Complexo Vulcânico das Sete Cidades: Uma Viagem pela Geologia e Biodiversidade dos Açores

A ilha de São Miguel, nos Açores, é um destino turístico de excelência, reconhecido pelas suas paisagens deslumbrantes e pelo seu impressionante património vulcânico. Entre os seus seis complexos vulcânicos – Nordeste, Povoação, Sete Cidades, Furnas, Fogo e Picos –, o Complexo Vulcânico das Sete Cidades destaca-se pela sua história geológica fascinante e pela biodiversidade única.

A Ilha de São Miguel é uma paragem turística clássica. Distingue-se pelas suas deslumbrantes paisagens. Entre os principais pontos turísticos da ilha está todo o Complexo Vulcânico das Sete Cidades, mas de que consta este complexo?

A ilha de São Miguel é composta por 6 complexos vulcânicos: Nordeste, Povoação, Sete Cidades, Furnas, Fogo e Picos (pela sua ordem de formação). Assim, há cerca de 50000 anos, antes da formação do Complexo Vulcânico dos Picos, o Complexo das Sete Cidades encontrava-se isolado da restante ilha.

No Complexo Vulcânico das Sete Cidades encontrava-se um imponente vulcão central com cerca de 1200 metros de altura. Este era um estratovulcão associado a erupções explosivas de magmas ácidos a intermédios, havendo libertação, sobretudo, de uma mistura de magmas andesítico e peridotítico.

Há cerca de 3600 anos deu-se a primeira fase de erupções paroxismais (erupções muito violentas que conduzem à formação de caldeiras) que levou ao colapso do edifício principal, seguiram-se outras duas fases, há 2900 anos, com o colapso do bordo noroeste do edifício, e há 1600 anos com o colapso dos setores norte e nordeste. Estes sucessivos colapsos formaram uma enorme caldeira quase circular, com um diâmetro médio de 5,3 km e profundidade máxima na ordem dos 630 metros.

No interior da Caldeira das Sete Cidades, destacam-se inúmeras caldeiras menores e lagoas, como é o caso da Lagoa de Santiago, da Lagoa do Canário e da maior lagoa dos Açores, a Lagoa das Sete Cidades, conhecida pela sua divisão em duas massas de água: a Lagoa Azul e a Lagoa Verde, e que consiste no maior reservatório natural de água doce à superfície dos Açores.

Para além das lagoas, o vulcanismo associado à Caldeira das Sete Cidades originou outras formações geológicas como os domos traquíticos e os cones vulcânicos formados pelos materiais expelidos nas erupções. São exemplos o cone de tufos que se vê no miradouro da Lomba do Vasco, o cone de pedra pomes (essencialmente piroclastos de cor clara muito vesiculados, de grande porosidade e baixa densidade) que constitui a Caldeira Seca desde a formação da cratera e simples cones de escórias, que acabaram por formar a Serra Devassa.

Nos últimos 5000 anos ocorreram cerca de 17 erupções intra-caldeira, tornando o Vulcão das Sete Cidades o vulcão central mais ativo da ilha, a última terá ocorrido no ano de 1439 no cone de pedra pomes da Caldeira Seca. Atualmente as manifestações secundárias de vulcanismo resumem-se às nascentes submarinas da Ponta da Ferraria e da praia dos Mosteiros, bem como algumas zonas de desgaseificação difusa.

Toda a caldeira do Vulcão das Sete Cidades associada à sua geodiversidade pode ser observada a partir de vários miradouros como o Miradouro da Vista do Rei, o da Grota do Inferno, o da Lomba do Vasco, etc. O Miradouro da Vista do Rei oferece uma vista deslumbrante sobre a cratera das Sete Cidades, tendo a Lagoa das Sete Cidades como pano de fundo. O miradouro da Grota do Inferno está inserido na Área de Paisagem Protegida das Sete Cidades. Trata-se de um local rico em termos de biodiversidade. Neste miradouro poder-se-ão observar quatro lagoas, nomeadamente: a Lagoa das Sete Cidades, a Lagoa Rasa, a Lagoa de Santiago e a Lagoa do Canário. Para além disso, é possível contemplar a freguesia das Sete Cidades e a Serra Devassa a uma altitude de 730 metros.

