Portas de Ródão: Uma maravilha natural à nossa porta

Quem chega à nossa escola depara-se com uma vista de cortar a respiração: se voltar as costas ao edifício e olhar (só) para a direita vê o rio Tejo a correr calmo e majestoso na sua grandiosidade. Diz quem vem aqui pela primeira vez que esta escola possui uma das mais belas vistas de todas as escolas do país. Mas, não nos podemos descuidar e olhar para a esquerda, pois teremos, nesse caso, a visão das inúmeras chaminés das fábricas a deitar fumo para a atmosfera. Centremo-nos então na paisagem que temos à nossa direita e reparemos numa bela “construção” feita pela natureza a que se dá o nome de Portas de Ródão que, desde 2005, está classificada como Monumento Natural.

Quem desejar ter uma visão abrangente do local, deverá fazer uma viagem num dos barcos que proporcionam passeios turísticos no rio Tejo ou então fazer uma viagem de comboio através da linha da Beira Baixa em direção ao Entrocamento ou parar na velha ponte que atravessa o rio e simplesmente desfrutar da vista. Podem acreditar que a paisagem é deslumbrante!

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O grupo dos jovens repórteres da nossa escola mostrou interesse em conhecer melhor este sítio e, para isso, convidou o professor de História, Jorge Gouveia, para lhes falar acerca deste local e para os acompanhar numa visita. Trata-se de alguém que tem um profundo conhecimento acerca deste assunto, já que foi ele o responsável pela candidatura das Portas de Ródão às 7 Maravilhas Naturais de Portugal, em 2010.

Em primeiro lugar, quisemos saber o que são as Portas de Ródão. O nosso professor explicou-nos que são uma formação geológica situada perto de Vila Velha de Ródão, resultante da intersecção do duro relevo quartzítico da Serra das Talhadas com o curso do rio Tejo. Neste local, há um estreitamento do vale, que aqui corre entre duas paredes escarpadas, que atingem cerca de 170 m de altura, fazendo lembrar duas “portas”, uma a norte no distrito de Castelo Branco, Beira Baixa, e outra a sul no concelho de Nisa, distrito de Portalegre, Alto Alentejo.

Tivemos curiosidade em saber há quanto tempo se formaram as Portas de Ródão e ficámos a saber que “o tempo geológico não se mede como o nosso, ao minuto ou ao segundo, mas parece que a sua origem remonta há mais ou menos 2,5 milhões de anos”. E como é que se formaram? Formaram-se devido a dois fenómenos complementares. O fenómeno erosivo, ou seja, relacionado com a erosão onde as águas do rio foram desgastando a rocha. Tal como diz o ditado: “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”… Outro aspeto importante para a sua formação foi a falha tectónica, pois, nesta zona, situa-se a falha do Ponsul, o que faz com que os territórios balancem ao longo dos tempos. Então o que é que aconteceu? A conjugação dos elementos erosivos juntamente com a falha tectónica fez com que a serra se tivesse fraturado e isso fez com que o rio, quase como uma cascata, começasse a encaixar progressivamente e a fazer o seu leito. Portanto, o rio demorou 2,5 milhões de anos a fazer este trabalho! E, ainda hoje, o rio continua a escavar e é por isso que olhamos para a paisagem e há vários terraços que se criam à medida que o Tejo se vai encaixando progressivamente.

Também tínhamos curiosidade em saber que tipo de fauna e de flora podemos encontrar nas Portas de Ródão. O professor começou por nos falar da fauna. Disse-nos que estão inventariadas mais de 100 espécies de aves, sendo as mais emblemáticas a cegonha preta; o grifo; o abutre de ruppelli, uma espécie muito rara de abutre africano que se deu muito bem com os grifos das Portas de Ródão e reside aqui o ano inteiro; a águia de bonelli; a águia perdigueira; o chasco-preto e o abutre negro. Podemos também observar nesta área umas dezenas de mamíferos, entre eles a lontra que se vê com frequência no Tejo. A nível da flora, existe aqui a vegetação mediterrânica, que é típica das zonas do sul da Europa e está muito bem conservada. Aquela que merece mais destaque é o zimbro. Estas árvores muito bonitas e raras (no sentido de que há poucos lugares no país onde se observam como aqui) crescem nas encostas. Isso só é possível também no Douro Internacional e no Barrocal Algarvio. Os povoamentos de zimbros estão muito bem constituídos e muito bem preservados e embelezam a encosta da serra. Eles conseguem viver no meio das rochas, porque têm uma raiz muito fininha que se infiltra pelas fissuras da rocha e essa raiz tem dezenas de metros de comprimento para ir buscar água. Além disso, eles produzem o seu próprio húmus. As agulhas dos zimbros, que vão caindo para as fissuras das rochas, vão-se degradando lá, transformam-se em matéria orgânica que eles próprios depois absorvem para continuar a viver. “É uma árvore muito curiosa, não é?” – pergunta o nosso professor. Nós respondemos afirmativamente, deslumbrados com tudo o que estávamos a ouvir.

