BiblioLED: um avanço ou uma regressão?

Num mundo cada vez mais digital, a leitura também tem de se adaptar. Por isso, no dia 27 de janeiro de 2025, a Rede Nacional de Bibliotecas Públicas deu um passo nesse sentido ao lançar o BiblioLED, um serviço que estará disponível nas 445 bibliotecas que compõem esta rede, trazendo mais acessibilidade e tecnologia à leitura pública em todo o país.

BiblioLED é um serviço de empréstimo de livros digitais e áudio livros, iniciativa da Direção-Geral do Livros, dos Arquivos e das Bibliotecas e financiada pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Através desta plataforma online, os utilizadores têm acesso gratuito a uma vasta coleção de livros e audiolivros, sendo uma alternativa à biblioteca física. Além disso, tal iniciativa aumenta a acessibilidade dado que os livros podem ser requisitados a qualquer hora e em qualquer lugar sem necessidade de deslocação, facilitando assim o acesso à leitura de pessoas que vivem longe de bibliotecas físicas ou a pessoas com mobilidade reduzida.

Apesar dos benefícios associados à iniciativa, nem todos os aspetos poderão ser positivos. Segundo o Relatório Estatístico 2021, elaborado pela Direção-Geral do Livro, o número de trabalhadores em média por biblioteca municipal é 11,77. Assumindo este número como referência média para as 445 bibliotecas da Rede Nacional das Bibliotecas Públicas, poder-se-á extrapolar que as bibliotecas em Portugal empregam cerca de 5238 pessoas. Será que o projeto BiblioLED fará diminuir a frequência de idas à biblioteca, diminuindo assim o número de utentes nos espaços físicos e, consequentemente, provocando uma descida do número de trabalhadores necessários no atendimento físico?

Outro aspeto negativo prende-se com o facto dos equipamentos eletrónicos necessários para aceder a estes serviços exigirem uma utilização alta de lítio, o que representa problemas ambientais. O uso excessivo de equipamentos eletrónicos prejudica o corpo humano em aspetos como fadiga, cansaço ocular ou sedentarismo. Por outro lado, o uso destes equipamentos não contribuirá para as pessoas se isolarem do ponto de vista social?

A leitura é considerada um dos maiores prazeres. Se a tecnologia pode ajudar a alargar esse prazer a um número maior de pessoas, certamente é um ganho significativo. No entanto, nesta equação importa também ter em conta os custos – ambientais, sociais e eventualmente outros – que tal estratégia implica.

Mariana Martín