15 anos depois da Expo’98 os solos do Parque das Nações continuam contaminados com excesso de cobre.

15 anos depois os solos do Parque das Nações continuam contaminados com excesso de cobre.

Mas há uma planta pode ajudar a resolver este problema.

A Vegetação existente no sapal do Rio Tejo (no Parque das Nações, Lisboa) desempenha um papel muito importante na depuração das águas, devido à grande capacidade de absorver e fixar metais pesados, muitos dos quais são tóxicos para outros seres vivos. Esta é a principal conclusão de um estudo realizado entre outubro de 2012 e abril de 2013, na zona ribeirinha do Parque das Nações. Os dados recolhidos sugerem que a planta Spartina marítima consegue reter cobre do meio, reduzindo a toxicidade para outras espécies que dependem destes habitats, contribuindo dessa forma para diminuir o nível de eutrofização provocado por efluentes urbanos e industriais. Um importante serviço prestado pelos ecossistemas.

sapal-expo98

Sapal do Rio Tejo, Parque das Nações. Os sapais podem garantir um hot spot de habitats para numerosas espécies (marinhas e terrestres) e têm uma elevada produtividade primária – quantidade de matéria orgânica produzida em fotossíntese pelas plantas (Imhoff et al., 2004).

Os estuários são ecossistemas biológicos que possuem uma enorme biodiversidade. Nas suas margens, em condições de baixo hidrodinamismo, desenvolvem-se sapais, um dos ecossistemas mais produtivos do mundo (SOUSA et al., 2008; Caçador, 2010).

Em Portugal localiza-se um dos maiores estuários da Costa Atlântica da Europa: o Estuário do Rio Tejo, com uma área média de 320km2. A Sul e Este deste estuário existem sapais.

Frequentemente estes locais estão sujeitos a alta salinidade, encharcamento excessivo e, pela proximidade com zonas urbanas e/ou industriais, a episódios de poluição que se traduzem na acumulação de metais pesados. A presença destes elementos na água pode originar mortandade de peixes, de algas e de organismos planctónicos; e bioacumulação em tecidos de moluscos e peixes.

As plantas de sapal têm a capacidade de imobilizar e armazenar metais, por acumulação na biomassa (subterrânea e/ou aérea), ou sedimento circundante à parte subterrânea (Caçador et al., 1995; Chainho, 2011). Devido a esta capacidade, os sapais apresentam um papel importante a nível ecológico, uma vez que muitos sistemas estuarinos apresentam contaminação histórica. Este foi o ponto de partida para um grupo de alunos do Colégio Valsassina desenvolverem, entre outubro de 2012 e abril de 2013, um estudo onde se procurou compreender o papel fitorremediador de Spartina maritima.

expo98

Spartina marítima (de nome comum Morraça) é uma planta da família das Gramineae. É típica de zonas de Sapal,  quase permanentemente submersas, frequente ao longo da costa litoral, principalmente no Centro e Sul do país.

O local selecionado para o estudo foi o Sapal do Rio Tejo, na zona norte do Parque das Nações. Foram analisadas amostras de solo e de S. maritima de modo a determinar o teor em matéria orgânica e em cobre. Os dados foram comparados com os apresentados por Caçador (1994) que em 1993/94 realizou um estudo semelhante em três sapais deste estuário (Sapal de Corroios, do Rosário e de Pancas).

Os resultados revelam que a concentração de cobre nas plantas estudadas é de 26,59 mg/kg, o que parece encontrar apoio no estudo realizado por Caçador (1994), sugerindo a capacidade da S. maritima em absorver e acumular metais pesados, neste caso, o cobre. Tendo colaborado com os alunos do Valsassina, Isabel Caçador, professora da Universidade de Lisboa, realça que esta planta desempenha um importante papel na despoluição dos sistemas estuarinos.

tabela-expo98

Resultados obtidos no estudo desenvolvido por um grupo de alunos do Colégio Valsassina e comparação com a investigação desenvolvida Caçador, 1994. Nos resultados do estudo de Caçador (1994), as concentrações na raíz são mais altas do que no resto da planta. Segundo Otte (1991A), citado por Caçador (1994), a falta de correlação entre as concentrações de metais nas raízes e nas partes aéreas é frequente, podendo, assim, indicar que o transporte de metais para as partes aéreas depende da necessidade da planta ou da própria capacidade para acumular metais. Corroborando, Paquete e Silva (2012) num estudo sobre o papel da Spartina marítima e da Sarcocornia fruticosa no funcionamento de um sapal, quando sujeito a um episódio hipotético de poluição industrial com metais pesados, constataram que estas as duas plantas demonstraram capacidade para fixarem os metais oriundos do meio envolvente e de os acumularem, sobretudo nas raízes (e também nos rizomas no caso de S. maritima). De igual modo, estes autores referem que a translocação de metais para os orgãos aéreos das plantas de um modo geral foi residual, isto é inferior a 10%. Referem ainda que S. maritima tende a reter os metais nos sedimentos junto às raízes e quando os absorve estes permanecem nestes órgãos.