Então, surgiu-nos a seguinte ideia: as Portas de Ródão poderiam funcionar como um laboratório vivo para o estudo de plantas e animais únicos, alguns em vias de extinção. O professor Jorge considera que sim, porque “há neste local um conjunto de espécies muito interessantes e muito raras que podem e devem ser estudadas”. Os cientistas, em vez de levarem as plantas ou os animais para o laboratório, podem ir para o campo e estudá-los no local. Assim, tanto a flora como a fauna aqui existentes poderiam estar mais protegidas.

A autarquia tem tido um papel fundamental na proteção desta área. Tem-se preocupado, fundamentalmente, em fazer o acompanhamento das intervenções humanas no local, no que diz respeito à preservação da biodiversidade.

A poluição pode contribuir para destruir a biodiversidade existente nas Portas de Ródão. No entanto, de acordo com o que nos disse o nosso professor, no caso de Ródão, parece que as coisas têm vindo a melhorar pouco a pouco. Por exemplo: ultimamente, começou a aparecer uma espécie de mexilhão do rio que já não era vista nestas águas há muito tempo. Isto dizer que a qualidade das águas já é melhor, pois os bivalves são espécies muito sensíveis. São elas as primeiras que reagem negativamente à poluição. Ora, se este tipo de mexilhão esteve praticamente extinto aqui e hoje já se começa a ver novamente nas águas do Tejo, perto de Ródão, isso quer dizer que a qualidade da água melhorou, pois permite a sobrevivênvia das espécies que nela residem.

As Portas de Ródão são uma “mais valia” para Vila Velha, sobretudo no que diz respeito ao turismo, porque aliam a questão da biodiversidade e outras que se relacionam com aspetos culturais, como por exemplo, as estações arqueológicas, o castelo, as lendas, a culinária e a gastronomia que também fazem parte da cultura. Em relação à biodiversidade, quando olhamos para este monumento natural, o que vemos em primeiro lugar é a vegetação. Se olharmos com um pouco mais de atenção, vemos aquelas aves de grande envergadura – os grifos – a sobrevoar a vila. Portanto, os zimbros, os grifos, a águia de bonelli e também a cegonha preta são elementos da biodiversidade de Ródão extraordinariamente importantes, porque são muito raros e estão aqui muito bem preservados e isso atrai muitos turistas. É frequente encontrarmos no miradouro do castelo, que é um excelente lugar para fazer “birdwatching”, grupos de estrangeiros que vêm propositadamente do norte da Europa para fazerem nesta zona a observação de aves. Vêm atrás de quê? Da biodiversidade.

Olhando para o cimo das escarpas que constituem as Portas de Ródão, surgiu-nos de repente a ideia que aquele local seria ótimo para a prática de atividades como escalada e slide. No entanto, facilmente percebemos que isso não seria possível, porque se pretendemos preservar o habitat de plantas únicas e de animais raros, alguns em vias de extinção, a prática de desportos radicias não é compatível com a preservação da biodiversidade. O professor Jorge informou-nos que “há outros sítios em Ródão onde também existem escarpas e onde se podem fazer desportos radicais. Por exemplo, o castelo de Ródão tem uma escola de escalada lá montada com 3 ou 4 pistas e aí já não há problema nenhum em “incomodar” as espécies”. Assim, a beleza das Portas de Ródão deve apenas ser apreciada ao longe, através da observação, por exemplo utilizando uns binóculos.

Depois de tudo o que vimos e ouvimos, depressa percebemos que, dada a importância daquele sítio, deveria existir um centro de interpretação para as Portas de Ródão, o que permitiria aos visitantes ficar a conhecer melhor este geomonumento.

Aqui, em Vila Velha de Ródão, existe uma maravilha natural mesmo à nossa porta. As Portas de Ródão são o ex-libris desta terra. Elas representam algo que é um símbolo para todo este território e marcam tão profundamente as pessoas daqui que estas até dizem: “Tu tens um coração do tamanho das Portas de Ródão!” quando querem referir a enorme generosidade de alguém.