E se o pai do Nemo afinal fosse a sua mãe…???
Os seres humanos, tomam paracetamol para dor de cabeça, contracetivos para evitar a gravidez e antidepressivos para a depressão. Mas para onde vão os resíduos destas substâncias uma vez que a
função foi cumprida? O corpo humano elimina muitos dos medicamentos ingeridos através da urina que vai para os esgotos. Os esgotos atravessam um sistema imperfeito de purificação e os resíduos chegam aos rios que circulam no nosso planeta.
Embora as concentrações destas substâncias na água sejam baixas, as consequências para os ecossistemas não deixam de ser preocupantes…
… desde peixes machos que adquirem características femininas até aves selvagens que perdem a vontade de comer, e populações inteiras de peixes e de outros organismos aquáticos dizimadas.
Diversos estudos sobre o impacto da poluição farmacêutica na vida selvagem, indicam que o uso crescente de drogas, embora projetadas para serem biologicamente ativas em baixas doses, pode provocar uma crise global na vida aquática.
Para os seres humanos, a presença destas substâncias em baixa concentração na água não é um problema, pois seria necessário tomar entre 10 a 20 milhões de litros de água da torneira para ingerir medicação suficiente para, digamos, “aliviar uma dor de cabeça”.
No caso dos peixes, a história é outra…
A primeira coisa que descobrimos foi que há muitos peixes nos rios com uma proteína do sangue, comumente conhecida como “gema”. A síntese desta proteína no fígado é controlada por uma hormona, o estrogénio.
O cientista Stumper, refere que mesmo os peixes machos – que não produzem quantidades significativas de estrogénio e, portanto, não têm gema – apresentam uma elevada concentração dessa proteína. “Especialmente aqueles que habitam nos rios localizados perto de uma estação de tratamento”, notou Stumper.
“Uma vez que eram os machos que se estavam a tornar mais femininos e não o contrário, ou seja as fêmeas com características mais masculinas, achamos que a causa poderia ser do estrogénio.”
Stumper estava certo e estudos posteriores confirmaram que estas alterações estão relacionadas com a presença de restos de contraceptivos nas águas.
De acordo com um relatório da Agência Federal Ambiental da Alemanha, os produtos que provocam mais desequilíbrios ambientais são as substâncias hormonais, os antibióticos, os analgésicos, os antidepressivos e os medicamentos aplicados em doenças cancerígenas. Entre os medicamentos veterinários, o relatório destaca as substâncias hormonais, os antibióticos e os anti-parasitas.
Tal como as hormonas sexuais sintéticas, os antidepressivos dissolvem-se em gordura mas não na água. Por isso, podem entrar na corrente sanguínea dos organismos expostos à água contaminada.
Arnold e colegas da Universidade de York, analisaram como o antidepressivo “Prozac” afeta as aves, que se alimentam de lagartas, vermes e moscas, em zonas localizadas próximo de estações de tratamento de resíduos. Estes organismos, por sua vez, consomem os alimentos encontrados nestas áreas, que contém, em geral, elevados níveis de fármacos, principalmente de Prozac.
“No inverno, as aves tendem a consumir um bom café da manhã, petiscar ao longo do dia e comer bem, antes de escurecer”, disse a pesquisadora. Após a ingestão deste antidepressivo, as aves não faziam isso… em vez de duas grandes refeições, as aves comiam esporadicamente ao longo do dia.
“Este comportamento pode afetar o seu peso, bem como, os riscos que elas decidem correr ou não para obter alimentos e como se socializam”, afirma a cientista.
“São variações pequenas e subtis mudanças que se vão somando e que, no fim, podem comprometer a sobrevivência de uma espécie.”
E soluções?
Se o problema está na água com resíduos, talvez a solução passe por reduzir, ou eliminar, a quantidade de farmacêuticos que chegam aos rios. Por exemplo, podem ser desenvolvidos métodos mais eficientes de tratamento da água. Mas esta pode ser uma solução cara e gerar um gasto de energia muito elevado…
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/10/141017_remedios_natureza_pu
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