O Joca tem dedicado muito do seu tempo a recolher lixo nas praias, no rio Mondego e também nas ruas. Foi esse o problema que inspirou a criação do projeto Não Lixes?
Foram os carros de compras, cheios de lixo, que os estudantes da Universidade atiravam para o rio Mondego no Cortejo da Festa das Latas. Foi isso que me levou a tornar-me ativista, em 2013. O resto faço porque acredito que tudo deve estar limpo.
Foram necessários dez anos para conseguir pôr fim a esse comportamento em Coimbra. Porque terá a Câmara Municipal demorado tanto tempo a agir?
As pessoas na política são pessoas. Enquanto algumas estão sensibilizadas para determinados tipos de questões, outras estão para outras. Tive a sorte de conhecer o atual presidente da Câmara, que me ouviu e considerou que fazia sentido pôr fim a essa prática.
Pode explicar-nos de que forma o ativismo ambiental e o poder político estão relacionados?
É uma “relação” muito difícil, porque os políticos respondem ao que as pessoas querem, e as pessoas ainda não entenderam que precisam de viver com menos e ser felizes na mesma. As pessoas continuam a pensar que, para serem felizes, precisam de ter mais coisas. Então, trabalham mais, consomem mais, poluem mais e deixam o planeta pior para as próximas gerações.
Como se sente ao ver que as nossas praias, rios e estradas estão poluídas?
Sinto-me triste, mas, ao mesmo tempo, com vontade de melhorar as coisas. E continuo a visitar escolas para sensibilizar as pessoas a juntarem-se a esta luta.
Como classifica o ativismo que vandaliza monumentos e obras de arte?
Isso é vandalismo, não é ativismo. Quem destrói, quem grafita, quem danifica aquilo que é arte, aquilo que é belo, está a fazer algo errado. Essas atitudes prejudicam o ativismo. O que é belo já o é há séculos, e é por isso que é preservado em museus.
A sua família e a sua infância tiveram influência no que faz hoje?
Claro, claro, muita influência, sem dúvida. Se nascermos numa família onde esses valores são incutidos desde cedo, porque os nossos familiares são os nossos modelos a seguir, é ótimo. Caso contrário, é através da educação, da escola e dos professores que percebemos que existem caminhos diferentes daqueles seguidos por pessoas tóxicas que encontramos no nosso círculo de amigas ou até mesmo na família.
E como alerta as pessoas para o grande problema que enfrentamos?
Fazendo isto, visitando escolas. Amanhã estarei em Sever do Vouga, na quinta-feira em Cacia, dedicando parte do meu tempo para que possam ouvir diferentes testemunhos.
Para diminuir o consumo excessivo, o que aconselha?
Comprem coisas de qualidade, que durem no tempo, em vez de comprarem coisas baratas que têm de substituir constantemente.
O que o motiva a alertar para o problema do lixo, dando palestras e dinamizando campanhas?
A paixão por coisas como água de qualidade, comida de qualidade e respirar a ar puro. Quero um ambiente saudável para viver, não me importando de não ter um grande carro, mas sim de poder sair de casa e não precisar de usar uma máscara porque o ar está poluído, como em algumas cidades de nosso planeta.
Gostaria de deixar uma mensagem para os nossos leitores?
Cada um deve encontrar o seu caminho, com mais contacto com a natureza, para se apaixonar por ela e defendê-la. Quem está sempre à frente de um telemóvel, está sempre a ser bombardeado pelo consumismo, que é o que interessa às grandes empresas. Temos um modelo económico errado, que se baseia cada vez em mais compras e no consumo. Isso não é sustentável. Temos de viver com menos, mas continuar a ser felizes da mesma forma.