A nossa escola é uma escola muito especial, com o privilégio de estar localizada junto a uma muito bela paisagem – a Várzea e Costeiras de Loures, um ecossistema único, com o qual partilhamos o espaço.
Em colaboração com várias disciplinas, e através do projeto “Da janela da minha escola”, procurámos conhecer melhor esse tão rico local aqui tão pertinho de nós.
O grande objetivo deste projeto é envolver os alunos com o contexto natural e histórico que os rodeia no dia a dia, permitindo-os observar, aprender, compreender, valorizar, divulgar e cuidar, da maravilhosa paisagem que confina o espaço da escola.
Este projeto foi desenvolvido com a convicção de que a nossa melhor esperança para vivermos de forma sustentada reside numa educação para, e na, realidade quotidiana do dia a dia, através da criação de formas: de experimentar o mundo natural; compreender como a natureza mantém o equilíbrio que sustenta a biosfera; desenvolver comunidades saudáveis; reconhecer as consequências das ações humanas sobre os ecossistemas e conhecer o local onde vivemos.
Nas várias visitas de estudo que realizámos, e nos trabalhos de investigação em sala de aula, ficámos deslumbrados pela riqueza do património ambiental e arqueológico existente nesta Várzea, localizada numa área central pouco povoada do concelho, que une duas cidades – Loures e Sacavém – e as freguesias de Loures: São Julião do Tojal, Santo Antão do Tojal, Santo António dos Cavaleiros, Frielas e Unhos.
A Várzea é uma planície aluvial, uma bacia hidrográfica, a onde se encaminham várias linhas de água, que se agregam em dois rios importantes: rio de Loures e rio Trancão. Uma outra linha de água, a Ribeira da Póvoa, que vem da região de Odivelas e Amadora, chega até aqui para se juntar ao rio Trancão, e todos juntos desaguam no rio Tejo.
Esta Várzea está rodeada de elevações – as costeiras, vertentes acentuadas a sul (em Camarate, Frielas e Unhos) e a nascente (em São João da Talha e Bobadela), responsáveis pelos minerais do solo e pelo tipo de clima.
A estreita rede de rios, ribeiras, pauis, sapais e salinas e a proximidade à Reserva Natural, acrescentam a este local uma grande diversidade de habitats muito ricos em água, que se traduz numa riqueza biológica imensa. Aves, répteis, borboletas, mamíferos, anfíbios e peixes raros são alguns dos animais que podem ser observados aqui.
Da vegetação aqui presente fazem parte orquídeas únicas – autóctones, prados, olivais, carvalhais, freixiais, entre outras espécies de interesse.
Por aqui, vive-se num verdadeiro ambiente rural, uma vez que a ocupação agrícola, dominante e florescente, reflete o maior valor económico da Várzea. Por aqui, encontramos quintas seculares, hortas férteis, grandes explorações agrícolas, olivais e também pequenos bosques e prados.
Em termos históricos e culturais, a paisagem serpenteada pela água deu a esta área solos férteis e vias de comunicação que marcaram, desde tempos remotos, a economia, a tradição e a cultura das povoações ao seu redor.
O património cultural legado está presente em todo o parque, podendo também ser visitado no Museu Municipal de Loures.
Infelizmente, e a par de todo este rico património natural, verificámos que existem graves problemas ambientais, resultantes do impacto das atividades antrópicas sobre este ecossistema, nomeadamente, uma exploração agrícola intensiva que faz uma utilização intensa de produtos químicos, provocando, para além da poluição do solo que altera as suas propriedades, a contaminação das águas. Igualmente observámos, ao longo dos nossos percursos, vários focos de poluição urbana e industrial que ali é constantemente depositada e que choca verdadeiramente quem pretende usufruir daquela paisagem. A proximidade da Várzea ao Aeroporto da Portela, faz com que as partículas resultantes da passagem de aviões alterem as propriedades da atmosfera local e contribuam para incrementar a poluição dos solos e contaminação das águas.
A degradação ambiental é uma realidade muito triste por aqui, provavelmente, a maior ameaça à sobrevivência das várias espécie autóctones que aqui habitam, nomeadamente, um pequeno peixe: a boga-de-boca-arqueada de Lisboa (ou boga de Lisboa), cujo nome científico é Iberochondrostoma olisiponensis, e foi descoberta em 2006 nesta região. Este organismo está em risco de vir a extinguir-se nas próximas décadas, se esta tendência não for invertida. A formação de híbridos entre a boga-de-boca-arqueada de Lisboa e a boga-Portuguesa tem conduzido também à perda da integridade genética, sendo outra grande ameaça. Devido ao seu pequeno efetivo populacional, reduzida área de distribuição e provável extinção de algumas populações, a espécie foi classificada como “Criticamente em Perigo”, pela União Internacional para a Conservação da Natureza.
A agricultura intensiva, a introdução de espécies exóticas, a poluição urbana e industrial e as drenagens e aterros das zonas húmidas são as causas prováveis da diminuição dos efetivos populacionais da maioria das espécies aqui existentes.
Este projeto tem sido muito importantes para nós, para a nossa cidadania futura, uma vez que nos tem permitido conhecer, refletir, interiorizar e valorizar todo este património extraordinário tão perto de nós. Tem permitido, sobretudo, o desenvolvimento de uma ligação afetiva, de respeito e valorização, entre a comunidade educativa e o ambiente natural da Várzea. Deviam existir mais projetos assim!
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