O Miradouro da Lomba do Vasco encontra-se a 434 m de altitude. Neste miradouro, como anteriormente referido, destaca-se uma rocha que parece sedimentar, contudo trata-se de um tufo vulcânico, um aglomerado compactado e cimentado de produtos vulcânicos nomeadamente vidro, cinzas, lapilli, etc. A sua consolidação deve-se em grande parte às cinzas que funcionam como um cimento. Esta é uma rocha traquítica, tendo por isso um caráter ácido e cor leucocrata. Ao nível mineralógico apresenta um predomínio de minerais aluminossilicatados e baixos teores de minerais ferromagnesianos devido ao processo de diferenciação magmática.

Mas o Complexo Vulcânico das Sete Cidades transcende a caldeira principal; destaca-se a Praia de Mosteiros, o Porto de Pesca e o Miradouro da Ponta do Escalvado do qual é possível observar a zona de Mosteiros e a Ponta da Ferraria.

Toda a zona de Mosteiros resulta da erupção do cone de escórias do Pico de Mafra. Um cone de escórias é um vulcão monogenético de forma cónica constituído principalmente por piroclastos de várias dimensões embora possa apresentar algumas escoadas lávicas. Neste caso, o Pico de Mafra teve uma erupção efusiva, libertando elevados volumes de lavas basálticas. Estas formaram uma escoada lávica que, ao entrar pelo mar, aumentou a área da ilha, originando uma fajã lávica. Nesta zona Observa-se também o Graben dos Mosteiros: um conjunto de falhas normais paralelas que originam um relevo “em degraus”.

O areal da Praia de Mosteiros reflete a natureza basáltica das rochas que o rodeiam: é uma areia muito escura com um tom quase esverdeado devido ao elevado teor de olivinas. Apesar de poderem surgir sedimentos mais ácidos estes estão associados ao transporte de detritos provenientes de zonas com outras litologias pois, mais uma vez, na zona de mosteiros a litologia é exclusivamente basáltica. O nome da zona deriva de quatro grandes ilhéus, resíduos de um antigo vulcão submarino muito afetado pela meteorização. Embora não o vejamos, ao largo da praia, existe um campo fumarólico submarino.

No Porto de Pesca é possível observar outro tufo vulcânico, que novamente parece uma rocha sedimentar mas não o é. Neste caso trata-se porém de um tufo basáltico sendo por isso mais escuro que o tufo do Miradouro da Lomba do Vasco. A alternância de “estratos” de cores variadas resulta da libertação de material vulcânico proveniente de magmas com caráteres químicos diferentes. Este tufo resultará também, pelo menos em parte, da erupção do Pico de Mafra.

A Ponta do Escalvado é uma falésia que sobressai na linha de costa. Resulta de escoadas lávicas alternadas com a libertação de materiais piroclásticos, estando o vulcanismo predominante associado a magmas básicos. Quando nos viramos para o lado sudoeste vemos a Ponta da Ferraria uma fajã lávica associada à erupção do Pico das Camarinhas com libertação de uma mistura de magmas andesítico e peridotítico. Virando-nos para nordeste vemos a zona de Mosteiros resultante da erupção do Pico de Mafra, com libertação essencialmente de lavas basálticas, estas lavas são, portanto, mais básicas que as anteriores. A diferença da acidez dos magmas pode ser confirmada no declive das vertentes: a erupção do Pico das Camarinhas terá sido mais explosiva verificando-se por isso um declive mais acentuado junto à Ponta da Ferraria enquanto no Pico de Mafra a erupção terá sido mais efusiva tendo por isso um declive menos acentuado junto à zona de Mosteiros.

Por último, no que diz respeito à Biodiversidade, neste complexo encontramos espécies de flora endémica como a Alfacinha (Lactuca watsoniana), a Angélica (Angelica lignescens), a labaça-das ilhas (Rumex azoricus) e o Trovisco-macho (Euphorbia stygiana stygiana), sendo uma importante zona de passagem de aves migratórias como a garça-real (Ardea cinerea) e o galeirão comum (Fulica atra).

Assim concluímos a visita ao Complexo Vulcânico das Sete Cidades, uma zona muito rica tanto aos níveis geológico e biológico como ao nível turístico.

Ana Abraços, Madalena Pereira