A riqueza da tradição da apanha do “Cagão”

Nas margens lodosas de Esposende, a apanha de minhocas, conhecidas popularmente como "cagões" ou Arenicola marina, é uma prática que mistura tradição e subsistência. Este isco, essencial para a pesca local, é obtido através de um trabalho laborioso e meticuloso que reflete a ligação entre a população local e o estuário. A atividade, além de alimentar a pesca artesanal, preserva um saber antigo que continua a ter valor social e económico.

Esposende, com as suas paisagens estuarinas e lodosas, é palco de uma prática centenária: a apanha de minhocas para isco. É nas marés baixas que os “cagões”, como são chamados localmente, ficam vulneráveis às mãos que os apanham com um motivo segundo o coletor de Arenicola marina, “são considerados um dos melhores iscos para a pesca”. No entanto, encontrá-los à venda é raro, o que torna esta atividade particular para pescadores locais que preferem capturar o seu próprio isco, ou para o comercializar. Mais do que uma prática local, é uma atividade que requer cuidado e moderação sob pena deste animal se extinguir nesta região.

A apanhadora curvada sobre o lodo em busca do isco

A apanhadora curvada sobre o lodo em busca do isco

Esta prática requer bastante esforço físico e dedicação dos apanhadores, durante o curto período disponível até a maré voltar a água inundar aquela área. Equipados com botas altas e baldes, eles cavam o solo lodoso com ferramentas simples, como enxadas e ancinhos de dentes para esgravatar o lodo. O trabalho é árduo, mas recompensador. Um apanhador local, que não se quer identificar, refere que “é preciso paciência e força para encontrar os cagões”. No entanto, quem conhece bem os terrenos, sabe onde se encontram este anelídeo que, quando colocado no anzol, vai libertando um odor que, mesmo em águas escuras e barrentas, atrai o peixe para morder este isco.

Esta prática, nem sempre é uma questão de subsistência, carrega consigo um valor cultural significativo. Em Esposende e noutras áreas do norte de Portugal, muitos apanhadores aprendem a técnica desde cedo, perpetuando um conhecimento que conecta gerações. Além disso, o impacto económico é evidente: o “cagão” é um isco de excelência para a pesca local, sendo muito eficaz na captura de peixes. No entanto, há desafios associados à sustentabilidade desta prática. O equilíbrio entre a preservação ambiental e a continuidade da tradição é uma preocupação crescente na região.

Diogo martins