Sentir-se em casa sem lá estar

Os jardins zoológicos constituem um dos mais representativos exemplos da conservação fora do habitat natural – conservação ex-situ –, contribuindo igualmente para a sua preservação no próprio habitat – conservação in-situ – através da criação e implementação de projetos de angariação de fundos. O Jardim Zoológico de Lisboa não é exceção.

Cria Orangotango-de-Sumatra

Cria Orangotango-de-Sumatra

Ao longo dos anos, esta instituição privada fundada em 1894, tem vindo a apostar cada vez mais na conservação da biodiversidade, participando em programas de reprodução de espécies ameaçadas e de reintrodução nos respetivos habitats sempre que possível.

Não obstante, como refere Luísa Paulos, bióloga de formação, relativamente às vantagens da conservação ex-situ em comparação com a conservação in-situ, “Uma abordagem proativa é melhor que uma abordagem reativa, mas nem sempre isso é possível”. A educadora do Jardim Zoológico de Lisboa há 4 anos revelou ainda que “a conservação in-situ é a que se deve fazer normalmente, mas, em casos extremos, recorre-se à conservação ex-situ, pois nem todos os animais podem vir para o Jardim Zoológico”. Além disso, como sublinhou Tiago Carrilho, biólogo marinho e também profissional do Centro Pedagógico do Jardim Zoológico, “ a reintrodução  (de espécies) deve ser usado como último método de conservação”.

Os lémures-de-cauda-anelada são um dos exemplos, apontados por Luísa Paulos, de uma espécie unicamente alvo de conservação in-situ, contribuindo o Jardim Zoológico de Lisboa regularmente com doações tendo em vista a preservação do seu habitat natural. É de notar que estes lémures se encontram em perigo de extinção, uma vez que a ilha de Madagáscar, de onde são oriundos, se encontra isolada e, como tal, as ameaças à mesma estão mais concentradas.

Já na ilha de Sumatra, na Indonésia, a desflorestação do habitat dos orangotangos-de-Sumatra para a plantação de óleo de palma conduz à impossibilidade de eventualmente reintroduzir esses animais no seu meio.

  Diogo Laneiro, educador do Centro Pedagógico do Jardim Zoológico de Lisboa, aponta a seleção artificial praticada no mesmo espaço como um fator determinante para preservar as espécies, nomeadamente para a conservação ex-situ, na medida em que uma maior variabilidade genética nas crias, promove uma adaptação superior a possíveis mudanças ambientais e probabilidades de sobrevivência e reprodução mais elevadas.

Assim sendo, a variabilidade genética dos animais no Jardim Zoológico acaba por ser superior à verificada nos habitats naturais, paradigma para o qual contribuem os processos de fertilização in vitro realizados nos laboratórios do Centro Veterinário do Jardim Zoológico de Lisboa.

A garantia da variabilidade genética constitui uma das maiores preocupações do Jardim Zoológico: recentemente, um indivíduo da espécie Casuarius casuarius foi transportado para outro espaço com o objetivo de aumentar o fluxo de genes entre populações. Tal como sublinhou Diogo Laneiro, “os cruzamentos aqui (no Jardim Zoológico) não são ao acaso, como na natureza”.

Em parceria com Jardim Zoológico de Lisboa, o Centro Nacional de Reprodução do Lince Ibérico, em Silves, fomenta a reprodução ex-situ do lince-ibérico, o felino mais ameaçado no mundo, assegurando, mais uma vez, a seleção artificial do genótipos mais aptos.

De facto, a longo prazo, a conservação ex-situ acaba por promover a conservação in-situ, na medida em que todos os esforços e dinâmicas de recriação de habitats no Jardim Zoológico contribuem para que, na maioria dos casos, o animal possa, posteriormente, ser reintroduzido no meio natural.

“As pessoas só vão querer conservar o que conhecem” e, por isso, é necessário que os jardins zoológicos adotem uma abordagem positiva, afirma Diogo Laneiro. Porque afinal, como frisou o guia “um zoo trabalha para deixar de existir”.

 

André Campos , Leonor Mendes , Manuel Farias , Maria Carreira , Marisa Silva, Rita Simões