Lixo: um velho problema, agora com um upgrade!

Lixo: um velho problema, agora com um upgrade!

O quão informado está sobre o impacte do seu lixo? Será que fica apenas em terra? Será que viaja pelos mares até ao outro lado do globo? A fim de descobrir o quão informadas as pessoas estão, realizaram-se, em março, entrevistas no âmbito da poluição do meio marinho.

Desde o século passado que nos debatemos sobre a quantidade de lixo que produzimos, mas só nas últimas décadas é que

Beatas de cigarro recolhidas durante o programa Maré Viva em exposição no Centro de Interpretação Ambiental da Pedra do Sal.

realmente nos temos importado com o impacte que temos sobre o ambiente com a crescente acumulação de resíduos que vem alcançando proporções alarmantes! Um dos pontos de maior enfoque tem sido a poluição do meio marinho e é nesta perspetiva que várias pessoas foram entrevistadas, a fim de averiguar o quão informadas estão sobre a influência que o Homem tem sobre o meio ambiente. De entre elas, destaca-se Maria da Conceição Lopes, uma ativista da Quercus, que forneceu um olhar mais aprofundado sobre a seriedade deste problema.

As questões postas abrangiam desde o conceito básico de “lixo marinho” até aos comportamentos que o cidadão comum pode ou não ter, como atirar lixo para o chão. Os entrevistados foram escolhidos de forma a refletir os vários setores da nossa sociedade, desde trabalhadores a estudantes e, dentro destes, a jovens com interesse pelo meio ambiente, como os escuteiros.

Após uma análise das respostas obtidas, destaca-se uma certa igualdade da quantidade de informação que cada um dos entrevistados apresentou. Contudo, ao confrontar as respostas dos entrevistados com as da ativista da Quercus, apercebemo-nos que grande parte não se apercebe dos impactes que causam a uma escala global, focando-se muito nas questões locais.

É alarmante a frequência com que nos deparamos com animais presos no nosso lixo!

“As pessoas estão muito pouco informadas sobre as consequências dos seus atos e atividades diárias”, diz a ativista, explicando como o consumo irresponsável e o desinteresse de grande parte da população ajudam a aumentar a acumulação desenfreada de lixo. Esta falta de informação nota-se logo ao início, quando perguntado qual o impacte do lixo marinho no meio ambiente e na sociedade. Todos os entrevistados responderam com os problemas mais “comuns”, como a morte de animais e a acumulação do lixo nas praias, mas apenas alguns abordaram o facto de o Homem poder ser afetado diretamente. “Atinge-nos diretamente por serem, maioritariamente, resíduos que entram na cadeia alimentar”, explica a ativista.

Outra discrepância encontrada foi o quanto é abrangente a lista de materiais sólidos e líquidos que podem contaminar o meio marinho. “É um mundo”, diz Maria da Conceição Lopes. Na maioria das respostas, os entrevistados referem sempre o plástico como o principal contaminante, proveniente de embalagens. No entanto, nesta lista, encontramos outros materiais como esferovite, redes de pesca, látex, material isolante, vidros, etc… Desde palhinhas a eletrodomésticos, vários são os materiais encontrados em zonas costeiras ou à deriva no mar, aglomerando-se nas chamadas ilhas de plástico. Mas esta é uma pequena secção da lista, onde ficam assinalados os contaminantes que são visíveis à vista desarmada, pois “a poluição que não se vê é a mais problemática”, como explica a ativista.

Um grande exemplo desta poluição são os microplásticos – plástico no seu estado mais fragmentado. É uma questão que tem

Placard sobre o Top 10 de Lixo Marinho na exposição “Plasticus Maritimus”, no Centro de Interpretação Ambiental da Pedra do Sal.

vindo a ser agravada com o passar dos anos. Na corrida das empresas por uma abordagem mais “amiga do ambiente”, começaram a ser produzidos em massa estes plásticos com a premissa de serem biodegradáveis, quando na realidade eram oxidegradáveis, isto é, degradam-se com a contínua exposição ao ar. Com a falsa biodegradação em massa destes plásticos, a quantidade de microplásticos aumentou exponencialmente. Com isto, mesmo que se consiga limpar os rios e os mares de toda a poluição visível, estes continuam contaminados a uma escala microscópica.

Acerca das ações que o Homem toma que prejudicam o ambiente, deparamo-nos com um consenso no desinteresse, isto é, a falta de uma “consciência ambientalista sobre este assunto”, como Miguel Inês, um dos entrevistados, respondeu. Porém, mais uma vez, as respostas prendem-se muito à situação local. “Isto não é um problema local!” relembra-nos a ativista, explicando que o problema não reside apenas nas grandes cidades. Aliás, é nos países em desenvolvimento que encontramos uma boa parte deste problema, pois a sensibilização nesses locais não chega a metade daquela que recebemos diariamente nos países desenvolvidos. E o problema agrava-se quando exploramos esta questão, “para além de não serem sensibilizados, nem sequer têm meios para tal”, destaca Maria da Conceição Lopes.

Então como resolver um problema desta dimensão?

Cotonetes recolhidos numa limpeza de praia em Algés.

É esta a questão que paira sobre a nossa cabeça quando nos apercebemos do monstro que a poluição do meio marinho se tornou. No entanto, as soluções podem ser mais simples do que se pensa! “É urgente criar legislação e multas”, responde a ativista, explicando “as pessoas cumprem melhor se forem penalizadas do que se forem sensibilizadas”. Para além destas questões políticas, há uma série de medidas que todos podemos tomar para ajudar a reduzir a acumulação de lixo. “Dê um destino adequado aos seus resíduos” sugere Maria da Conceição Lopes, que é uma hipótese presente também em todas as respostas dos entrevistados. Outra hipótese, vinda de um grupo de escuteiros, é optar por comprar produtos com menos embalagens, com o intuito de reduzir o desperdício de plástico.

Uma medida, sugerida por Maria da Conceição, é a realização de mais campanhas de sensibilização e uma maior adesão das pessoas às mesmas. Como última sugestão, desta vez voltada para os mais jovens, é a participação em programas que promovam a proteção do ambiente, como o conhecido Maré Viva, com um maior número de vagas para que mais interessados se possam inscrever.

Como pode ver, o lixo de que se fala, hoje em dia, deixou de ser o papel de rebuçado que encontrou na calçada, evoluindo de uma forma descontrolada e distribuindo-se por todo o globo, inundando o nosso mar e, consequentemente, potenciando a propagação de problemas de saúde. No entanto, embora seja um problema de proporções monstruosas, um pequeno ato (como depositar o papel de rebuçado no contentor apropriado ou não deixar o seu lixo na praia) traduz-se num grande contributo para a sua resolução.

 

Carolina Mira, Joana Nunes , Vítor Silva