O assoreamento da Lagoa de Óbidos

A lagoa de Óbidos, nos concelhos de Caldas da Rainha e Óbidos, tem vindo a receber cada vez mais moradores, visitantes locais e turistas, pelas suas mais variadas atividades. Mas ao longo do tempo tem se vindo a agravar um problema relacionado com o assoreamento, este tem várias causas e consequências que cada vez mais vão influenciar as populações que vivem na própria lagoa e as populações vizinhas.

O quê? Onde?

A lagoa de Óbidos é o sistema lagunar mais extenso da costa portuguesa e de grande importância ecológica. Possui uma área de aproximadamente 6,9 km2 e uma profundidade média de 2 metros, podendo ir de profundidades desde os 0,5 m até os 5 m.

A lagoa estende-se essencialmente por dois canais, para Oeste pelo Braço do Bom Sucesso, e para Este pelo Braço da Barrosa.

De uma forma natural, lenta e progressiva as lagoas têm tendência a transformarem-se em pântanos se o seu regime sedimentar se mantivesse, devido ao assoreamento, isto é: acumulação de sedimentos e detritos (por ação da erosão das rochas) no fundo da lagoa, é um processo natural e gradual mas pode ser acelerado por intervenção antrópica.

Com isto há mudança dos cursos das águas da lagoa para o mar, e assim podem formar-se novos cursos de água, por terem de rodear as acumulações de sedimentos, isto pode levar ao desequilíbrio dos ecossistemas (podendo matar algumas espécies aquáticas, ou então promover a especiação, pois estamos a alterar os seus habitats ).

Outra consequência dos assoreamentos é que locais onde havia curso de água podem ficar secos e outros locais podem ficar inundados, assim criando barreiras geológicas (que promovem também a especiação de algumas espécies), e isto tudo leva à alteração do funcionamento normal dos ecossistemas.

A intervenção antrópica acelera o processo de assoreamento, mas, por outro lado, a população tenta também intervir através de dragagens efetuadas com o objetivo de aumentar a profundidade do sistema, prolongando a vida da lagoa.

São objetivos:

– Assegurar a abertura permanente da lagoa de Óbidos e contrariar o assoreamento progressivo da lagoa.

– Contribuir para o aumento da superfície e volume da lagoa;

– Melhorar a qualidade da água armazenada;

– Contribuir favoravelmente para a hidrodinâmica e o prisma de maré da lagoa;

– Evitar o isolamento dos Braços da Barrosa e do Bom Sucesso;

– Contrariar a progressão da foz do rio Real sobre o corpo principal da lagoa;

– Robustecer o cordão arenoso litoral que protege a lagoa da agitação marítima.

As instituições que estão envolvidas neste projeto são as seguintes:

-APA (Agência Portuguesa do Ambiente): encarregada pelo planeamento da intervenção na lagoa

-LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil): monitorização da hidrodinâmica da lagoa – levantamentos topo, hidrográficos, antes, durante e após as dragagens; medições de níveis da maré; estudo comparativo do comportamento hidrodinâmico da lagoa

-IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera) Monitorização ambiental dos sedimentos, qualidade da água e da ecologia, fauna e flora

Porquê?

A dragagem dos canais e das bacias da zona superior da lagoa de Óbidos vai resultar numa melhor qualidade da água por eliminação de sedimentos de menor qualidade e, por isso, levar à melhoria do habitat lagunar.

Vai também proporcionar uma maior fluência dos caudais fluviais à lagoa, nomeadamente através dos rios Real e Arnóia e das ribeiras da Cal (Braço da Barrosa) e da vala do Ameal (Braço do Bom Sucesso), resultará também numa maior penetração de água salgada pelo efeito das marés, resultado de uma maior e mais regular troca de águas (doce e salgada) nas subidas e descidas das marés.

Como?

O processo de dragagem é realizado recorrendo a uma draga de corte, sucção e repulsão (DCSR), por avanços sucessivos assegurados pela fixação ao fundo com as estacas de popa, estas são elevadas por macacos hidráulicos e são deixadas cair por gravidade, e assim é garantida a fixação. Em torno destas estacas, a draga descreve rotações em ambos os sentidos, para desagregar os sedimentos de forma mecânica ou hidráulica e assim sugando-os para uma bomba propulsora que os encaminha, por tubagens flutuantes, submersas e terrestres, para o local de deposição no mar da praia imersa a sul da Rocha do Gronho, o método usado é o arco de repulsão (Rainbow).

Causas naturais

A meteorização e a erosão das rochas juntamente com os agentes atmosféricos levam sedimentos para a lagoa, com as correntes dos cursos de água esses sedimentos vão se depositando ao longo do tempo e originam pequenas ilhas no meio da lagoa.

Causas antrópicas

Com a ação antrópica, os sedimentos vão sendo transportados e depositados no fundo da lagoa mais rapidamente. Devido ao desmatamento das matas ciliares, isto é, estas matas filtram as águas das chuvas (agentes atmosféricos) e assim retendo alguns sedimentos. Com as suas raízes vão segurar as areias das dunas que rodeiam a lagoa, assim diminuindo a quantidade de sedimentos que vão lá parar, por desmoronamento das dunas. Com isso a quantidade de sedimentos depositados no fundo da lagoa vai ser cada vez menor, diminuindo também o assoreamento. Logo, sem estas matas o processo vai ser o contrário, ou seja, não vai haver filtração das águas da chuva, e as dunas sem as raízes vão se desmoronar mais rapidamente, devido aos agentes atmosféricos e também por ação antrópica. E tudo junto vai resultar num assoreamento mais acelerado.