As notícias diárias, em todo o mundo, têm sido muito claras quanto à preocupação crescente relativamente à invasão dos microplásticos. Invasão? Sim! Já desde há muito que a poluição marinha é uma constante, principalmente no que diz respeito à poluição por plásticos. O que é certo é que ao longo do tempo esse plástico vai-se degradando, ou seja, vai-se transformando em microplásticos. Tão pequenos, que terminam no organismo de seres marinhos que os confundem com alimento.
Na verdade, o mal não termina aqui! Mal, porque o organismo dos seres marinhos é, obviamente afetado por estes plásticos minúsculos. O ciclo continua. O ser humano alimenta-se de peixe, moluscos, entre outras espécies marinhas. Assim, o ser humano acaba por ingerir o ser marinho que já contém na sua corrente sanguínea químicos decorrentes da ingestão de microplásticos. Desta forma, passa também o Homem a engrossar a sua corrente sanguínea, com químicos daí resultantes! Até que ponto fará mal? Será que a maioria das pessoas tem conhecimento disto? Consciência? Se não sabem, seriam capazes de fazer alguma coisa para mudar? Alterariam hábitos de consumo?
Um relatório divulgado pelo Fórum Económico Mundial refere que, se o nível de utilização dos plásticos a nível mundial se mantiver, em 2050 os oceanos vão ter mais plástico do que peixe, em peso.
“Os plásticos agregam mais de vinte famílias de polímeros entre as quais polietileno (PE), polipropileno (PP), policloreto de vinilo (PVC), poliuretano (PUR) poliestireno (PS) e poliamida (PA) que representam cerca de 90% do total da produção mundial. Para além do polímero principal, os plásticos contêm uma série de aditivos para melhorar as especificações do produto tais como: ductilidade, dureza, durabilidade ou resistência ao clima. Em relação a alguns destes aditivos especialmente certos plastificantes, existe suspeita de que sejam desreguladores endócrinos para animais e para os seres humanos.
Em menos de um século de existência os detritos de plástico já representam cerca de 60 a 80% do lixo marinho, dependendo da localização. Uma vez no ambiente, macro detritos sofrem degradação mecânica (erosão, abrasão), química (foto-oxidação, temperatura, corrosão) e biológica (degradação por micro-organismos). A fragmentação do plástico é considerado ser um processo infinito e que pode continuar até ao nível molecular podendo levar à formação contínua de micro plásticos a até nano partículas de plástico no ambiente.”
(Agência Portuguesa do Ambiente, 2019).
A poluição dos oceanos por estes fragmentos designados microplásticos, uma categoria ampla que inclui todas as partículas menores que 5mm, é extremamente preocupante devido à sua ubiquidade, persistência, e por serem um potencial vetor de exposição e transferência de compostos orgânicos persistentes de elevada toxicidade (Thompson et al. 2004).
Tem-se encontrado fragmentos de plástico em estômagos de várias espécies de aves e mamíferos marinhos e peixes e o que se tem verificado já em algumas espécies é a transferência de partículas plásticas do sistema digestivo para o circulatório, podendo haver danos em órgãos importantes.
O que é certo é que muitas destas espécies acabam por ser ingeridas pelos humanos e já há registos da presença de microplásticos no ser humano, fruto da cadeia alimentar.
É importante a sensibilização e a informação ao público de modo a que esta massificação de plásticos termine, a fim de que possamos recuperar os nossos oceanos e a nossa saúde.
Foi noticiado no jornal Público de 23 de outubro de 2018 que, resultante de um estudo, foram encontrados em fezes humanas detritos de até nove tipos diferentes de microplásticos. Foram encontradas até 20 partículas por 10 gramas de fezes. Um estudo preocupante que englobou participantes de 8 países.
A análise dos dados consistiu na triagem de 11 tipos de plásticos. “A triagem analítica identificou plásticos de poliestireno e poliuretano em duas de cinco amostras, enquanto nas restantes amostras ainda não foram obtidos resultados definitivos devido ao alto conteúdo residual de celulose e gordura mascarando a presença de microplástico.” Conclusão: “O aumento da poluição plástica pode causar contaminação plástica dos alimentos, que podem afetar o trato gastrointestinal. Pela primeira vez foi detetada a presença de micropartículas de poliestireno e poliuretano em amostras de fezes humanas”.
O que é o poliestireno?
O poliestireno é um homopolímero resultante da polimerização do monómero de estireno. Trata-se de uma resina do grupo dos termoplásticos, cuja característica reside na sua fácil flexibilidade ou moldabilidade sob a ação do calor, que a deixa em forma líquida ou pastosa. É a matéria-prima dos copos descartáveis, de várias peças de uso doméstico e de embalagens.
O que é o poliuretano?
O Poliuretano (denominado pela sigla PU) é um polímero que compreende uma cadeia de unidades orgânicas unidas por ligações uretânicas. É amplamente usado em espumas rígidas e flexíveis, em elastómeros duráveis e em adesivos de alto desempenho, em vedantes, em fibras, vedações, gaxetas, preservativos, carpetes, peças de plástico rígido e tintas.
O que é o polipropileno?
O polipropileno (PP) é um termoplástico semi-cristalino, de baixo custo e fácil de processar. É um material de uso comum, mas que é utilizado em muitas aplicações de engenharia. Isto deve-se à elevada versatilidade deste material, que pode ser ter propriedades muito diferentes. Esta gama alargada de propriedades e aplicações consegue-se através de métodos sofisticados de co-polimerização e de aditivação.
O que é o polietileno-tereftalato?
O Polietileno-tereftalato, ou PET, é um polímero termoplástico, formado pela reação entre o ácido tereftálico e o etileno glicol. Utiliza-se principalmente na forma de fibras para tecelagem e de embalagens para bebidas. Possui propriedades termoplásticas, isto é, pode ser reprocessado diversas vezes pelo mesmo ou por outro processo de transformação. Quando aquecidos a temperaturas adequadas, esse plástico amolece, funde e pode ser novamente moldado.
Entretanto, outros estudos apontam para a presença de microplásticos noutros locais e que acabam, por ser ingeridos pelo Homem. Um estudo publicado na revista Environmental Science and Technology refere que o sal é uma fonte incrível de microplásticos, sendo que uma pessoa pode ingerir cerca de 2 mil microplásticos por ano!
É urgente que as pessoas tomem conhecimento do perigo a que estão sujeitas em termos de saúde e é urgente que atitudes sejam tomadas, de modo a diminuir drasticamente o ‘consumo’ de plásticos.
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