“All-in Rio”: mais um passo na acessibilidade

Por dia, o Rock in Rio Lisboa 2024 conta com mais de 200 participantes com mobilidade reduzida e pessoas com diversas condições físicas. Por isso, têm uma responsabilidade enorme para garantir que a experiência e o acesso ao festival sejam o melhor possível para todos. Mas, que medidas é que realmente foram aplicadas?

Na edição 2024, a nova localização do Rock in Rio, o Parque Tejo, traz vários desafios. Um dos quais é a acessibilidade, aspeto em que «a organização se focou muito este ano, para garantir que as pessoas de mobilidade reduzida têm acesso ao maior número possível de zonas do parque». 

Até 2022, o acesso às diversas partes do recinto sempre esteve limitado pelo relevo muito irregular do Parque da Bela Vista. Já o Parque Tejo está menos sujeito a esse problema, por ser maioritariamente plano, facilitando a circulação de pessoas com mobilidade condicionada. No entanto, as melhorias em termos de acessibilidade não se limitam ao facto de o recinto ser menos irregular. Em entrevista, Thiago Amaral, coordenador de acessibilidade do Rock in Rio Lisboa, revelou que são esperadas cerca de 200 pessoas com mobilidade reduzida por cada dia de festival. Por isso, a organização implementou, em Lisboa, medidas já aplicadas por Thiago em edições passadas nas edições do Brasil.

Shuttle, estacionamento e scooters elétricas

Para além do shuttle para o público, o Rock in Rio tem também um serviço gratuito de shuttles próprios para pessoas com mobilidade reduzida, equipados de modo a que o utente não tenha de sair da cadeira de rodas. Em alternativa, as pessoas de mobilidade condicionada podem usufruir de estacionamento reservado junto a uma das entradas do festival.

 

Scooters elétricas disponíveis no recinto do RiR

Para facilitar a deslocação das pessoas com mobilidade reduzida, o Rock in Rio Lisboa implementou um sistema de empréstimo gratuito de scooters elétricas. Contudo, este empréstimo tem a duração de apenas 2 horas, para garantir que toda a gente tem oportunidade de as usar. Portanto, várias pessoas, apesar de reconhecerem que as scooters facilitam muito a circulação, acabaram por não aderir à iniciativa, para evitar a preocupação de terem que se deslocar de duas em duas horas ao espaço de aluguer. 

O stand está situado logo junto à entrada do recinto. No entanto, muitas das pessoas de mobilidade condicionada queixam-se da falta de sinalização para esse espaço e do desconhecimento desta iniciativa por parte do staff que se encontra à entrada do festival. Por isso, algumas dessas pessoas tiveram de percorrer grande parte do recinto antes de chegarem ao stand, causando grande desconforto e frustração às pessoas de mobilidade reduzida e aos seus acompanhantes. 

Vias de circulação e WC

Por todo o parque, há caminhos de gravilha desenhados de forma a facilitar a deslocação de pessoas com mobilidade reduzida, sem terem de passar sobre o relvado, local onde a circulação se torna muito complicada e turbulenta. No entanto, são vários os lugares na cidade do Rock ainda inacessíveis a este público, nomeadamente alguns stands de parceiros e patrocinadores, como é o caso do stand da Mbway. Para além disso, alguns utentes afirmam que, apesar de estas vias serem úteis, o seu piso não é o mais apropriado, tornando o deslocamento mais desconfortável, quer para a pessoa de mobilidade reduzida, quer para o seu acompanhante. 

Este ano, há também casas de banho neutras, equipadas para serem utilizadas por pessoas com mobilidade reduzida. A configuração do espaço permite, em caso de necessidade, a entrada dum acompanhante de qualquer género, para que as pessoas de mobilidade condicionada possam utilizar as casas de banho com o apoio necessário e sem qualquer constrangimento.

Plataformas e linguagem gestual
Junto a cada palco, em lugares estratégicos, foram instaladas plataformas elevadas reservadas a pessoas com mobilidade reduzida. Estas plataformas asseguram a visibilidade para os palcos, garantindo que estas pessoas possam aproveitar os concertos de forma confortável. As pessoas com mobilidade condicionada, de maneira geral, concordam que esta plataforma é muito útil e eficaz para ver os concertos.

Nos ecrãns laterais, onde estão as imagens dos cantores, há também a projeção de uma pessoa a fazer tradução simultânea do concerto para linguagem gestual, permitindo que as pessoas com problemas auditivos também possam aproveitar o espetáculo.

Estas medidas, apesar de ainda estarem longe de garantirem às pessoas com limitações uma experiência idêntica, em termos de acesso, de circulação e de vivência do festival, reforçam o compromisso do Rock in Rio de tornar o festival mais inclusivo para todos.

Inês Nunes, Filipe Correia, Vasco Isidoro