Recolha seletiva de resíduos – perceção de uma comunidade escolar

Será que a escola secundária de Caneças se preocupa com os desperdícios que produz? Qual a sua origem? O que são e para onde vão? É certo que quanto mais nós somos, mais lixo nós produzimos, mas tem a escola, como filosofia e prática,  o objetivo de consciencializar os elementos da comunidade educativa para a necessidade de reduzir, reutilizar, reciclar os resíduos que diariamente acumula? Qual a perceção dos membros da comunidade educativa?

Num planeta em que o Homem deixa a sua marca cada vez mais profunda. alterando eco-sistemas, degradando espaços e recursos,  a educação ambiental e a cidadania são duas variáveis indispensáveis para um planeta sustentável. Por outro lado, os resíduos sólidos urbanos representam uma grande impacto para o ambiente e a saúde pública (Macedo & Ramos, 2015). Em 2016 foram produzidas em Portugal 4,891 milhões de toneladas de RU, mais 3% do que em 2015, mantendo-se a tendência, ainda que ligeira, de crescimento dos anos anterior (Agência Portuguesa do Ambiente, 2016).

Estará a escola, enquanto instituição, focada em assumir o seu papel numa educação ambiental dos jovens que a frequentam? Está claro para todos que as escolas devem fazer uma separação seletiva dos resíduos sólidos, mas será que isso é realmente feito?

Quisemos ter uma visão global das perceções de vários membros da nossa escola – funcionários, direção e alunos.

Entrevistámos algumas funcionárias – uma por setor -, bem como um membro da direção. Também foram realizados inquéritos aos alunos, a um total de 85. Queríamos ter diferentes e verdadeiros pontos de vista e informações sobre o que a escola realmente é e sobre os resíduos que nela são produzidos.

As principais diferenças estão nas entrevistas que fizemos às funcionárias, através das quais pudemos entender que, de acordo com o local em que trabalham e o horário de expediente, têm uma perspetiva diferente sobre a origem da maioria dos resíduos (Fig. 1).

 

Questões Funcionária

1

Funcionária 2 Funcionária

3

Funcionária

4

Qual é o tipo de resíduos mais frequente na escola? Papel e cartão Um pouco de tudo Um pouco de tudo Papel e cartão
Qual a origem desses resíduos? A biblioteca O refeitório Papel – encomendas; Embalagens de plástico As salas de aula
Acha que há muitos sobras de alimentos? ______­___ Sim muitos Alguns ­­­__________
Se sim, o que acha que é feito com eles? _________ São deitados fora São deitados fora __________
Com que frequência vê pacotes ou restos de comida no chão? Ja foi pior. __________ Às vezes Não muito frequentemente
Acha que os alunos se preocupam com as sobras de alimentos? Não Não Alguns sim outros não Não
Acha que os alunos se preocupam em colocar o lixo no lugar certo? Agora nota-se mais cuidado Não Alguns sim outros não Nota-se uma melhoria mas ainda há muitos que não têm cuidado
Por que  acha que alguns não se preocupam? Preguiça Eles não são acostumados a fazer em casa  Eles não são acostumados a fazer em casa ____________
Sente que a escola se preocupa com o lixo? Sim Sim Sim Sim
O que poderia ser feito para melhorar? ____________ ___________ Ações de sensibilização __________

Fig 1 – resultados das entrevistas aos funcionários.

Estas entrevistas, por outro lado, permitiram-nos inferir que, apesar dos erros, parece haver a perceção de uma pequena melhoria. Inquiridas posteriormente, as funcionárias explicaram que o Concurso Separa e Ganha a que a escola aderiu parece ter sido um incentivo para alguns, para além de um acompanhamento mais próximo à hora de almoço por parte de professores e funcionários .

Através da entrevista feita a um membro da direção da escola – o professor Carlos Rolo -conseguimos concluir que a escola, juntamente (ou através do) com o projeto eco-escolas, está efetivamente a trabalhar para reduzir a quantidade de resíduos que, segundo a entrevista, são maioritariamente plásticos (garrafas e pacotes) e papel / cartão e, principalmente, fazer a sua adequada separação.

Obtivemos informações contraditórias nas entrevistas realizadas ao professor Carlos Rolo e à funcionária do refeitório. Quando os questionámos (separadamente) sobre os desperdícios relacionados com comida, a funcionária referiu que há dias em que a quantidade de comida desperdiçada é elevada, mas a direcção da perceção é diferente pois considera ser reduzida dado as senhas serem comprados no dia anterior e de a comida ser preparada de acordo com as senhas de almoço vendidas.

No entanto, ambos concordaram que as sobras não podiam ser reutilizadas porque a comida da cantina tem a sua proveniência em catering  (empresa exterior) e que a “lei” não permite a sua doação.

Em relação aos desperdícios energéticos e de água , a nossa escola está bem preparada para que estes sejam minimizados, já que as luzes dos pavilhões funcionam por um sensor movimento, as torneiras das casas de banho são reguladas por um temporizador e as funcionárias e um grupo de alunos da brigada do eco-escolas verificam regularmente se algo está “errado”. Os principais gastos energéticos estão relacionados com o equipamento do bar e da cantina, que por serem de classe C e D, o seu consumo é maior.

As opiniões dos alunos foram cruciais e, para uma análise e interpretação mais fácil de algumas das respostas obtidas, optamos por representá-las em gráficos (fig.2).

Através destas respostas, verificamos que , em certa medida, confirmam os dados anteriormente obtidos mas há um aspeto que nos leva a refletir.

Um número significativo dos alunos não parece ter consciência do esforço da escola para a seleção dos resíduos. Parece-nos, então, que seria fundamental dar a conhecer os métodos utilizados pela escola na separação de resíduos e no controle das despesas e dos desperdícios.

Globalmente, no entanto, concluímos que, embora ainda haja muito a ser feito, a nossa escola tem e continua a trabalhar para fazer mais e melhor.

 

Referências bibliográficas

Agência Portuguesa do Ambiente (2016). MRRU, 2016, Portugal continental e regiões autónomas. Retrieved from: https://www.apambiente.pt/index.php?ref=16&subref=84&sub2ref=933&sub3ref=936

Macedo, M.A.& Ramos, M. (2015) – Educação ambiental e resíduos sólidos urbanos: caminho para um futuro sustentável. EduSer: Revista de educação. 7:2, p. 41-57. ISSN 1645-4774.

Inês Bernardo, Sílvia Policarpo