O sonho de ver o rio aberto

O projeto “Guarda-rios”, fundado em 2019, é uma iniciativa de monitorização ambiental promovida pela Lourambi, uma ONGA, situada no concelho da Lourinhã, que tem como principal objetivo tornar os rios Grande e Toxofal, rios mais limpos e sustentáveis.

Projeto Guarda-rios: uma iniciativa da Lourambi que promove ação, monitorização e voluntariado.

A Lourambi – Associação para a Defesa do Ambiente da Lourinhã é uma organização local sem fins lucrativos, que atua desde 1992 na proteção ambiental e promoção da cidadania ecológica. Focada na área da conscientização e educação ambiental, tendo um papel ativo e crucial na defesa dos recursos hídricos do concelho.

Foi neste contexto que surgiu o projeto “Guarda-rios” – um reflexo da missão da Lourambi em aproximar a população local dos seus ecossistemas fluviais, incentivando o envolvimento na sua conservação. Através de ações práticas, monitorização e voluntariado, este projeto tornou-se um exemplo de como a colaboração entre cidadãos pode gerar impacto positivo e duradouro no território.

Esta iniciativa é constituída por diversas fases interligadas, inicialmente a formação de voluntários (os “guarda-rios”) e a monitorização da qualidade da água, em diferentes troços de ambos os rios (3 do rio Toxofal e 5 do rio Grande, cada um com 500m), durante todas as estações do ano. Seguido pela organização, divulgação e reflexão dos dados recolhidos, por fim a execução das ações e melhoramento dos troços. 

Atualmente, o projeto tem uma base de 20 voluntários permanentes, mantendo-se aberto à participação de qualquer cidadão interessado. Idealizado por Carlos Luís Reis Silva, sem qualquer apoio financeiro, movido apenas pela dedicação e sentido de missão ambiental. Com o tempo, a iniciativa conquistou maior visibilidade e reconhecimento, passando a contar com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, através de um programa de Participação Pública. A este apoio juntam-se também o da Câmara Municipal da Lourinhã, do Jornal Alvorada e da Rádio Clube da Lourinhã. No total, foram atribuídos 16.596€, valor que está a ser investido na criação de berçários de floresta ribeirinha, na realização de um concurso artístico, na organização do primeiro congresso dedicado ao projeto e na aquisição de materiais e equipamentos necessários para as ações de monitorização.

Além disso, o projeto é também financiado pelo orçamento participativo do concelho e das quotas dos sócios da Quinta da Horta. 

Caracterização dos rios

O rio Grande nasce no Outeiro da Cabeça e desagua na foz da Praia da Areia Branca. Este é o principal curso fluvial da região e, no passado, chegou a ser navegável, tendo um impacto significativo nas atividades económicas locais .

O rio do Toxofal tem origem na freguesia da Moita dos Ferreiros. Destaca-se por duas características notáveis: a Galeria Ripícola de Loureiros da Quinta da Moita Longa, onde se encontra uma das mais importantes espécies ribeirinhas do mundo  e a presença de várias variedades de Quercus, em especial Carvalho-de-Monchique.

Ambos os rios preservam ainda fauna e flora típica dos bosques ribeirinhos (seres vivos autóctones), apesar da notável presença de invasões nas margens dos cursos de água.

Problemas ambientais identificados:

Os principais problemas ambientais que afetam os rios Grande e Toxofal são, a grande redução de disponibilidade de água, que leva a secas e à eutrofização de diversos cursos de água, durante os meses quentes e à ocorrência de cheias, durante os meses de precipitação intensa; a poluição, que se deve principalmente à agricultura intensa, com a utilização de pesticidas; a intensa atividade pecuária; as falhas na rede de saneamento; e o desvio do caudal dos rios por parte dos agricultores para benefício próprio.

Importância da conservação:

 A proteção dos sistemas fluviais é cada vez mais urgente, em especial no caso do rio Grande. Principalmente, a exploração agrícola intensiva na região da Lourinhã exerce uma pressão crescente sobre o ecossistema, colocando em risco as funções ecológicas fundamentais destes rios – funções essas essenciais para a qualidade de vida das comunidades locais.

Mafalda Lourenço, atual presidente da Lourambi desde 2023, afirmou: “O meu sonho […] é estar na praia da areia branca no verão com o rio aberto”, porque isso significaria que tinham concluído com sucesso a sua missão e, desta forma, o rio já estava livre para bandeira azul, livre de poluição.

O projeto “Guarda-rios” é um exemplo claro de como a ação comunitária pode reverter o impacto da degradação ambiental. Ao unirmos esforços em defesa dos rios, estamos a construir um legado de preservação. O sonho de ver esses rios novamente livres e vibrantes não é apenas uma esperança distante, mas uma missão possível, dependente de cada um de nós.

Emília Sobral, Rosa Quadros, Margarida Figueiredo, Mariana Martín