Inicialmente, o projeto previa a instalação dos painéis no perímetro florestal de São Salvador, que abriga a maior implantação de pinheiro-bravo da Península Ibérica. No entanto, um abaixo-assinado contra a sua realização levou os responsáveis pela área – o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ISNF) e os Baldios – a reconsiderar. Enquanto os Baldios aceitaram a proposta, o ISNF recusou, levando à decisão por parte da Hyperion Renfwari FS UPPS SA de recorrer a terrenos privados para a implantação dos painéis.
A área escolhida em Casal de Mundão é considerada uma área florestal não digna, pois trata-se de uma zona rochosa, onde se praticava, em tempos, o pastorício. Com o fim da atividade pastoril, a vegetação rasteira proliferou, tornando-se habitat de animais como javalis e lebres. Para alguns, essa localização representa um mal menor, tal como expressa Alexandre, habitante da aldeia há 52 anos: “Considero que foi preferível a instalação dos painéis aqui na aldeia, assim evita-se a destruição do perímetro florestal de São Salvador, uma floresta bastante mais significativa do que aquela mata. Lembro-me que, quando era pequeno, ia lá pastorear as ovelhas e não havia vegetação alta”.
O projeto promete fornecer energia limpa para dezenas de lares, o que reduz a dependência de combustíveis fósseis. No entanto, a conversão de áreas florestais em áreas de infraestrutura energética também levanta preocupações ambientais, como o desmatamento necessário, que pode comprometer a biodiversidade local e as alterações no solo e no regime hídrico.
Apesar de a área escolhida em Casal de Mundão ser considerada uma área florestal não digna, a escolha do local para a instalação dos painéis fotovoltaicos é um dos fatores mais críticos para minimizar os impactos ambientais. Neste caso, 189.458m2 onde antes era o habitat de lebres e javalis, foram desmatados e ocupados por painéis fotovoltaicos, sem a devida compensação ambiental. Além disso, não foram realizadas consultas públicas antes da execução do projeto, embora a obra tenha sido aprovada por órgãos ambientais.
Outro ponto crucial é o futuro da área ocupada: a concessão do terreno para este projeto tem duração de 25 anos. Resta saber se, ao final desse período, a área será restaurada ou se os painéis permanecerão no local.
A questão que permanece é: qual será o verdadeiro legado deste projeto? A energia solar é um passo essencial para a transição energética, mas a que custo? O desafio não é apenas instalar painéis solares, mas fazê-lo de forma responsável, garantindo que o avanço das energias renováveis caminhe lado a lado com a preservação ambiental. Se não houver um compromisso sólido com essa conciliação, poderemos estar apenas a substituir um problema por outro.