Shirotamogitake e repolga, dois cogumelos pleurotos que preferem o mesmo café… ou talvez não…

Alunos do Curso Vocacional de Produção Agrária da Escola Secundária de Elvas realizaram um estudo em que produziram café a partir de borras de café. Tiveram como objetivos reciclar as borras que café que seriam desperdiçadas e aferir a(s) marca(s) de café mais rentáveis na produção de cogumelos das espécies Hypsizygus ulmarius (pleuroto branco ou shirotamogitake) e Pleurotus ostreatus (pleuroto cinzento ou repolga).

Introdução

De acordo com João Cavaleiro, biólogo e um dos detentores da empresa “Gumelo”, em Portugal são produzidas cerca de 65 a 70 mil toneladas de borras de café [1].

A nossa escola localiza-se em Elvas, concelho que abrange a localidade de Campo Maior, onde se encontra a sediada a empresa “Delta Cafés”.

Tomar café constitui uma tradição secular, segundo dados que recolhemos no Centro de Ciência do Café. Portanto, as borras de café, em Elvas tal como sucede em todo o país, são um resíduo produzido em quantidades apreciáveis.

Somos alunos de um curso vocacional de Produção Agrária e sentimos necessidade de desenvolver um trabalho nesta área pois, apenas colocando “as mãos na massa” se constroem aprendizagens para uma vida.

Assim sendo, resolvemos produzir cogumelos aproveitando um resíduo que seria desperdiçado, as borras de café.  Uma vez que consideramos que a ciência é essencial ao desenvolvimento da agricultura e obtenção de melhores níveis de produtividade resolvemos colocar-nos no lugar dos cientistas e aferir as marcas de café cujas borras são mais rentáveis na produção de duas espécies de cogumelos vulgarmente designados de pleurotos, nomeadamente, da espécie Hypsizygus ulmarius (pleuroto branco ou shirotamogitake) e da espécie Pleurotus ostreatus (pleuroto cinzento ou repolga).

10

Figura 1- Hypsizygus ulmarius (pleuroto branco ou shirotamogitake)

 

20160411_174130

Figura 2- Pleurotus ostreatus (pleuroto cinzento ou repolga).

Segundo Silva [3] “a satisfatória produtividade de P. ostreatus está diretamente ligada à qualidade do substrato”.

Hypsizygus ulmarius “é muito popular no Japão e praticamente ainda não é produzido na Europa nem na América” [4]. Tem “uma textura e sabor mais agradáveis do que Pleurotus ostreatus” [4]. Esta espécie “é utilizada por muitos países europeus” [4]. Mas segundo Fan [5]  “a China é responsável por 82% da produção mundial”.

Metodologia

Para a produção de H. ulmarius utilizámos borras de café das marcas “Buondi”, “Jerónimo”, “Delta Platina”, “Delta Gold”, “Delta Rubi” e Nicola. Na criação de P. ostreatus para além das borras das marcas de café antes mencionadas serviram como substrato borras de café das marcas “Delta-Portugal e os Mares”, “Grão Expresso”, “Camelo” e “M &M”. ´

Dado que as borras de café se decompõem com alguma rapidez foi necessário recolher uma grande quantidade em pouco tempo. Ora, como destas últimas marcas de café dispúnhamos de quantidades insuficientes para cultivar ambas as espécies, optámos por as testar naquela que se estimar ser a 3ª espécie mais cultivada a nível mundial, P. ostreatus [2].

Na elaboração do desenho experimental contámos com a colaboração da Professora Noémia da Escola Superior Agrária de Elvas. Cultivámos 100g de micélio em 2Kg de borras de café. Para cada espécie e cada marca fizemos quatro repetições, o que perfez mais de 80Kg de café!

Controlámos e adequámos a humidade, a temperatura e a luminosidade durante várias etapas de produção, designadamente, incubação, indução e frutificação. Utilizámos os valores padrão indicados nas fichas técnicas das espécies em estudo presentes no site da empresa onde adquirimos o micélio, “Quadrante Natural”.

