O impacto dos fertilizantes utilizados na cultura da vinha nos ecossistemas aquáticos

Cada vez mais no mundo atual existe uma maior necessidade de produção massiva, pois um mundo em desenvolvimento com mais população exige uma maior produção para o sustentar…

O contexto atual do mundo globalizado e em constante crescimento populacional impulsiona uma necessidade prematura por produção agrícola em larga escala. As pequenas e tradicionais hortas familiares, que outrora suprimiam as procuras locais, são agora insuficientes para alimentar a grande massa populacional ávida por produtos frescos e diversificados. Diante dessa realidade, as técnicas agrícolas evoluíram para atender às exigências do mercado globalizado, resultando na ascensão das produções industriais. Em busca de maiores rendimentos e eficiência, os produtores recorrem a uma vasta gama de fertilizantes e agroquímicos, tendo também altos custos económicos para os agricultores e ambientais para todos nós. Um estudo conduzido pela “Food and Agriculture Organization“ (FAO) revela que a aplicação desses químicos aumentou significativamente nas últimas décadas, impulsionando o rendimento das colheitas, mas também acarretando impactos ambientais e de saúde pública.

A visita à fazenda vitivinícola “Fazenda das Pombas”, localizada em Almeirim, proporcionou valiosos dados e informações para este estudo, complementados pelo contacto direto com seu proprietário. No âmbito do controle de pragas, uma gama de agroquímicos, como “Montana Ascenza”, “Kumulos S” e “Maestros F”, é empregada para combater invasores prejudiciais à produção, como pulgões e míldio. Esses fertilizantes e pesticidas são maioritariamente aplicados por meio de aspersores, sob forma líquida e de modo direto. Na produção artesanal é também essencial para ser rentável a maior produção possível no menor tempo possível, por isso, são utilizados fertilizantes para poder duplicar ou triplicar a produção em comparação a um grupo onde não irão ser utilizados fertilizantes.
A utilização destes fertilizantes e agroquímicos causa sérios danos nos ecossistemas envolventes, pois causa uma grande toxidade para a vida aquática (eutrofização), e alterações na biodiversidade. Ou seja o uso excessivo de fertilizantes e químicos, pode causar poluição da água, esgotamento dos solos, inúmeras perdas de biodiversidade, e plantas a desenvolverem resistência a herbicidas/pesticidas e fertilizantes, trazendo posteriormente graves casos de problemas de saúde pública, sendo também causado um desperdício de recursos.
A utilização desses produtos químicos acarreta sérias repercussões nos ecossistemas circundantes, manifestando-se em toxicidade aguda para a vida aquática, eutrofização e alterações na biodiversidade. O fenómeno da eutrofização, embora complexo, pode ser simplificado como um desequilíbrio na concentração de nutrientes em um corpo de água. Quando os níveis de fósforo e nitrogénio provenientes de fertilizantes, herbicidas e esgotos não tratados atingem um patamar excessivo, ocorre um crescimento descontrolado de algas, resultando no consumo do oxigénio disponível e, consequentemente, na morte de grande parte das formas de vida aquática da região.

Cada vez mais temos que mitigar os impactos dos fertilizantes e produzir mais e melhor, como estratégias poderemos utilizar fertilizantes de libertação lenta e controlada, e realizar regularmente estudos de monitorização ambiental. Poderemos também utilizar estratégias de alternativas económicas aos fertilizantes, tais como a alternância de culturas, pousio, e a utilização de técnicas de compostagem. Um estudo americano publicado no “ Epidemiology” em 1996, redigido por Mary H. Ward, Steven J. R. Heineman, investigadores norte-americanos, este estudo investigou a relação entre a exposição do corpo humano a nitratos e fosfatos em água “potável” e a incidência de cancros hematopoéticos. Tendo concluído que elevados níveis de nitrato e fosfato em água potável podem estar associados a um aumento do risco e de casos de desenvolvimento de diversos tipos de cancros. Mais recentemente sensivelmente em 2018, Mary H. Ward, voltou a publicar um estudo “ Human health effects of nitrate exposure from drinking water: a review of the current evidente “ publicado no “ Environmental Health Perspectives”, e os resultados deste estudo revelaram dados mais específicos pois após rever os estudos e literatura existente sobre os efeitos dos nitratos e fosfatos na saúde humana, este estudo mais recente chegam a conclusão de que a associação entre a exposição a fluidos e compostos fosfatados e nitrogenados pode originar doenças tais como cancro gástrico, doenças da tiroide tal como o hipertiroidismo, e problemas reprodutivos.
Como tal podemos concluir que cada vez mais é necessário maiores quantidades de alimentos para alimentar toda a população mundial e os grandes produtores tem que recorrer a meios para aumentar o crescimento das plantas, sendo muitos desses métodos eticamente incorretos e sem regulamentação, aumentando assim a produção e o lucro a todo o custo, pois para alguns grandes produtores não são vidas que estão a ser postas em causa mas sim “ números” fazendo uma comparação entre a vida humana e números de lucro económico extraído da sua produção e posta posteriormente em circulação para venda dos seus produtos, podendo inocentemente por em causa a saúde pública e inclusive vidas humanas e uma enorme devastação do ecossistema aquático, pondo em causa também a vida dos seres vivos. No entanto, a mudança de paradigma requer um esforço conjunto de produtores, governos e consumidores. Políticas públicas que incentivem a adoção de práticas agrícolas sustentáveis e a redução do uso de agroquímicos são essenciais para garantir a saúde dos ecossistemas aquáticos e a segurança alimentar da população. Além disso, a conscientização dos consumidores sobre os impactos ambientais e de saúde associados à produção agrícola intensiva é fundamental para promover escolhas alimentares mais sustentáveis e responsáveis, o desafio reside em encontrar um equilíbrio entre a necessidade de alimentar uma população em crescimento e a preservação dos recursos naturais do planeta. Somente por meio de um compromisso coletivo com a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental podemos garantir um futuro próspero para as gerações futuras.