A mais famosa extinção em massa deu-se há cerca de 65 milhões de anos, sendo responsável pela morte de cerca de três quartos das espécies existentes e, em particular, pelo desaparecimento dos dinossauros. No entanto, esta não foi a única grande extinção em massa que ocorreu no planeta Terra. Na verdade, hoje, muitos cientistas acreditam que outra extinção internacional poderá estar em curso, desta feita, em resultado da sorte de um pequeno mas decisivo ser- a abelha. Será que esta teoria tem algum fundamento? Qual é o papel da abelha na dinâmica dos ecossistemas?
Que ser é este- a abelha?
A abelha é um inseto parente das abelhas e das formigas. Pertence à ordem Hymenoptera da superfamília Apoidea, subgrupo Anthophila. A abelha Apis melífera destaca-se como representante de todas as espécies oriundas do Velho Mundo.
As abelhas vivem em colmeias, sejam elas naturais ou artificiais. No seu interior, existe uma rainha, uma abelha adulta e fértil, mãe de todas as outras abelhas da colmeia. Entre estas, encontram-se cerca de 15000 abelhas obreiras, que usam cera para construir os favos (formados por células em forma de prisma hexagonal), onde armazenam mel e pólen para alimentar tanto as larvas como os insetos adultos; e cerca de 1500 zangões cuja principal função é fecundar a rainha. Cada abelha tem, em média, entre 28 a 48 dias de vida, com exceção da rainha, que pode ter até 5 anos de vida.
Qual é a importância das abelhas na manutenção dos Ecossistemas?
A vida das abelhas é crucial para o planeta e para o equilíbrio dos ecossistemas, já que, na busca do pólen, sua refeição, estes insetos polinizam plantações de frutas, legumes e grãos. Esta polinização é indispensável, pois é através dela que cerca de 80% das plantas se reproduzem. Como alertava Einstein “se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais, não haverá raça humana.”
Assim, as abelhas afetam a nossa vida diariamente sem que nós nos apercebamos disso. A nível alimentar, aproximadamente dois terços dos alimentos que ingerimos são produzidos com a ajuda da polinização das abelhas. Desta forma, o biólogo Jasen Brito sugere que todos os apicultores devem manter uma colmeia nas suas propriedades, para aumentar a produtividade das culturas tradicionais, como o milho e feijão, garantindo a produção de alimentos que dependem da polinização das abelhas. Este é o reconhecimento de que, sem as abelhas, a segurança alimentar da Humanidade estava ameaçada.
Assim, se justifica que, a nível de emprego, a apicultura envolva milhões de pessoas. Em Portugal, em 2010, existiam cerca de 17 mil apicultores, 38 mil apiários e 562 mil colmeias.
Razões para preocupação
A utilização excessiva de pesticidas ou agrotóxicos destinados a matar alguns animais que afetam a agricultura, tem vindo, igualmente, a matar abelhas. De forma semelhante, outros químicos, utilizados para promover um maior crescimento das plantas, prejudicam a polinização, colocando em risco o próprio ecossistema. Assim, por exemplo, o uso de Clothianidin, pesticida que causa a Colony Collapse Disorder, que consiste num envenenamento com uma neurotoxina para insetos, tem vindo a ser associada à morte maciça de abelhas em França e na Alemanha. O pólen é contaminado, em média, por nove pesticidas e fungicidas diferentes, mas os cientistas já chegaram a descobrir 21 agrotóxicos numa única amostra.
As ameaças sobre as abelhas incluem a própria apicultura, arte de criar abelhas e de aproveitar os seus produtos. O número de apicultores tem aumentado progressivamente, sendo que muitos desrespeitam as regras de distância de 800 metros entre apiários, levando as abelhas a entrar em competição e registando-se, também, muitas perdas devido à fome e má nutrição. Como adianta o nosso entrevistado Rui Andrade, “é preocupante”. A intensidade da apicultura conduz à produção de cerca de 20 kg por cada meia alça de um apiário, sendo que cada colemia pode ter até 7 meias alças, sinónimo de “lucro” para os apicultores.
Adicionalmente, têm vindo a ser introduzidas espécies invasoras, como as vespas asiáticas, que aniquilam por completo colemias inteiras. Acresce a multiplicação de doenças fatais que obrigam os apicultores a queimar toda a colmeia, como forma de evitar o contágio. Exemplos destas doenças são a Varroose, doença parasitária provocada pelo desenvolvimento e multiplicação do ácaro; a Varroa destructor ectoparasita que ataca muitos insetos de colmeias, essencialmente abelhas; e a peste americana, fungo que ataca as larvas, tornando-as numa “pasta com um cheiro nauseabundo”, segundo Rui Andrade.
Por último lembremos que, algumas espécies de abelhas, quando ameaçadas pelos humanos ou como a reação a cheiros fortes ou vibrações sonoras, defendem-se, utilizando o seu ferrão, e morrem.
O resultado destes comportamentos é inquietante. N Europa e América do Norte, entre 50% a 90% das populações de abelhas desapareceram. Nos E.UA, vários cientistas alertam para que as suas abelhas estão a morrer misteriosamente, facto que se designa por Síndrome do Colapso das Colónias. Estima-se que mais de 10 milhões das colmeias desapareceram em 6 anos. Portugal, ainda assim, é dos países menos atingidos, muito embora, entre 2004 e 2007 se estima que tenham morrido cerca de 3,5 milhões de abelhas no país.
Corrigindo o problema
Existem diversas medidas no sentido de impedir a progressão da extinção das abelhas. Algumas mais radicas, como estão a ser implementadas em Espanha, com o desenvolvimento das “superabelhas”. Outras poderão ser bastante custosas, no entanto esse custo é insignificante quando pensamos nos problemas que a extinção das abelhas pode trazer para todo o planeta e humanidade.
Entre estas medidas, destacam-se o desenvolvimento da agricultura biológica, o controlo das doenças das abelhas através do timol (tratamento bastante dispendioso) e a aposta no projeto europeu Bee Doc que pretende desenvolver novas ferramentas de diagnósticos e novas estratégias de prevenção de doenças nas abelhas, bem como criar novos tratamentos que envolvam menos terapia química, e consigam prevenir o Síndrome do Colapso.
A FNAP (federação nacional de apicultores) é uma instituição que existe em Portugal para promover a apicultura e desenvolver métodos para melhorar a vida das abelhas em Portugal. Existem, também outras instituições que têm os mesmos objetivos.
Conclusão
Em suma, podemos concluir que as abelhas assumem uma elevada importância na vida de todos os seres vivos do planeta, relativamente ao seu alimento. Assim, a sua extinção iria ter consequências trágicas, não só para a Humanidade, mas para a toda a população do Ecossistema Terra.
Autores: João Magalhães, Francisca Marques, Hugo Cruz e Simão Francisco
Externato das Escravas do Sagrado Coração de Jesus – Porto
Para obtermos repostas às nossas perguntas, questionamos o apicultor Rui Andrade e a Federação Nacional de Apicultores (deste último não obtivemos respostas) e consultamos as seguintes fontes:
Referências
“apicultura”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], http://www.priberam.pt/dlpo/apicultura [consultado em 12-03-2015].
http://www.dn.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1279318&seccao=Biosfera
http://mundoestranho.abril.com.br/materia/a-extincao-das-abelhas-pode-acabar-com-a-humanidade
http://www.dn.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1279318&seccao=Biosfera&page=2
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=3794346&page=1
http://www.dn.pt/revistas/nm/interior.aspx?content_id=3113210
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/interior.aspx?content_id=3794346
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