A Cereja para lá da árvore

A Casa da Cereja, situada na belíssima paisagem da Cova da Beira, na aldeia Alcongosta, concelho do Fundão, tem, na sua essência, a valorização da Cereja do Fundão. Ponto de paragem obrigatória na Rota da Cereja, esta casa museu desvenda alguns dos segredos desta cultura centenária tão importante para sustentabilidade económica, social e ambiental da região.

A visita à Casa da Cereja, por estes dias de novembro, leva o viajante por caminhos e paisagens outonais com a sua paleta de cores quentes que a natureza lhe oferece.

A íngreme escadaria esculpida na serra da Gardunha, por mãos de gerações de trabalhadores da terra, poderia levar o viajante a situar-se na geografia do vale do Douro, não fosse o imponente e inconfundível perfil da Serra da Estrela. As baixas temperaturas do inverno, a boa qualidade do solo e a localização geográfica da serra da Gardunha são condições favoráveis para a produção de uma cereja de excelência.

No interior da Casa da Cereja, as carteiras da antiga escola primária, deram lugar à divulgação e promoção do “ouro vermelho” do Fundão. A madeira, presente na arquitetura interior, emana um aroma envolvente que seduz quem lá entra. Esta casa museu alberga o património histórico de uma produção sustentável e dinamizadora do tecido socioeconómico da região.

Os ancestrais instrumentos agrícolas associados à produção são visíveis em painéis interativos, vídeos e fotografias. Ao longo do percurso, o visitante vai conhecendo a utilidade dos cestos, escadotes, enxadas, forquilhas, tesouras da poda, serrotes, entre outros. O cultivo sustentável da cereja e a criação da marca Cereja do Fundão trouxeram a este produto um inegável valor acrescentado. A sua valorização está bem patente na essência da Casa da Cereja.

No que toca à sustentabilidade, destaca-se a preferência “pelo regime extensivo, em detrimento do intensivo, como forma de preservar os solos, conferindo à cereja características únicas”, diz Daniel Lopes, produtor de cereja e dinamizador da Casa da Cereja.

O Município e outras entidades apostaram “no sentido de valorizar a nossa cereja, como mais-valia no reconhecimento da nossa região”, o que levou à fixação de mais pessoas na região, à criação de mais emprego e com maior remuneração acrescenta Daniel Lopes. Assentando numa lógica de preço justo, “o preço que temos hoje para a venda da cereja é bastante atrativo”, afirma este produtor. Desta forma, é possível “pagar melhor às pessoas que estão a trabalhar connosco no campo”.

O “ouro” vermelho

Sendo um produto sazonal e dependente das condições meteorológicas, alguns produtores asseguram a sua subsistência através da diversificação das produções e da pluriatividade. Além disso, atualmente, a cereja prolonga-se para lá da sua época, em resultado do empreendedorismo da população e do incentivo do poder local. A exposição na Casa da Cereja, mostra ao visitante a enorme variedade de produtos que resultam da utilização deste fruto. Pastéis, licores, chás, compotas e doces, entre muitas outras iguarias, além de têxteis, potes, porta-chaves, sabonetes, podem ser apreciados e adquiridos.

Mostra de produtos locais

A cereja, enquanto produto, também promove o turismo e a gastronomia, como refere Daniel Lopes, conferindo um retorno económico a toda a região. À saída, o visitante tem a possibilidade de adquirir alguns dos produtos que a cereja proporciona, contribuindo para a economia local e a divulgação deste “ouro vermelho”.

Clélia Álvares, Conceição Marques, Maria José Monteiro , Odete Melo, Patrícia Adrahi