Nos sedimentos estuarinos colonizados por plantas de sapal podem ser encontrados vestígios de metais pesados, como por exemplo o chumbo, o cobre, o alumínio, o zinco, entre outros, provenientes de fontes antropogénicas, como descargas industriais (Mucha et al., 2007). Vários autores realçam que estas plantas são muito resistentes a elevadas concentrações de metais pesados e conseguem absorvê-los do meio aquático (Almeida et al., 2006; Sousa et al., 2008; Chainho, 2011). Paquete e Silva (2012) e Filho (2013) afirmam que S. marítima tem um papel efectivo na retenção de vários metais, entre os quais o cobre, o que reduz a toxicidade para outras espécies que dependem destes habitats.

O estudo revela ainda que não se verificaram diferenças significativas nas concentrações de cobre entre o estudo de 1994 e o atual (2013), o que pode sugerir que os locais em causa têm estado sujeitos a semelhantes pressões antropogénicas, apesar do seu tratamento aquando da Expo 98.

Os sapais são áreas cujo interesse de preservação é indiscutível, pois além do seu elevado valor estético e depurador, constituem ecossistemas estuarinos altamente produtivos que contribuem para a conservação da biodiversidade, demonstrando assim um imprescindível serviço prestado pelos ecossistemas.

Referências bibliográficas
ALMEIDA, W.O.; FERREIRA, F.S.; BRITO, S.V.; CHRISTOFFERSEN, M.L. (2006) Raillietiella  gigliolii (Pentastomida) infecting Amphisbaena alba (Squamata, Amphisbaenidae): the first record for northeast Brazil in Brazil Journal of Biology, vol.66, no.4
CAÇADOR, I (1994). Acumulação e retenção de metais pesados nos sapais do estuário do tejo. Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
CAÇADOR, I., VALE, C. e CATARINO, F. (1995). Composição e estrutura da vegetação dos sapais: sua importância na descontaminação dos ecossistemas estuarinos. Actas do Congresso Nacional de Convervação da Natureza, 41-46 Lisboa, 15-17 de Novembro.
CAÇADOR, I. (2010). Os sapais: um ecossistema interessante ao serviço do estuário. Instituto de Oceanografia.
CHAINHO, P. (2011). A importância dos sapais nos ecossistemas estuarinos. LPN. Disponível on line em http://www.setubalnarede.pt/content/index.php?action=articlesDetailFo&rec=15013. Consultado em 3/02/2013.
FILHO, H (2013). Cobre na Planta (in www.cicencialivre.pro.br) Universidade Estatual Paulista, Faculdade de Ciências Agronomicas – Departamento de Recursos Naturais Área de Ciência do Solo.
IMHOFF, M. L.; BOUNOUA, L.; RICKETTS, T.; LOUCKS, C.; HARRISS, R.; LAWRENCE, W. T. (2004) Global patterns in human consumption of net primary production. Nature, v. 429, p. 870-873.
MUCHA, A.P., ALMEIDA, C.M.R., BORDALO, A.A., VASCONCELOS, M.T.S.D. (2007). Salt marsh plants (Juncus maritimus and Scirpus maritimus) as sources of strong complexing ligands. Estuarine Coastal and Shelf Science. 1-9.
PAQUETE, R., SILVA, M.M. (2012). Serviços dos ecossistemas aquáticos em cidades costeiras. Jornadas LNEC, Cidades e Desenvolvimento. 18 – 20 de junho de 2012.
SOUSA, A.I., LILLEBO, A.I., CAÇADOR, I., PARDAL, M.A. (2008). Contribution of Spartina maritima to the reduce of eutrophication in estuarine systems. Environmental Pollution. 1-8.
SOUSA, A; LILLEBO, A; PARDAL, M; CAÇADOR, I (2011). Influence of multiple stressors on the auto-remediation processes occurring in salt marshes in Marine Pollution Bulletin (Elsevier Ltd.).

 

Ana Catarina Pauleta, Beatriz Chagas, Mariana Monteiro.

Colégio Valsassina

Agradecimentos

Este trabalho não teria sido possível de realizar sem a colaboração da professora Isabel Caçador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e da Dra. Maria Luísa Mateus da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.

Nota:

Este trabalho pretende comunicar parte dos resultados da investigação “Contributo para o estudo da Spartina marítima na despoluição dos solos do sapal do Tejo (Parque das Nações)” desenvolvida entre outubro de 2012 e abril de 2013 por Ana Catarina Pauleta, Beatriz Maria Chagas, Mariana Isabel Monteiro, alunos do 11º ano do Colégio Valsassina.

Este estudo contou com a colaboração da professora Isabel Caçador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e da Dra. Maria Luísa Mateus da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.

O relatório final pode ser disponibilizado se solicitado.

Ana Catarina Pauleta, Beatriz Chagas, Mariana Monteiro