O quão informado está sobre o impacte do seu lixo? Será que fica apenas em terra? Será que viaja pelos mares até ao outro lado do globo? A fim de descobrir o quão informadas as pessoas estão, realizaram-se, em março, entrevistas no âmbito da poluição do meio marinho.
Desde o século passado que nos debatemos sobre a quantidade de lixo que produzimos, mas só nas últimas décadas é que realmente nos temos importado com o impacte que temos sobre o ambiente com a crescente acumulação de resíduos que vem alcançando proporções alarmantes! Um dos pontos de maior enfoque tem sido a poluição do meio marinho e é nesta perspetiva que várias pessoas foram entrevistadas, a fim de averiguar o quão informadas estão sobre a influência que o Homem tem sobre o meio ambiente. De entre elas, destaca-se Maria da Conceição Lopes, uma ativista da Quercus, que forneceu um olhar mais aprofundado sobre a seriedade deste problema.
As questões postas abrangiam desde o conceito básico de “lixo marinho” até aos comportamentos que o cidadão comum pode ou não ter, como atirar lixo para o chão. Os entrevistados foram escolhidos de forma a refletir os vários setores da nossa sociedade, desde trabalhadores a estudantes e, dentro destes, a jovens com interesse pelo meio ambiente, como os escuteiros.
Após uma análise das respostas obtidas, destaca-se uma certa igualdade da quantidade de informação que cada um dos entrevistados apresentou. Contudo, ao confrontar as respostas dos entrevistados com as da ativista da Quercus, apercebemo-nos que grande parte não se apercebe dos impactes que causam a uma escala global, focando-se muito nas questões locais.
“As pessoas estão muito pouco informadas sobre as consequências dos seus atos e atividades diárias”, diz a ativista, explicando como o consumo irresponsável e o desinteresse de grande parte da população ajudam a aumentar a acumulação desenfreada de lixo. Esta falta de informação nota-se logo ao início, quando perguntado qual o impacte do lixo marinho no meio ambiente e na sociedade. Todos os entrevistados responderam com os problemas mais “comuns”, como a morte de animais e a acumulação do lixo nas praias, mas apenas alguns abordaram o facto de o Homem poder ser afetado diretamente. “Atinge-nos diretamente por serem, maioritariamente, resíduos que entram na cadeia alimentar”, explica a ativista.
Outra discrepância encontrada foi o quanto é abrangente a lista de materiais sólidos e líquidos que podem contaminar o meio marinho. “É um mundo”, diz Maria da Conceição Lopes. Na maioria das respostas, os entrevistados referem sempre o plástico como o principal contaminante, proveniente de embalagens. No entanto, nesta lista, encontramos outros materiais como esferovite, redes de pesca, látex, material isolante, vidros, etc… Desde palhinhas a eletrodomésticos, vários são os materiais encontrados em zonas costeiras ou à deriva no mar, aglomerando-se nas chamadas ilhas de plástico. Mas esta é uma pequena secção da lista, onde ficam assinalados os contaminantes que são visíveis à vista desarmada, pois “a poluição que não se vê é a mais problemática”, como explica a ativista.
Um grande exemplo desta poluição são os microplásticos – plástico no seu estado mais fragmentado. É uma questão que tem vindo a ser agravada com o passar dos anos. Na corrida das empresas por uma abordagem mais “amiga do ambiente”, começaram a ser produzidos em massa estes plásticos com a premissa de serem biodegradáveis, quando na realidade eram oxidegradáveis, isto é, degradam-se com a contínua exposição ao ar. Com a falsa biodegradação em massa destes plásticos, a quantidade de microplásticos aumentou exponencialmente. Com isto, mesmo que se consiga limpar os rios e os mares de toda a poluição visível, estes continuam contaminados a uma escala microscópica.
Acerca das ações que o Homem toma que prejudicam o ambiente, deparamo-nos com um consenso no desinteresse, isto é, a falta de uma “consciência ambientalista sobre este assunto”, como Miguel Inês, um dos entrevistados, respondeu. Porém, mais uma vez, as respostas prendem-se muito à situação local. “Isto não é um problema local!” relembra-nos a ativista, explicando que o problema não reside apenas nas grandes cidades. Aliás, é nos países em desenvolvimento que encontramos uma boa parte deste problema, pois a sensibilização nesses locais não chega a metade daquela que recebemos diariamente nos países desenvolvidos. E o problema agrava-se quando exploramos esta questão, “para além de não serem sensibilizados, nem sequer têm meios para tal”, destaca Maria da Conceição Lopes.
Então como resolver um problema desta dimensão?
É esta a questão que paira sobre a nossa cabeça quando nos apercebemos do monstro que a poluição do meio marinho se tornou. No entanto, as soluções podem ser mais simples do que se pensa! “É urgente criar legislação e multas”, responde a ativista, explicando “as pessoas cumprem melhor se forem penalizadas do que se forem sensibilizadas”. Para além destas questões políticas, há uma série de medidas que todos podemos tomar para ajudar a reduzir a acumulação de lixo. “Dê um destino adequado aos seus resíduos” sugere Maria da Conceição Lopes, que é uma hipótese presente também em todas as respostas dos entrevistados. Outra hipótese, vinda de um grupo de escuteiros, é optar por comprar produtos com menos embalagens, com o intuito de reduzir o desperdício de plástico.
Uma medida, sugerida por Maria da Conceição, é a realização de mais campanhas de sensibilização e uma maior adesão das pessoas às mesmas. Como última sugestão, desta vez voltada para os mais jovens, é a participação em programas que promovam a proteção do ambiente, como o conhecido Marés Vivas, com um maior número de vagas para que mais interessados se possam inscrever.
Como pode ver, o lixo de que se fala, hoje em dia, deixou de ser o papel de rebuçado que encontrou na calçada, evoluindo de uma forma descontrolada e distribuindo-se por todo o globo, inundando o nosso mar e, consequentemente, potenciando a propagação de problemas de saúde. No entanto, embora seja um problema de proporções monstruosas, um pequeno ato (como depositar o papel de rebuçado no contentor apropriado ou não deixar o seu lixo na praia) traduz-se num grande contributo para a sua resolução.
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