Ao longo de cerca de três meses quantificámos e registámos o peso de cogumelos de cada espécie, produzidos a partir das diferentes variedades de borras de café (Figura 3).

 

 

João Canhoto

4 8 IMG_0899

Figura 3- Evolução da cultura de cogumelos

Posteriormente, aferimos a eficiência biológica por espécie e marca de café. Na Escola Superior Agrária de Elvas avaliou-se a humidade de amostras das borras de café das várias marcas utilizadas, uma vez optámos por não desidratar as borras de café pois tratava-se de um processo moroso e dispendioso. A humidade das amostras de substrato variou entre os 66.2% para a marca “Jerónimo” e os 61.17% para a marca “M&M”.

Os resultados obtidos no que respeita à média do peso de cogumelos obtido por cada saco de 2Kg de borras de café para cada uma das espécies estudadas encontram-se expressos nos gráficos das Figuras 4 e 5.

Grafico Grande1

Figura 4- Média do peso de pleurotos brancos produzidos.

 Grafico Grande 2

Figura 5- Média do peso de pleurotos cinzentos produzidos.

Através da análise dos gráficos podemos concluir que tal como se refere nas fichas técnicas destas duas espécies de cogumelos [4] a espécie P. ostreatus é mais produtiva que a espécie H. ulmarius pois a média do peso de cogumelos obtido em cada saco no primeiro caso varia entre 100g e mais de 300g e no segundo caso oscila entre os 100g e não chega a atingir os 300g.

Tanto para a espécie H.ulmarius como para P. ostreatus a marca de café que se revelou mais produtiva foi a “Nicola”.

Para além destes dados também efetuámos o cálculo da Eficiência Biológica (EB) de ambas as espécies (Gráfico da Figura 6).

Grafico 3 - Grande

Figura 6- Eficiência Biológica para ambas as espécies.

Contrariamente ao que seria de esperar atendendo aos resultados antes mencionados, obtidos para a média do peso de cogumelos produzidos, registaram-se valores de EB mais elevados para a espécie H. ulmarius, no caso das marcas “Buondi”, “Jerónimo” e “Nicola”. Quanto a esta última marca, a média de peso de cogumelos obtidos foi superior para os pleurotos cinzentos, mas o valor da EB foi superior para os pleurotos brancos. Pensamos que estes resultados se devem ao facto das borras de café das três marcas serem as que continham maior teor de humidade. Segundo a ficha técnica de H. ulmarius [4] esta espécie requer mais humidade durante a frutificação do que P. ostreatus. Não pretendíamos que a humidade fosse uma variável e inicialmente até desprezámos as pequenas diferenças deste parâmetro nas amostras das diferentes marcas mas pareceu-nos ter sido um fator determinante.

Conclusão

As borras de café resultam de um processo que por si cria algumas condições de assepsia, as quais conjugadas com a recolha imediata poderão evitar o gasto de energia e dinheiro na sua esterilização e desidratação.

Concluímos, assim, que futuramente se poderão utilizar borras “naturalmente” com a humidade mais próxima da ideal para cada espécie, selecionando a marca de café adequada para evitar os gastos antes mencionados. Mas temos consciência que para grandes produções será difícil manter as borras frescas, sem entrarem em putrefação.

 

[1] Disponível online em http://cienciaparatodos-fs.blogspot.pt/2013_05_01_archive.html no dia 29/04/2016.

[2]- Coelho, Rui. (2014). Cultivo de cogumelos em tronco – Quadrante Natural.

[3] Disponível online em http://repositorio.unesp.br/handle/11449/138088 no dia 29/04/2016.

[4]  Disponível online em http://www.quadrante-natural.pt/Produtos/PP%20380.pdf no dia 29/04/2016.

[5]  Fan, L. & Soccol, C. R., Produção de cogumelo comestível do tipo Pleurotus, Lentinus e Flammulina em casca e borra de café.II Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil. Curitiba-Brasil

Alunos do Curso Vocacional Básico de Produção Agrária, Informática e Eletricidade