organismos vivos pode estudar-se o efeito de todos os contaminantes atuando em conjunto. A presença de líquenes, a sua quantidade e distribuição fornecem indicações sobre a importância de impactos ambientais, tendo em conta que uma boa correlação entre a diversidade destes organismos e a concentração de contaminantes. Um grupo de alunos do Colégio Valsassina está a desenvolver um estudo que pretende dar um contributo para a avaliação qualitativa da poluição na cidade de Lisboa.
Vivemos uma era globalizada dominada pela tecnologia e pela indústria. Como consequência, ao longo das últimas décadas tem sido evidente um aumento da poluição atmosférica, a qual interfere diretamente com a qualidade de vida e saúde de milhares de pessoas em todo o mundo. A perceção para este problema e suas consequências tem vindo a aumentar nos últimos anos. De acordo com dados do Eurobarómetro[1] publicados no início de janeiro de 2013, no âmbito de uma investigação da Comissão Europeia sobre a “Atitude dos Europeus face à qualidade do ar”, mais de metade dos portugueses considera que a qualidade do ar em Portugal deteriorou-se nos últimos dez anos. e que uma das principais prioridades da União Europeia (UE) deveria ser a poluição atmosférica causada pelo transporte.
A avaliação da qualidade do ar é determinante para uma avaliação dos riscos e fornece dados relevantes para desenvolvimento de medidas para a proteção da saúde das populações.
Um método de estimativa de contaminantes é a denominada biomonitorização ou por outras palavras, trata-se da amostra das alterações ambientais no qual se utilizam parâmetros biológicos. Os seres vivos não são utilizados como centrais de amostragem que oferecem valores numéricos, mas sim como informadores dos desvios das condições normais perante processos como a contaminação. A biomonitorização não é um método alternativo ao instrumental, mas é complementar, já que proporciona grande informação com respeito à contaminação, individualizando possíveis zonas de risco, e otimizando a localização dos instrumentos de medida.
Utilizando organismos vivos pode estudar-se o efeito de todos os contaminantes atuando em conjunto, uma vez que um bioindicador é um integrador, o que não ocorre com as estações automáticas instrumentais de amostra de qualidade do ar. As variações ecológicas, devidas à contaminação atmosférica que se produzem num organismo, podem manifestar-se a 3 níveis (Salegui, 2002[2]):
1. Acumulação de substâncias contaminantes nos organismos.
2. Modificações morfológicas ou estruturais nos organismos.
3. Alterações na composição da comunidade animal e/ou vegetal.
No contexto da biomonitorização merece particular destaque o uso dos líquenes. Estes foram reconhecidos mundialmente como sendo organismos muito sensíveis frente aos nocivos efeitos da contaminação atmosférica, atuando como monitores contínuos e integradores das condições ambientais. Está provado cientificamente que a contaminação atmosférica afeta os líquenes de forma drástica, mesmo quando outros seres vivos ainda não mostram nenhum sintoma de terem sofrido qualquer dano.
Tendo por base a relação existente entre os níveis de contaminação atmosférica de uma zona específica e os efeitos mostrados pelos líquenes, especialmente aqueles que se desenvolvem sobre os troncos e ramos de árvores (líquenes epífitos), um grupo de alunos do Colégio Valsassina está a desenvolver um estudo que pretende avaliar o nível de poluição atmosférica da cidade de Lisboa.
Com a colaboração da investigadora Palmira Carvalho do Museu Nacional de História Natural e da Ciência/Jardim Botânico da Universidade de Lisboa, foram selecionados quatro locais em Lisboa para proceder às amostragens, recorrendo ao método padrão de amostragem.
Os líquenes (do grego Leikhen = planta rastejante) resultam de uma associação (simbiose) entre um fungo (micobionte) e pelo menos um indivíduo fotossintético (fotobionte), que pode ser uma alga verde, uma cianobactéria ou as duas em simultâneo que crescem como parceiros de uma associação benéfica para ambos.[3] Desta associação resulta um talo liquénico com uma estrutura específica que é diferente da forma que cada um dos parceiros assume, quando se desenvolve isoladamente.
A simbiose entre o fungo e o parceiro fotossintético permite que o líquene sobreviva em habitats onde nenhum dos seus constituintes conseguiria viver sozinho. O fungo beneficia desta associação recebendo nutrientes, geralmente hidratos de carbono, do fotobionte, obtidos através da fotossíntese. Por outro lado, o fotobionte encontra-se envolvido pelo fungo que funciona como a sua estrutura de suporte, e que lhe fornece água e o protege do excesso de radiação e dessecação. Para além disso, são organismos muito resistentes e de grande longevidade.
A eficácia dos líquenes como bioindicadores da contaminação atmosférica, especialmente perante o Dióxido de Enxofre (SO2) é bem conhecida, e deve-se à sua particular biologia. Uma vez que não possuem raízes como as plantas, os líquenes absorvem eficientemente todos os nutrientes de que necessitam diretamente da atmosfera. Esta eficiência tornou-se num problema para algumas espécies, pois em alguns locais, conjuntamente com os nutrientes, absorvem e concentram no seu interior poluentes tóxicos que lhes podem provocar a morte. Deste modo, as espécies mais sensíveis desaparecem dos locais mais contaminados, pelo que o mapeamento da biodiversidade de líquenes permite determinar a qualidade geral do ar numa região[4].
Como tal, através do estudo dos líquenes é possível proceder a uma avaliação qualitativa da taxa de contaminação atmosférica, com base no número, frequência e cobertura das espécies presentes nas várias árvores da área de estudo.
Assim, os líquenes funcionam com um filtro biológico natural, que retém a maior parte dos elementos do meio que os rodeia, pelo que os líquenes sobrevivem através da humidade atmosférica e luz solar. São capazes de acumular no talo quantidades significativas de compostos de enxofre, sais de cálcio, nitratos e outros metais pesados da atmosfera, da água da chuva ou até mesmo do substrato onde habitam[5].
A presença de líquenes, a sua quantidade e distribuição fornecem indicações sobre a importância de impactos ambientais. Há assim uma boa correlação entre a diversidade destes organismos e a concentração de contaminantes, principalmente SO2e Monóxido de Carbono (CO).
Diferentes espécies têm resistência distinta à poluição, pela sua vulnerabilidade às alterações ambientais. As espécies mais sensíveis têm tendência a desaparecer dos locais mais contaminados, assim, o mapeamento da biodiversidade de líquenes permite inferir da qualidade do ar numa região.[6]
Os líquenes foram os organismos escolhidos pela Comunidade Europeia para avaliação da saúde ambiental dos bosques europeus, tendo sido reconhecidos como os melhores bioindicadores da contaminação atmosférica. O estudo desenvolvido por estes alunos pretende dar um pequeno contributo para a avaliação qualitativa da poluição na cidade de Lisboa.
Agradecimento: O desenvolvimento do estudo não teria sido possível sem a disponibilidade e colaboração da Investigadora Palmira Carvalho do Museu Nacional de História Natural e da Ciência/Jardim Botânico da Universidade de Lisboa
Catarina Soares, Filipa Verdasca, Patrícia Nascimento. Colégio Valsassina
[1] Disponível online em http://ec.europa.eu/public_opinion/flash/fl_360_fact_pt_pt.pdf. Consultado em 12/1 /2013.
[2] Salegui, A. F. (2002) – Los Líquenes como Bioindicadores de la Contaminación Atmosférica, Boletin del Centro de Interpretación de la Naturaleza de Valladolid. n.º 58. Marzo-Abril. pp. 12-13
[3] Disponível online em http://ptflora.up.pt/img/publicacoes/54/marinhagrande_liquenes.pdf , consultado a 25/10/2012;
[4] Disponível online em http://naturlink.sapo.pt/Investigacao/Projectos/content/Os-Liquenes-como-biomonitores-de-poluicao-atmosferica-o-projecto-SinesBioar?viewall=true&print=true. Consultado em 8/1/2013.
[5]Disponível online em http://sequoia.bot.uc.pt/jardim/inquire/files/2012-09-04_00 30_guia_para_alunos_vers_o_final_escola.pdf , consultado a 24/10/2012.
[6] Disponível online em http://www.aldeia.org/portal/PT/25/EID/80/DETID/1/default.aspx , consultado a 24/10/2012;
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